Testemunha também relata 'acordo de cavalheiros' para devolução de bolsas à coordenadoria de EaD.
O Jornal do Almoço teve acesso a parte do inquérito da Operação Ouvidos Moucos da Polícia Federal, que culminou na a prisão temporária de sete pessoas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) por suspeita de desvio de recurso do cursos de Educação a Distância (EaD) oferecidos pelo programa Universidade Aberta no Brasil (UAB).
As prisões ocorreram na quinta-feira (14) e a Justiça Federal revogou nesta sexta-feira (15) as prisões temporárias do reitor da universidade, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, e dos funcionários Marcos Baptista Lopez Dalmau, Gilberto de Oliveira Moritz, Roberto Moritz da Nova, Rogério da Silva Nunes, Eduardo Lobo e Marcio Santos.
Todos, com a exceção de Roberto Moritz, continuam afastados das funções públicas e impedidos de entrar na UFSC.
No inquérito, testemunhas denunciaram pagamento de "cestas natalinas" com valor do EaD, devolução de valores das bolsas para a coordenação dos cursos como um "acordo de cavalheiros", bem como o envolvimento do reitor na nomeação de professores que auxiliavam o esquema.
A NSC TV tentou contato com os citados nos trechos do inquérito exibidos neste sábado, sem sucesso até a publicação desta notícia.
Cesta natalina
A ex-coordenadora do Curso de Administração na modalidade à distância, Taísa Dias, foi uma das testemunhas no inquérito. Ela apresentou à PF um ofício de um dos coordenadores da área de ensino à distância, Rogério Nunes, mandando depositar R$ 500 reais nas contas de 14 pessoas.
O recursos são proveniente do EaD, a título de "cesta natalina", enquanto alguns professores tinham bolsas em atraso.
A mesma testemunha apresentou também um e-mail sugerindo que as irregularidades fossem investigadas.
'Acordo de cavalheiros'
Outra testemunha foi o professor Martin Petroll, do curso de Administração a Distância. Ele disse que Roberto Moritz, responsável pelo controle financeiro das bolsas, tinha pedido que ele devolvesse metade do valor de uma bolsa para a conta de Rogério Nunes. E que era isso era de praxe, um "acordo de cavalheiros".
Martin ainda gravou uma conversa com Roberto em que ele explicou: antigamente a gente pagava sempre via fundação, a FAPEU (Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária) , a FEPESE (Fundação de Pesquisas Sócioeconomicas), como hoje a gente não tem mais recurso (...) ao invés de pagar os R$ 600 (...) a gente paga meia bolsa, e o professor recebe e faz esse...esse trâmite.
Envolvimento do reitor
No inquérito, o reitor afastado é citado como a pessoa que nomeou os professores que mantiveram a política de desvios de verba e que tentou atrapalhar uma investigação interna da UFSC sobre o tema.
Segundo testemunhas, ele também teria pressionado para a saída da antiga coordenadora de um curso de educação.
O que dizem os citados
Foram presos temporariamente na quinta (14) e liberados na sexta (15) seguintes pessoas (segundo a PF, esses eram os cargos ocupados por elas no período investigado):
*Luis Carlos Cancellier de Olivo - reitor da UFSC
*Marcio Santos - coordenador curso EaD em Física
*Marcos Baptista Lopez Dalmau - secretário de Ead
*Rogério da Silva Nunes - coordenador do Núcleo UAB e previamente coordenador do EaD em Administração
*Gilberto de Oliveira Moritz - coordenador do LAB Gestão
*Eduardo Lobo - chefe do departamento de Ciências da Administração
*Roberto Moritz da Nova - Funcionário celetista da Fapeu
"Ele realmente não está envolvido em nenhum ato ilícito”, disse a advogada do reitor Cancellier, Nívea Dondoerfer Cademartori.
O advogado de Eduardo Lobo, Marlom Formigheri, afirmou que a defesa não vai se manifestar sobre o caso.
O advogado de Gilberto Moritz alegou à NSC TV que não existem provas de nenhum ato ilegal por parte dele.
A defesa de Marcio Santos também disse à NSC TV que não vai se manifestar.
O advogado de Marcos Baptista Lopez Dalmau, Adriano Tavares, afirmou que o cliente "refuta os fatos arguídos no decreto prisional, uma vez que estava há apenas cinco meses no cargo". A defesa também informou que Marcos prestou depoimento à PF nesta quinta.
O advogado de Roberto Moritz, Gabriel Alvarez, informou que teve acesso ao inquérito na noite de sexta-feira e disse que prestará todos os esclarecimentos nos autos e que, ao fim, ficará provada a inocência do cliente dele. Também destacou a "total legalidade" da decisão que soltou todos os detidos na operação da PF.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Rogério da Silva Nunes.
Fonte: G1