Os policiais federais aposentados Ovídio e Valdinho Rodrigues Chaveiro foram condenados nesta sexta-feira (31) a 11 anos e 9 meses de prisão cada um por enviar um pacote com bomba ao advogado Walmir Oliveira da Cunha, de 37, em Goiânia. O crime aconteceu após a vítima atuar em uma ação e foi desfavorável a um dos réus. Com explosão, Walmir perdeu três dedos da mão.
O G1 entrou em contato com o advogado de defesa dos réus, que são irmãos, por telefone às 18h, mas as ligações não foram atendidas.
Já a vítima comemorou o resultado. “Recebo essa sentença no mesmo horário aproximado que eu recebi a bomba. Então recebo como uma renovação da esperança. Que essa punição sirva de desestímulo para qualquer um que pense em cometer um atentado contra qualquer tipo de profissional”, disse.
Na sentença, o juiz Lourival Machado da Costa destacou que Valdinho premeditou o crime após “decisão judicial que determinou que a neta do réu ficaria sob a guarda do pai, sendo que este havia constituído a vítima como seu advogado”.
Diante disso, o réu “buscou causar sofrimento extremo para a vítima. A conduta foi praticada por vingança e com a certeza da impunidade”, segue argumentando o juiz na sentença.
O julgamento começou na manhã de quinta-feira (30) e só terminou por volta de 17h desta sexta.
O atentado aconteceu no dia 15 de julho de 2016, quando o Walmir recebeu um pacote de uma bebida em seu escritório, mas o conteúdo explodiu assim que foi aberto. Um segurança que trabalhava em um estabelecimento próximo ao local socorreu o advogado. A vítima perdeu três dedos e quebrou o pé por causa da explosão. Os acusados foram presos meses após o crime.
Walmir explicou que o crime ocorreu por conta de um processo no qual representou um homem no processo de guarda do filho e ganhou a causa. A criança é neta de Valdinho, que ficou insatisfeito e planejou a entrega da bomba, executada por seu irmão, Ovídio. O pacote foi entregue a um motoboy, o qual ficou comprovado agir sem saber do caso e, por isso, não foi responsabilizado.
O advogado conta que até hoje, dois anos após o crime, ainda faz sessões de fisioterapia. Ele diz que demorou a se readaptar, mas que em momento algum pensou em parar de seguir na profissão.
"Em 90 dia eu comecei a fazer a fisioterapia, mas só me readequei à minha nova condição uns seis meses depois. Foi quando voltei a caminhar, pois tive uma fratura no pé. Nesse período, contratei um digitador para fazer minhas petições. Não é só um crime contra um advogado, mas sim conta todo o estado democrático de direito", destaca.
O presidente da Comissão de Prerrogativas da OAB, Davi da Costa Júnior, viajou a Goiânia especialmente para acompanhar o julgamento.
"Acompanhamos o caso desde o dia do fato. O interesse da OAB é a elucidação para que outros casos não voltem a acontecer porque a advocacia não pode ser afrontada dessa forma", avalia.
Câmeras de segurança flagraram a movimentação de um homem que entregou o pacote para um motoboy, que o levou até o advogado. Segundo as investigações, o motoboy não tinha consciência do atentado e foi por meio do depoimento dele que a corporação chegou até o local e às imagens.
Através das gravações, a Polícia Civil chegou até os irmãos, que foram presos em dezembro de 2016. De acordo com as investigações, o crime foi cometido por vingança, já que o advogado ganhou uma ação que causou revolta nos investigados. Ovídio, então, entregou a bomba para que um motoboy levasse ao escritório da vítima.
Após a prisão dos suspeitos, a vítima falou sobre as ameaças que recebeu enquanto atuou na ação familiar. “Percebi que esse seria o desfecho quanto a autoria desse atentado, sobretudo diante da forma que essas partes [suspeitos] se comportaram durante a tramitação da ação, de maneira muito intimidadora, com ameaças veladas, com ameaças inclusive a autoridade judicial. Eles devem receber as punições previstas em lei, pois ali foi um crime hediondo”, disse Walmir.
A Polícia Civil divulgou laudos periciais que, segundo a corporação, comprovam que Ovídio foi o responsável por enviar a bomba ao advogado. O relatório foi feito com bases em imagens de câmeras de segurança que mostram um homem entregando o pacote ao motoboy. No entanto, a advogada de defesa do suspeito, Débora Rassi, contesta o laudo da polícia.
Fonte: G1