Um policial militar do Batalhão de Operações Especiais (Bope) sugeriu ao chefe do tráfico do Complexo da Serrinha, em Madureira, que matasse um major que combatia o crime na favela. Mensagens interceptadas pela Polícia Federal com autorização da Justiça entre 2014 e 2015 revelam que o PM tentou convencer Walace de Brito Trindade, o Lacoste — criminoso foragido com mandados de prisão por roubo, tráfico e homicídio — a forjar um assalto para executar um oficial do 9º BPM (Rocha Miranda) que chefiava, na ocasião, uma ocupação policial na Serrinha. O policial, que dava detalhes da rotina do Bope para o traficante e o alertava previamente sobre operações da unidade, até hoje não foi identificado.
Uma semana depois, o PM volta ao assunto: “Tem que ser longe daí”, escreveu, em 20 de novembro. “Glock com silenciador e carregador goiabada de 100 tiros pow vai brincar com ele. Esse cara tá com marra de brabo. Manda ele pro caralho”, completou, fazendo referência à arma que seria usada no crime. “Correto, vou ver. Tinha que arrumar uns caras pra fazer essa parada meu rei”, responde o traficante. “Não é difícil não”, finaliza o agente. Eles não voltam a falar sobre o assunto. O oficial alvo da dupla segue na PM.
Operações eram vazadas para criminoso
Em outros diálogos, o PM vazou operações do Bope que aconteceriam tanto na Serrinha quanto em outras favelas dominadas pela mesma facção. Entre os dias 24 e 25 de novembro de 2014, o agente avisou a Lacoste que o Bope iria ocupar a Vila Aliança, em Bangu, após o sequestro, tortura e execução do soldado Ryan Procópio Guimarães na favela. O PM era irmão de um tenente do Bope.
“Pow meu rei se liga tá rolando um papo que mataram o irmão de um oficial aqui do Bope. Vai tampar a Vila por tempo indeterminado até pegar o mano”, escreveu o policial. “O mano” citado pelo agente era Rafael Alves, o Peixe, então chefe do tráfico da Vila Aliança.
O PM até sugere ao criminoso que a facção tire Peixe da favela por conta das operações do Bope. “Tem que mandar o mano ir para bem longe porque vão fazer carga lá até pegar ele”.
Por volta das 6h do dia 25, o PM ainda avisa sobre uma ação do serviço reservado do batalhão. “Meu rei a brasa tá quente, não dá mole aí não. Fica ligado que a P2 do Bope tá indo para rua fazer operação”, escreveu o PM. Em outras mensagens, traficante e policial combinam data e local para a entrega da “meta” — expressão usada pela dupla se referir à propina.
As mensagens interceptadas originaram diversas investigações contra PMs e traficantes. A mais recente delas a chegar à Justiça é a que terminou com a denúncia de nove policiais do 9º BPM por corrupção.
Fonte: oglobo