'Franquia' de facção paulista tomou a Rocinha após morte no Paraguai

Considerada pela polícia como o principal ponto de venda de drogas da Zona Sul do Rio de Janeiro, a favela da Rocinha é controlada hoje pela maior facção criminosa paulista. A quadrilha fez uso de uma estratégia de obter "franqueados" fora de seu local de origem para se aliar a bandidos locais, segundo especialistas e autoridades da segurança.

O domínio da Rocinha por bandidos que passaram a trabalhar para a facção paulista foi noticiado em reportagem do jornal O Globo. Segundo o texto publicado na quinta-feira (15), o Ministério Público investiga a troca de comando na região.

Para chegar ao ponto inicial da tomada da favela da Rocinha pela principal facção criminosa de São Paulo, é preciso retroceder um pouco no tempo – ao primeiro semestre deste ano. Durante uma reunião com os dois maiores grupos criminosos do Rio e São Paulo, o pecuarista Jorge Rafaat – então um dos mais ativos traficantes do Paraguai e maior fornecedor de drogas e armas para as duas capitais brasileiras – decidiu aumentar o preço da maconha.

Os bandidos brasileiros não gostaram de ouvir a proposta e decidiram que ele deveria morrer, o que, de fato, aconteceria no dia 15 de junho. A partir daí, o grupo de São Paulo assumiu as principais rotas de fornecimento de drogas e armas para o Brasil. Foi quando os paulistas perceberam que a parceria de 10 anos com os bandidos cariocas não era mais necessária e que eles mesmos deveriam controlar as favelas do Rio de Janeiro.

No momento em que Rafaat foi morto – com mais de 100 tiros de metralhadora antiaérea calibre .50 nas ruas de Pedro Juan Cabellero, em um ataque empreendido por bandidos contratados pelas facções paulista e carioca –, uma nova estrutura de distribuição de drogas e armas se estabeleceu, controlada por inteiro pelo grupo criminoso de São Paulo.

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A Rocinha é considerada o maior ponto de venda de drogas da Zona Sul do Rio (Foto: Janaína Carvalho)

"O grupo de São Paulo é gerido como uma empresa. Eles enxergam as favelas do Rio como locais onde se pode estabelecer uma franquia. E, nesse sentido, utilizam táticas empresariais de tomada de mercado. Para se ter uma ideia, nos últimos meses eles promoveram uma oferta gigantesca de fuzis entre os bandidos cariocas, o que não é pouca coisa quando se considera que, no mercado negro, cada fuzil é vendido por um preço que varia entre R$ 30 mil e R$ 50 mil. Também propuseram uma série de vantagens no lucro da venda de drogas. Tudo para convencer traficantes cariocas a mudarem de lado. E estão conseguindo. Já há relatos de vários criminosos do Rio que abandonaram a quadrilha original e agora trabalham para os paulistas", disse o antropólogo e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Paulo Storani.

Para especialistas que estudam a violência no Rio, a chegada da facção paulista em território fluminense não poderia acontecer em pior hora – sobretudo pelas condições financeiras do Estado.

"Como se sabe, o Rio de Janeiro está quebrado. O projeto das Unidades de Polícia Pacificadora [UPPs] ficou deteriorado e precisa ser revisto com urgência, uma vez que o policial ficou sozinho dentro dele. O governo mal consegue ter dinheiro suficiente para pagar os salários dos agentes e manter a estrutura mais básica das polícias. E agora ainda temos que lidar com esse novo grupo criminoso aqui, que chega à cidade de forma muito organizada", explicou o especialista em Segurança Pública e presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança, Vinícius Cavalcante.

Um fato ocorrido há quase dois meses demonstrou que a união entre as duas facções, paulista e carioca, de fato deixou de existir. Em outubro, bandidos ligados ao grupo de São Paulo, mas detidos em unidades do Complexo de Gericinó onde também havia criminosos da quadrilha carioca, foram transferidos para outras prisões – existia um temor de possíveis confrontos dentro dos presídios. Em São Paulo, o movimento foi inverso: homens da facção carioca tiveram de ser transferidos de cadeias onde há predominância de traficantes do grupo paulista.

"A perspectiva não é boa. Ainda mais quando consideramos que não há sequer uma política efetiva de combate à entrada de drogas pelas fronteiras. É um negócio milionário e todo esse dinheiro está nas mãos desse grupo paulista. O fato é que, se os governos federal e estadual não tomarem medidas urgentes, a situação da Segurança Pública no Rio de Janeiro vai piorar bastante e em pouco tempo", finalizou Storani.

Fonte: http://g1.globo.com/