A facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) envia dinheiro de São Paulo para os outros estados do País, inclusive o Ceará, para ajudar nas despesas de membros, principalmente lideranças detidas em presídios federais, como o gasto com advogados; e para financiar crimes como o tráfico de drogas, compra ilegal de armas de fogo e homicídios. O valor é fruto de outros crimes, como o próprio tráfico de drogas, além de mensalidades pagas pelos integrantes e rifas.
A descoberta foi feita após a prisão de um homem responsável pela administração contábil da organização criminosa, em São Paulo, e pelo envio de dinheiro para os estados (chamados "terminais" pelo grupo), em 2017. O Ministério Público do Ceará (MPCE), através do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), deflagrou a Operação Fluxo de Caixa, ontem, para desarticular o repasse de verbas para o braço da facção que atua em território cearense.
Segundo o promotor de Justiça Adriano Saraiva, ao receber informações do Ministério Público de São Paulo (MPSP) e autorização da Justiça Estadual para a quebra do sigilo bancário, o Gaeco identificou pelo menos cinco contas bancárias que recebiam os repasses e quem eram os titulares.
"Em uma conta, uma mulher desempregada movimentou mais de R$ 40 mil em um ano. Em outra conta, uma técnica de alimentos, que ganha pouco mais de um salário mínimo, movimentou mais de R$ 150 mil, em pouco mais de um ano. É de se estranhar", pontua o investigador.
A Operação tinha o objetivo de cumprir cinco mandados de prisão preventiva, contra suspeitos de tráfico de drogas, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro. Os dois principais alvos eram mulheres, que recebiam os valores nas contas bancárias e terminaram presas. "Isso mostra, cada vez mais, o envolvimento das mulheres em funções importantes nas facções criminosas", analisa Saraiva.
Já a Operação Prisioneiras, também deflagrada pelo Gaeco ontem, visou um braço da organização criminosa Guardiões do Estado (GDE) que atua no bairro Vila Peri, em Fortaleza. O chefe da facção na região, que era o "Resumo da Disciplina", controlava o tráfico de drogas e ordenava assassinatos, foi preso. A mulher dele, que assumiu o posto do companheiro enquanto o mesmo estava no presídio, também foi detida.
A ofensiva policial tinha seis mandados de prisão preventiva a cumprir. E resultou de uma apreensão de aparelhos celulares no Instituto Penal Feminino Desembargadora Auri Moura Costa (IPF), ocorrida em 2017, e da extração de dados autorizada pela Justiça Estadual do Ceará.
Outras duas mulheres, que atuavam principalmente como "correria" (informantes) da facção, também foram alvos dos mandados de prisão. "Nós verificamos que aquele grupo de mulheres, que os celulares foram apreendidos, praticavam uma série de delitos, de tráfico de drogas, associação para o tráfico e até mesmo homicídios", afirma o promotor de Justiça e coordenador do Gaeco, Rinaldo Janja.
Os 11 mandados de prisão e os nove mandados de busca e apreensão, das duas operações, foram expedidos pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas do Estado do Ceará e, cumpridos pelo Departamento Técnico Operacional (DTO) da Polícia Civil do Ceará (PCCE) nos municípios de Fortaleza e Maracanaú, e pela Secretaria de Administração Penitenciária do Ceara (SAP) nas unidades prisionais José Sobreira de Amorim, CPPL II, IPPO II e Instituto Penal Feminino Auri Moura Costa.
"Todas essas operações que o Gaeco vem fazendo visam o combate ao crime organizado. Inclusive estamos atacando os braços financeiros dessas organizações criminosas. Não estamos mais nos limitando apenas às prisões. É uma resposta que o Ministério Público e os Órgãos de Segurança dão à sociedade. Essas operações também motivam a população a fazer as denúncias anônimas", resume o promotor de Justiça Adriano Saraiva.
Fonte: DIARIODONORDESTE.COM.BR
O Estado paraguaio toma posse nesta quarta-feira (12) de cinco propriedades rurais pertencentes ao narcotraficante brasileiro Luiz Carlos da Rocha, o “Cabeça Branca”. As fazendas ficam perto da fronteira com Mato Grosso do Sul, onde o bandido nascido no Paraná atuou por vários anos.
Antigo sócio de Jorge Rafaat Toumani, executado em junho de 2016, Luiz Carlos da Rocha também usava “laranjas” residentes em Mato Grosso do Sul para lavar dinheiro do tráfico de cocaína.
Considerado um dos maiores traficantes de cocaína da América do Sul e fornecedor de droga para as principais facções brasileiras, em 2013 ele foi condenado a 34 anos de prisão em Mato Grosso do Sul. Na mesma sentença foram condenados os irmãos Jorge e Joseph Rafaat, a 47 e 15 anos de prisão, respectivamente.
De acordo com a imprensa paraguaia, as cinco fazendas confiscadas hoje estão avaliadas em pelo menos 19 milhões de dólares.
No distrito de Yby Yaú, a 100 km de Ponta Porã (MS), foram confiscadas duas propriedades: Guatambú, de 4.607 hectares, e Estância dos Hermanos, de 77 hectares. Em Paso Barreto, na mesma região, foi confiscada a fazenda Cielo Azul, de 5.945 hectares.
Em Azotey, no departamento de Concepción, a 140 km de Mato Grosso do Sul, o governo paraguaio se apropriou da Estância La Nelly, de 1.000 hectares. A quinta propriedade, a Estância Gua’a, de 862 hectares, fica na região de Bella Vista Norte, cidade vizinha de Bela Vista (MS).
Com mais essas, chegam a oito as propriedades de Luiz Carlos da Rocha confiscadas no Paraguai em pouco mais de um ano. Em abril do ano passado, já tinham sido incluídas no patrimônio do governo as fazendas Edwiges, La Suiza e Lucipar, localizadas nos departamentos (estados) de San Pedro e Concepción.
As propriedades agora são administradas pela Senabico, órgão federal paraguaio que cuida de bens confiscados. “Cabeça Branca” cumpre pena no Presídio Federal de Catanduvas (PR).
A Polícia Federal apreendeu 23 aeronaves de pequeno porte nesta quinta-feira (06) em Ponta Porã (MS), na região de fronteira com o Paraguai, que eram utilizados para o tráfico de drogas. Além disso, três imóveis rurais e um apartamento de luxo, todos localizados no estado de Goiás e avaliados em R$ 40 milhões, foram apreendidos durante a Operação Cavok.
Cerca de cento e dez policiais federais participaram da operação com o objetivo de desarticular economicamente uma organização criminosa dedicada ao tráfico internacional de drogas e que atua na fronteira entre Brasil e Paraguai. A ação contou com o apoio do SAEG - Serviço Aéreo do Estado de Goiás, da Polícia Militar de Goiá e da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (DECO) da Polícia Civil do Mato Grosso do Sul.
Vinte e um mandados de busca e apreensão e dois de prisão preventiva foram cumpridos durante a operação, um em Goiânia e um em Ponta Porã, onde ainda foi efetuada uma prisão em flagrante por posse de arma.
Os mandados foram expedidos pela 1ᵃ Vara Federal de Ponta Porã/MS. Durante as investigações, uma aeronave que transportava cerca de 130 quilos de cocaína foi interceptada pela Polícia Nacional Paraguai, em novembro de 2019, a 45 quilômetros da cidade de Pedro Juan Caballero, na região rural conhecida como Fortuna Guazú. Na oportunidade, o investigado que pilotava a aeronave utilizada no transporte da droga conseguiu fugir da ação policial.
A investigação também contou com a colaboração do Centro Integrado de Operações de Fronteira de Foz do Iguaçu, da Receita Federal do Brasil, por meio do Núcleo de Pesquisa e Investigação de Campo Grande/MS, e da ANAC, além da Polícia Nacional Paraguaia e do Ministério Público do Paraguai.
Os investigados poderão ser indiciados pela prática dos crimes de organização criminosa, tráfico internacional de drogas, associação para o tráfico e falsidade ideológica, cujas penas somadas podem ultrapassar 40 anos de reclusão.
A sigla CAVOK (Ceiling and Visibility OK) é utilizada no meio aeronáutico para definir situação em que há boas condições de teto e visibilidade, ou seja boas condições de voo.
Fonte: CATVE.COM
Um juiz de Pernambuco teve de dar explicações após determinar que um homem detido em Caruaru fosse liberado e a polícia devolvesse a ele a droga apreendida em sua posse.
Em um segundo despacho, o magistrado afirmou que houve erro de digitação na primeira decisão e orientou que a droga não fosse devolvida ao suspeito.
Segundo o TJPE (Tribunal de Justiça de Pernambuco), o juiz Pierre Souto Maior Coutinho Amorim cometeu um equívoco ao digitar a decisão que apreciou a prisão em flagrante de Jarlan da Silva Santos, na terça-feira (28), em audiência realizada no 6º Polo de Audiências de Custódia.
O rapaz foi liberado porque o juiz considerou a prisão em flagrante ilegal, tendo sido determinada a devolução de seus bens. No entanto, ao fazer essa ressalva na decisão, o magistrado escreveu que deveria ser devolvido ao preso "mesmo o entorpecente".
Em um novo ofício, com data de hoje, o magistrado explicou o erro, e corrigiu sua decisão anterior, dizendo que a droga não deveria ser devolvida por "ser de notório conhecimento tratar-se de substância de uso proscrito".
O TJ informou ainda que, apesar do erro do juiz, o "entorpecente não foi devolvido ao preso".
Fonte: UOL.COM.BR
É muito difícil que exista um "El Chapo" Guzmán americano.
Não porque milhões de dólares não sejam movimentados e não haja traficantes de drogas naquele país — o maior usuário de cocaína do mundo —, mas pela maneira como o tráfico de drogas é organizado nos Estados Unidos. Não parece haver ali ninguém como o mexicano que ficou conhecido como um dos maiores narcotraficantes do mundo na história recente.
Essa é a avaliação de especialistas, e até a DEA (Drug Enforcement Administration, o órgão americano de controle de narcóticos) reconhece a presença de máfias locais.
Desde meados do século passado, sabe-se de chefões do tráfico nacionais nos Estados Unidos, mas a probabilidade de um deles simultaneamente produzir, mover, distribuir e comercializar substâncias ilícitas é muito baixa.
Em termos gerais, contudo, ainda há ignorância sobre os protagonistas e a operação do tráfico no país.
Os narcotraficantes e organizações que fazem parte do primeiro nível de tráfico nos Estados Unidos são aqueles que possuem uma certa capacidade de pagar por uma carga que acaba de chegar do México.
Através deles, cocaína e drogas sintéticas começam a viajar para os diferentes mercados existentes no vasto território americano.
"Essas organizações compram remessas de drogas a granel dos mexicanos, mas não é que os mexicanos não tenham capacidade de distribuição. Eles não estão interessados", explica Jesús Esquivel, autor do livro Los narcos gringos (Os narcotraficantes gringos, de 2016) à BBC News Mundo, serviço em língua espanhola da BBC.
O pesquisador argumenta que os cartéis latino-americanos sabem que são menos vulneráveis ??à captura ou ao confisco de cargas usando intermediários locais "que podem facilmente disseminar na sociedade americana sem atrair a atenção".
Esquivel ressalta que as organizações mexicanas não têm um "escritório em Miami", mas, sim, representantes.
Questionado sobre o motivo pelo qual as agências de segurança dos EUA frequentemente anunciam a prisão de cidadãos do México e de outros países por transportar substâncias controladas, o jornalista observou que há muito mais casos de americanos, mas eles não recebem atenção da mídia porque eles não estão ligados a atos violentos.
O pesquisador do narcotráfico Hernando Zuleta ressalta que uma das razões pelas quais as organizações americanas e seus líderes são pouco conhecidos é sua maneira de agir.
"No microtráfico, as gangues dos Estados Unidos e de diferentes países da América Central têm muita presença, mas não recebem a maior parte do bolo. Então todo mundo pergunta quem são os líderes gringos, porque deve haver", diz ele à BBC News Mundo.
O professor universitário explica que os "chefes de distribuição no interior dos Estados Unidos", até onde se sabe, têm um perfil muito diferente da imagem instalada do narcotraficante latino-americano, e que eles conseguiram exportar esse modelo.
Ele cita como exemplo que investigações recentes mostram uma nova onda de traficantes de drogas colombianos que "se misturam à classe média alta" de seu país.
"Esse fenômeno me parece plausível e acho que é uma estratégia não estar no radar, como é o caso nos Estados Unidos", conclui.
A esse respeito, Jesús Esquivel indica que "não é o mesmo ser um traficante de drogas em Manhattan do que um de um bairro pobre de Houston (Texas)" e é por isso que você precisa se adaptar ao ambiente.
"Não é que eles estejam atrás de um escritório ou estabelecidos, observando o movimento de narcóticos, mas estão ligados aos lugares onde estão", explica ele.
Esquivel acrescenta que é por isso que eles não são ostensivos e optam pelo perfil discreto, não podem atrair atenção porque há muito controle e, se um deles for detectado, sofrerá sanções e perda de dinheiro.
"Eles agem com muito cuidado, porque nos Estados Unidos existem diferentes instituições policiais, além de agências federais."
Como assinalado, o primeiro elo da cadeia é o comprador atacadista que compra substâncias controladas que chegam da América Latina, Ásia e outras partes do mundo.
A partir daí, uma rede de grupos e prestadores de serviços continua, estendendo-se aos mercados nos mais de 9 milhões de quilômetros quadrados que os EUA possuem.
As estimativas mais conservadoras sustentam que a cocaína por si só movimenta mais de US$ 100 bilhões naquele país.
Outras substâncias consumidas no país são maconha (legal sob diferentes modalidades em alguns estados), metanfetaminas, heroína e fentanil (opioide para dor), cujos níveis de mortalidade alarmaram os Estados Unidos.
Jesús Esquivel ressalta que, entre os compradores em massa, existem clubes de motoqueiros que têm ramificações em muitas cidades e, portanto, são difíceis de detectar.
"Um cartel move toneladas de cocaína, mas ao entrar nos Estados Unidos, milhares de americanos são responsáveis pela distribuição dessas toneladas em partes cada vez menores. É como uma teia de aranha, é por isso que é tão complicado", diz ele.
O pesquisador dá como exemplo dessa dificuldade a transferência das substâncias químicas que chegam da China para os Estados Unidos.
"A droga passa por diferentes estágios até chegar ao mercado que a demanda. A distância para a demanda por drogas não existe", conclui.
Por seu lado, o professor Zuleta ressalta que é nesse ponto que as gangues entram em ação.
"Existem hierarquias específicas e elas não são homogêneas, é claro, mas obviamente elas têm capacidade econômica, capacidade de corrupção e suborno", diz ele.
O pesquisador acrescenta que, a partir daí, são contratados distribuidores de varejo, transportadores para atingir consumidores (que nos Estados Unidos são mais de 4 milhões).
O DEA, em seu relatório anual de 2019 "Avaliação Nacional de Ameaças às Drogas", reconhece a existência de grupos "criminosos e gangues locais" vinculados ao negócio de drogas.
"Eles colaboram diretamente com grupos criminosos e gangues locais nos Estados Unidos para distribuir e transportar drogas no varejo", observa o relatório.
Portanto, especialistas apontam que a entidade dá muito mais destaque aos membros mexicanos das organizações criminosas transnacionais presentes em seu país e minimiza suas máfias locais.
Por exemplo, a agência anunciou em abril deste ano que detectou um "túnel sofisticado" que partia da fronteira mexicana e chegava à área de San Diego, no sudeste dos EUA.
Sua peculiaridade é que foi a primeira vez que a carga apreendida incluiu vários tipos diferentes de drogas: cocaína, heroína, maconha e fentanil no valor total de US$ 29 milhões.
Outra descoberta recentemente anunciada pela agência dos EUA é que ela teria identificado "oito grandes centros de transporte de metanfetamina", a maioria deles no sul dos EUA.
A peculiaridade é que, em ambos os casos, o DEA atribuiu praticamente toda a responsabilidade aos grupos de drogas mexicanos, apontando que eles operam em "várias células às quais são atribuídas funções específicas, como a distribuição ou transporte de drogas, consolidação de sua entrada ou lavagem de dinheiro".
"As operações mexicanas nos Estados Unidos geralmente funcionam como uma cadeia de suprimentos: os operadores da cadeia conhecem seu papel específico, mas desconhecem outros aspectos de uma operação", afirma a agência.
Sobre o assunto, Falko Ernst, um dos principais pesquisadores do centro de estudos International Crisis Group, que faz análises sobre conflitos no mundo, rejeita que sejam os mexicanos que controlam todos os elos da cadeia até chegarem ao comprador final.
Assim como Zuleta e Esquivel, o especialista destaca o papel de gangues, máfias locais e clubes de motoqueiros dentro do sistema de distribuição.
Segundo Ernst, o que existe é um "modelo misto", no qual há participação mexicana nos diferentes níveis de hierarquia e protagonismo em diferentes estágios e lugares.
Ele explica que a presença de representantes de organizações criminosas mexicanas nos Estados Unidos não se limita apenas ao envio de representantes, mas que nada se sabe sobre nenhum dos verdadeiros capos que operam daquele lado da fronteira.
Fonte: NOTICIAS.UOL.COM.BR