‘Carcereiros’ dá voz a personagem esquecido dos presídios, com ‘herói do cotidiano’

carcereirosSerá que finalmente a maior rede de televisão do país irá mostrar a nossa classe de uma forma positiva, se sim, depois de assistir devemos parabenizar o trabalho do Dr. Drauzio, que é quem escreveu o livro que iniciou essa história que virou Série da maior TV do país.
Vamos aguardar e ver a repercussão, se será positiva ou mais uma vez negativa nos taxando de corruptos e torturadores.
Veja que o Dr. Drauzio ja nos elogiou em 2013 no programa Roda Viva.
http://jenisandrade.blogspot.com.br/2013/01/depois-de-muitas-falas-fora-de-contexto.html
Fonte da matéria abaixo:
G1
‘Carcereiros’ dá voz a personagem esquecido dos presídios, com ‘herói do cotidiano’
Série com Rodrigo Lombardi, que chega nesta quinta ao Globo Play, mescla ficção e relatos de agentes que estão entre presos e polícia. Para diretor José Eduardo Belmonte, trama pode ajudar a 'pensar sociedade de forma mais horizontal'.
Por Carol Prado, G1
08/06/2017 07h14 Atualizado há 1 hora
Entre presos e policiais, há um personagem cuja voz ecoa bem menos pelas cadeias do Brasil - e principalmente fora delas. Os agentes penitenciários, muitas vezes esquecidos nas discussões sobre o sistema prisional, guiam a trama de “Carcereiros”, série que chega nesta quinta-feira (8) ao Globo Play, plataforma digital de vídeos da Globo.
A trama em 12 episódios - todos disponibilizados de uma vez na internet - acompanha o dia a dia de Adriano (Rodrigo Lombardi), agente que vive entre as grades e a liberdade. Ele precisa lidar com os riscos da profissão e, ao mesmo tempo, com as cobranças da mulher, Janaína (Mariana Nunes), a adolescência da filha, Lívia (Giovanna Ríspoli), e a relação com o pai, Tibério (Othon Bastos).
O G1 conversou sobre a criação da série com o diretor José Eduardo Belmonte, os autores Marçal Aquino, Dennison Ramalho e Fernando Bonassi, e o médico e escritor Drauzio Varella, responsável pelo livro na qual a história é livremente inspirada. Para Belmonte, o protagonista pode ser comparado a qualquer brasileiro, "sempre resolvendo problemas”. Ele explica:

“Como ele, o brasileiro médio vive sob pressão, desde quando sai para o trabalho. É uma hora de trânsito, transporte superlotado, tem que cuidar da família e não deixar o dinheiro faltar. Digo que ele é o herói do cotidiano.”
E Adriano é um herói clássico: determinado, íntegro e avesso à violência - seu superpoder é a palavra, define o diretor. Mas sua moral é desafiada todos os dias em um universo cheio de conflitos. “Não tem como ser impoluto em um ambiente desses, em que toda hora você se depara com dilemas éticos. A ideia é que ele vá sendo contaminado, mas ainda tente manter sua integridade. Ele parte do princípio, que é muito contemporâneo, de fazer a sua parte.”
Histórias do cárcere
“Carcereiros”, livro de Drauzio Varella lançado em 2012, tem histórias reais de agentes penitenciários no extinto Carandiru e serviu de base para a criação do enredo. Para o autor, se fossem mais ouvidos, os agentes penitenciários poderiam ajudar a melhorar o sistema prisional:
"Eles têm uma experiência muito grande porque vivem dentro da cadeia. Acho que as pessoas só entendem esse mundo quando têm proximidade com ele. É difícil saber como tudo acontece, como as quadrilhas se organizam, sem estar perto."
“Sem o livro não teríamos chegado à série”, diz Aquino. "O que o Drauzio trouxe é um lugar intermediário, que não é nem o crime nem o estado. É o lugar ocupado pelo carcereiro, que sobrevive tentando manter os outros dois fora do conflito."
O médico também abriu, para os autores da série, as portas de reuniões que mantém com atuais e ex-carcereiros para relembrar as histórias do cárcere. As memórias de profissionais reais também aparecem nos episódios, que misturam dramaturgia com relatos documentais. “Não temos mais ilusões. A realidade sempre vai superar a ficção. Por mais que você carregue nas tintas, vem a realidade e atualiza isso”, avalia Aquino. Ele conclui:
“Há [na série] uma potência do real por trás da ficção que estabelece um produto com um grau de força muito grande.”
Também real é o contexto histórico por trás da trama. "O sistema penitenciário mudou desde a época do Carandiru. Diante de episódios como a megarrebelião de 2001, o Salve Geral em 2006 e com o novo desenho do sistema, foi obrigatório tocar no assunto das facções, de como a cadeia se reorganizou e como o agente penitenciário lida com essas mudanças", explica Ramalho.
Primeiro na internet
Apesar do pano de fundo, Adriano é, na ficção, um carcereiro em um tempo e lugar imaginários. A série tem um arco central - focado na trajetória do protagonista e de sua família -, mas situações isoladas que se desenvolvem ao longo de um episódio. Dessa forma, é possível entender um capítulo sem necessariamente assistir ao anterior.
Um presídio real em construção em Votorantim, no interior de São Paulo, foi usado como locação, e cerca de 140 atores se revezam entre os episódios - sem contar o núcleo principal de personagens fixos. À TV, “Carcereiros” deve chegar em 2018. Segundo Belmonte, a estreia primeiro na internet não alterou o tratamento da série. "Me preocupei em fazer uma série que fosse orgânica, interessante e que tivesse força. Não pensei se ia para a internet ou a TV, também porque acho que hoje essa distinção não existe tanto". Ele acrescenta:
"Você tem que estar preparado para uma história que seja potente e universal, seja no celular, na TV ou no cinema. Tem que ter bons personagens e um bom conflito bem narrado. Isso foi o que me preocupou."
Para o diretor, a série pode "preparar o terreno" para um debate sobre o sistema prisional. "Temos um ranço autoritário porque a maioria do século 20 foi sob ditaduras, e esse processo democrático é novo para nós. Nesse sentido, é importante jogar luz sobre personagens que precisam ser ouvidos para começar a pensar a sociedade de uma forma mais horizontal."
Premiada em abril na MIPDrama Screenings, evento de abertura da MIPTV, uma das principais feiras do mercado de televisão do mundo que acontece em Cannes, na França, "Carcereiros" deverá ser renovada para uma segunda temporada - segundo Aquino, a equipe está desenvolvendo a próxima sinopse. O projeto também dará origem a um documentário em longa-metragem, que chegará aos cinemas depois de a série ir ao ar na TV.