Bruno Paes Manso, Camila Nunes Dias e José Vicente da Silva Filho participaram do 'Conversa com Bial'
Segundo o Atlas da Violência 2018 divulgado em junho, São Paulo tem a menor taxa de homicídios por 100 mil habitantes no país, 10,9. No Conversa com Bial desta quinta-feira, 23/8, o jornalista Bruno Paes Manso, a socióloga Camila Nunes Dias e o coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo José Vicente da Silva Filho promoveram um debate sobre quem seria o responsável por esse índice.
Autores do livro "A Guerra – A Ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil", Bruno e Camila afirmaram que a maior facção criminosa do país tem um papel relevante nessa queda. Já o ex-secretário nacional de Segurança Pública discorda. Para José Vicente, a redução dessa taxa se deve a um trabalho de inteligência da polícia, graças ao investimento tecnológico feito na corporação nas últimas duas décadas.
"Não tem sentido. Quando o crime aumenta é culpa da polícia e quando cai o mérito é dos bandidos? (...) O fator decisivo foi o mapeamento criminal e a ação da polícia em locais de maior incidência", explicou o coronel.
"É difícil para alguém da polícia ou do governo reconhecer a importância muito grande da facção na redução de homicídios em São Paulo. Porque é uma questão política muito sensível. A gente nunca conseguiu lidar com isso de uma maneira transparente e clara em termos oficiais", rebateu Camila.
"Quando se fala a respeito do papel da facção na redução de homicídios parece que a gente está fazendo uma espécie de apologia. Mas o que a gente tenta mostrar é que eles estão trabalhando com isso para ganhar mais dinheiro no crime. Se a gente fecha os olhos, não consegue entender a complexidade do problema. Não se trata de uma gangue pacificadora", ponderou Bruno.
O coronel da reserva da PM negou que exista alguma área controlada pela maior facção criminosa do Brasil em São Paulo:
"Existem áreas em que eles estão mais presentes. O secretário da Administração Penitenciária de São Paulo, Lourival Gomes, disse que há dez anos não tem uma unidade prisional controlada por bando nenhum", afirmou José Vicente.
"O que eu vejo é sempre a tentativa de minimizar e negar a existência da facção. É difícil encontrar saídas quando você não reconhece o problema", lamentou Camila.
O ex-secretário nacional de Segurança Pública afirmou que a PM de São Paulo é uma das melhores do mundo e que esse modelo deveria servir de exemplo para o resto do país. Ele reconheceu, contudo, que uma das saídas para conter o tráfico de drogas e o crime organizado seria uma maior integração das polícias:
"A Polícia Federal faz um trabalho pontual, mas não se entende com as autoridades locais. Isso precisaria de uma coordenação. Não há um remédio mágico, a não ser uma grande gestão dos processos de inteligência".
Para Bruno, as autoridades precisam encontrar uma forma de fragilizar financeiramente as organizações criminosas e prender os grandes nomes ligados ao tráfico, enquanto a regulamentação das drogas continuar no papel:
"Esse trabalho de investigação não é feito e a facção se fortaleceu nesses erros. Eles crescem nas brechas do Estado. Eles são efeito colateral dos erros da política de Segurança Pública que a gente não percebe".
"Nosso argumento é que esse processo de guerra cotidiana e prisões em flagrantes em detrimento da investigação de como funciona [o crime organizado] só enche as prisões e fortalece as lideranças prisionais. Você prende somente o pequeno criminoso".
O Conversa com Bial tem direção artística de Monica Almeida e direção de conteúdo de Ingo Ostrovsky.
