Palco de história e mistérios, Presídio do Ahú se despede de Curitiba

ahuPresente no imaginário dos curitibanos por meio de lendas e histórias passadas de geração em geração, o Presídio do Ahú encerra sua presença em Curitiba com marcas em suas paredes e em vidas que ali foram confinadas. O local será demolido para a construção do novo prédio do Fórum Criminal e Fórum dos Juizados Especiais do Centro Judiciário, e hoje (21) é o último dia de visitas ao antigo presídio.

Duas horas dentro do Ahú foram suficientes para descrever o local: “ambiente de guerra”. Essa foi a sensação que o repórter fotográfico Leandro Schugan teve ao passar pelas galerias e observar as marcas presentes no presídio. Os objetos ali deixados, as pinturas feitas pelos antigos detentos e até mesmo as rupturas estruturais levaram o fotógrafo a pensar sobre a história das pessoas que um dia passaram por ali. “Pensei o que o cara fez para estar ali, qual a história dele. Em um dos locais havia uma caneca e eu fiquei pensando quem deixou o objeto ali”, disse.

Outra marca do ambiente é o clima pesado que ainda existe, descrito por Schugan como se o “crime ainda estivesse no ar”. Ele contou ao portalMassa Newsque passar em cada galeria é semelhante ao sentir o que cada prisioneiro sentiu. “Entrei leve e saí pesado, o ambiente é fúnebre”.

Intervenção dos detentos

Andando pelos corredores escuros do Presídio do Ahú é possível notar os inúmeros problemas que atingem a estrutura abandonada. Goteiras, tacos soltos e um forte cheiro de bolor ajudam a construir o ambiente ‘macabro’ descrito por Schugan. Entre os detalhes percebidos estão as plaquinhas feitas pelos próprios detentos, indicando salas específicas do local, como a ‘sala de capoeira’ e até mesmo o ‘motel’.

Outra intervenção que chamou a atenção do fotógrafo são as pinturas feitas nas paredes, que remetem à liberdade. “Em uma das celas foi pintada um par de asas em volta da janela, inclusive com as penas coladas, fazendo referência ao Sonho de Ícaro. É simplesmente incrível”.

História

Originalmente chamado de Prisão Provisória de Curitiba, o prédio histórico leva em sua estrutura 113 anos de marcas, histórias e acontecimentos da cidade e do país. Desativado desde 2006, o presídio foi o primeiro na capital e chegou a abrigar 900 pessoas em suas celas, entre presos comuns e políticos.

Em seu subsolo, cinco solitárias localizadas dentro de um calabouço guardam o sofrimento de muitos detentos que ali passaram. Utilizadas principalmente quando o regime militar estava em vigor, cada solitária possui um metro de largura, por 1,70 m de altura e 1,80 m de comprimento, que foram atingidas pelo tempo e por infiltrações.

O presídio, cenário de estórias sobre espíritos e prédios mal-assombrados, foi inaugurado em 1903 como o Hospício Nossa Senhora da Luz, que funcionou por quatro anos. Em 1908 tornou-se a Prisão Provisória de Curitiba, funcionando até 2006.

Colaboração Louise Fiala