Advogado ferido por bomba diz que recebia ameaças de policiais presos

Dois agentes da PF aposentados são apontados como autores, em Goiás.
Motivação seria ação familiar envolvendo neta de um suspeito, diz vítima.

bombaO advogado Walmir Oliveira da Cunha, de 37 anos, que perdeu três dedos ao receber uma bomba que explodiu em seu escritório, em julho deste ano, em Goiânia, falou sobre a prisão de dois policiais federais aposentados, apontados como os autores do atentado. Segundo ele, a motivação foi uma ação familiar envolvendo a guarda da neta de um dos suspeitos.

“Percebi que esse seria o desfecho quanto a autoria desse atentado, sobretudo diante da forma que essas partes [suspeitos] se comportaram durante a tramitação da ação, de maneira muito intimidadora, com ameaças veladas, com ameaças inclusive a autoridade judicial. Eles devem receber as punições previstas em lei, pois ali foi um crime hediondo”, disse.

Apesar das ameaças, o advogado destacou que nunca imaginou que elas seriam concretizadas. "Eu acreditava ser um homem sem inimigos. Imaginava que, pelo exercício da profissão, as pessoas entendessem que ali está atuando um profissional, que não tem envolvimento com as questões litigiosas", ressaltou Walmir.

Os suspeitos, os policiais federais aposentados Ovídio e Valdinho Rodrigues Chaveiro, que são irmãos, foram presos pela Polícia Civil na terça-feira (27). Segundo a corporação, além dos dois mandados de prisão temporária contra eles, também foram cumpridos sete de busca e apreensão e três de condução coercitiva.

O delegado Valdemir Pereira da Silva, responsável pelo caso na Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), também afirmou que a suspeita é que o crime tenha sido motivado por uma ação familiar ganha pelo advogado. 

"Neste momento a polícia está analisando todos os objetos apreendidos e posteriormente falará mais sobre os fatos. Queremos deixar claro que recebemos o apoio da Polícia Federal nesta ação e do Instituto de Criminalística", disse o delegado.

As defesas dos suspeitos detidos ainda não foram localizadas para comentar o caso. Eles devem permanecer na carceragem da Polícia Federal na capital por 30 dias.

Já a Superintendência Regional da Polícia Federal em Goiás informou, em nota, que a corporação “participou dos cumprimentos dos mandados de prisão”, “repudia o ato e reafirma seu comprometimento no combate à criminalidade em todas as suas vertentes, em respeito ao Estado Democrático de Direito”.

Walmir pediu a devida punição dos responsáveis pelo atentado. "Não houve respeito a minha vida em primeiro lugar, não houve respeito a vida dos demais funcionários que estavam trabalhando no meu escritório naquele momento e não houve respeito a dignidade da Justiça. Só quem testemunhou a explosão daquela bomba pode afirmar que a minha permanência aqui hoje é um milagre", disse a vítima.

Atentado
O atentado aconteceu no último dia 15 de julho, quando o Walmir recebeu um pacote de uma bebida em seu escritório, mas o conteúdo explodiu assim que foi aberto. Um segurança que trabalhava em um estabelecimento próximo ao local socorreu o advogado. A vítima perdeu três dedos e quebrou o pé por causa da explosão.

Câmeras de segurança flagraram a movimentação de um homem que entregou o pacote para um motoboy, que o levou até o advogado. Segundo o delegado, o motoboy não tinha consciência do atentado e foi por meio do depoimento dele que a corporação chegou até o local e às imagens.

“O motoboy é inocente. Cabe dizer que a pessoa que entregou esta bomba ao motociclista usou de vários disfarces, colocou propositadamente uma tala no braço direito. Tudo indica que ele colocou isso para disfarce. Em outros momentos, quando ele percebia a câmera de vigilância ele abaixava a cabeça”, disse.

O delegado já havia informado sobre a suspeita de que um policial estivesse envolvido no atentado. “Pelo estágio da investigação, percebe-se que o crime foi muito bem planejado, praticado por um profissional, e tudo indica que há um policial envolvido nesta trama criminosa”, afirmou.

O delegado ressaltou o alto poder de destruição da bomba enviada ao advogado. “A intenção da pessoa que encaminhou o artefato explosivo era matar o advogado. Esta bomba tinha poder para isso, só não o matou porque o advogado, ao ouvir o barulho, ele tirou a bomba de perto do seu peito, e foi nesse momento, em que ela estava distante, é que houve a explosão”, revelou.

Os responsáveis pelo atentado devem responder por tentativa de homicídio qualificado, por crime de explosão e também por crime de dano contra o escritório da advocacia, que ficou destruído.

Fonte:http://g1.globo.com