PCC mirava promotores e PMs para possíveis ataques, segundo MP

Operação do Ministério Público e Polícia Militar focada em enfraquecer facção prendeu 44 pessoas em 5 regiões do estado de SP e desarticulou célula empenhada em levantar informações de alvos para possíveis ataques

Aproximadamente R$ 1 milhão foi apreendido, além de aparelhos celulares e armas com numeração raspada | Foto: Divulgação

A Operação Jiboia, fruto de meses de investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público Estadual de São Paulo, em parceria com a Polícia Militar, identificou uma célula do PCC (Primeiro Comando da Capital) especializada em levantar informações de desafetos que poderiam se tornar alvo de ataques. Na lista, segundo o subprocurador geral de SP, Mario Luiz Sarrubbo, há promotores e policiais militares. Ele não falou, no entanto, em números ou nomes. “O foco da operação foi atacar a facção. Uma das forças-tarefas [foram duas] desarticulou uma célula da facção que procurava trabalhar e fazer levantamentos que poderiam gerar futuros atentados contra a vida de agentes públicos. Nós apreendemos muitos documentos, lista com nomes e documentos importantes que podem ensejar trabalhos futuros”, afirmou.  

Uma reportagem da Ponte de dezembro do ano passado revelava a intenção do PCC de eliminar duas autoridades: o promotor Lincoln Gakiya, que investiga a facção há anos, e o diretor penitenciário Roberto Medina. A ordem partia de bilhetes cifrados que saíram da P2 de Presidente Venceslau, onde estava até o início deste ano Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder do PCC. Na ocasião, o MP anunciou uma força-tarefa nesse sentido, mas, questionado, Sarrubbo negou que essa operação tenha ligação com as ameaças a Gakiya, que atua na região de Presidente Prudente.

A célula especializada em fazer levantamento de possíveis alvos tinha braços em todo estado de São Paulo e, segundo Mário Sarrubbo, durante os meses de investigação, foram detectadas movimentações que apontavam para o interesse em dados pessoais de agentes públicos.

Esse tipo de modus operandi dentro do PCC não é exatamente uma novidade. Em 2016, a SAP (Secretaria de Administração Penitenciaria) junto ao Gaeco descobriram plano da facção para assassinar PMs, policiais civis e agentes penitenciários. A ação era encabeçada por Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, que contava com levantamento de endereços, rotinas e fotografias.  Andinho integra a cúpula do PCC e cumpre a pena de centenas de anos na penitenciária federal de Brasília, desde outubro do ano passado. Além de ser considerado um dos maiores sequestradores de São Paulo nos ano 90 e mega traficante com atuação no interior do estado, ele ficou conhecido também ao ser apontado como participante do assassinato do ex-prefeito de Campinas Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, caso até hoje sem desfecho completo.

Mário Sarrubbo e Major Emerson Massera | Foto: Maria Teresa Cruz/Ponte Jornalismo

O MP admite que tem plena consciência de que, com o isolamento de líderes em presídios federais ou mesmo a prisão de outros ligados a atuação do PCC nas ruas, naturalmente o crime de reorganiza e que a ordem é seguir trabalhando para barrar essa lógica. “A operação aconteceu em todos os cantos do estado, isso mostra que nós somos organizados também, que nós estamos articulados”, explicou o subprocurador geral de SP.

Promotores do Gaeco de 5 regiões do estado – Sorocaba, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Santos e capital paulista – trabalharam na investigação que resultou na operação desta sexta-feira (3/5) e que talvez “possa gerar filhotes para outras futuras ações”, de acordo com Mário Sarrubbo.

A outra força-tarefa que também fez parte da Operação Jiboia – e referência a intenção de estrangular o crime organizado – estava focada no combate ao tráfico de drogas, importante atividade financeira da facção. Ao todo foram expedidos 50 mandados de prisão e 77 de busca e apreensão. Até o momento, foram realizadas 33 prisões por cumprimento de mandado e 11 em flagrante. Pelo menos R$ 1 milhão, 9 quilos de drogas – cocaína e maconha – e seis armas com numeração raspada  foram apreendidos durante a operação, mas o número pode aumentar até o encerramento completo dos trabalhos. Para o porta-voz da PM major Emerson Massera, a operação foi um sucesso. “Não houve reação nem necessidade do uso da força policial em nenhum dos cumprimentos de mandado”.

Fonte: https://ponte.org/pcc-mirava-promotores-e-pms-para-possiveis-ataques-segundo-mp/