PM morto por policiais do RN na PB se identificou antes de receber disparos, dizem testemunhas

Cabo Edmo Tavares foi morto por policiais do RN em operação na PB Os três policiais militares do Rio Grande do Norte responsáveis pela morte do cabo Edmo Lima Tavares, de 36 anos, da Polícia Militar da Paraíba, podem ser indiciados por homicídio doloso caso a versão apresentada pelas testemunhas ouvidas pelos investigadores se comprove. Ao todo, cerca de 12 pessoas já foram ouvidas pela Delegacia Seccional de Solânea, da Paraíba, que está responsável pela investigação do caso. Diferente da versão apresentada pelos policiais militares potiguares em seu depoimento original, as pessoas que presenciaram a cena afirmam que Edmo não foi o primeiro a atirar no confronto, e teria gritado diversas vezes que era policial para os PMs, que mesmo assim atiraram contra ele quatro vezes.

A necrópsia de Edmo Lima foi concluída nessa sexta-feira (1), e mostra que o policial foi atingido por quatro disparos: um na perna, um no queixo e dois no tórax. O delegado Diógenes Fernandes, que está à frente das investigações, relata que a versão apresentada pelos três PMs, que foram ouvidos na mesma noite em que o policial morreu, é de que eles teriam saído do município de Nova Cruz, no interior do Rio Grande do Norte, em direção à Paraíba, para cumprir um mandado de prisão de um foragido no município de Cachoeirinha, fato que está comprovado, de acordo com o delegado.

Os policiais, no entanto, fizeram a operação em um veículo descaracterizado, e sem nenhuma identificação de que eram parte da polícia. “Eles estavam trajando calça jeans e tênis, um estava até mesmo de bermuda. Eles desceram de um carro também descaracterizado, um deles com colete à prova de balas sem qualquer identificação da polícia,  os três trajando balaclavas, máscaras pretas que cobrem o rosto”, relata o delegado.

Ao fazerem a abordagem, os policiais foram avistados por Edmo Lima, que estava de folga naquele dia. Sem saber que se tratavam de policiais, o PM sacou sua arma ao avistar a movimentação. Nesse ponto, a versão das testemunhas e dos policiais do Rio Grande do Norte divergem: enquanto os PMs afirmam que Edmo atirou primeiro contra eles, e eles apenas reagiram, as pessoas ouvidas pela polícia afirmam que, ao avistá-lo com a arma, os policiais atiraram prontamente contra ele, atingindo-o com um tiro na perna.

Edmo, então, teria saído andando em direção ao seu carro, no qual ainda conseguiu percorrer cerca de 100 metros, até perder o controle do veículo e bater com uma cerca. Para tentar se proteger, o policial pulou o muro de uma casa, mas logo foi alcançado pelos três PMs.

“As testemunhas dizem que ele gritava que era polícia, e os populares, que já conheciam ele há mais de cinco anos como policial, também gritavam para tentar avisá-los”, relata o delegado Diógenes Fernandes. De acordo com ele, não há dúvidas de que os policiais foram à Paraíba com a intenção de efetuar uma prisão. A operação, no entanto, “está marcada por uma série de falhas e excessos que podem conduzir a ação para um homicídio doloso. Mesmo que fosse um foragido e não um policial, não era exigido esse excesso de ação, tendo em vista que ele já havia sido baleado na perna”, completa. Nesse caso, os policiais poderiam ir à júri popular.

As armas dos policiais foram apreendidas para o exame de confronto balístico, assim como a viatura na qual eles fizeram a viagem à Paraíba. Agora, a polícia deve realizar também o laudo balístico da arma do policial Edmo Lima, o passo seguinte após a necrópsia. “O inquérito vai seguir com a máxima responsabilidade. Queremos chegar à verdade na história”, declara o delegado.

O Coronel Alarico Azevedo, comandante da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, declarou na última quinta-feira (31), que o Comando da PM não foi informado da operação dos policiais potiguares, procedimento padrão para operações interestaduais.

Os três policiais pertencem ao setor de inteligência do 8º Batalhão da PM, foram afastados para prestar serviços em outros setores da Polícia Militar enquanto seguem as investigações, tanto criminais, como internas da própria PM.

O promotor Wendell Beethoven Agra, do Ministério Público do RN, também afirmou que pretende acompanhar a sindicância que está sendo produzida pela Corregedoria da Secretaria do Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed) e pela Polícia Militar. De acordo com o promotor, a expedição dos ofícios solicitando informações às partes deve ocorrer ainda nessa sexta-feira.

Fonte: TRIBUNADONORTE.COM.BR