Policiais civis são presos suspeitos de extorquirem dinheiro de amigos em SP

 Corregedoria da Polícia Civil indiciou 2 investigadores do 59º DP, na Zona Leste, por corrupção. Eles são acusados de cobrarem propina de Thales Santana, de 17 anos, e de Cristiano Santos, o Cavalo. Eles desapareceram após serem julgados por facção em 'tribunal do crime' em agosto.

Thales Barreto de Santana e Cristiano Rodrigo de Lima Santos, o Cavalo, estão desaparecidos após irem a um 'tribunal do crime' em São Paulo — Foto: Reprodução/Redes sociais Dois policiais civis foram presos suspeitos de extorquirem dinheiro de dois amigos em São Paulo, segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP). Os agentes não tiveram os nomes divulgados.

Os amigos Thales Barreto de Santana, de 17 anos, e Cristiano Rodrigo de Lima Santos, o Cavalo, sumiram em agosto, na Zona Leste. Os dois estavam envolvidos com o tráfico de drogas.

A conclusão do inquérito da Corregedoria da Polícia Civil é a de que, após terem sido extorquidos pelos investigadores do 59º Distrito Policial (DP), Jardim dos Ipês, Thales e Cristiano foram levados por traficantes para um ‘tribunal do crime’, onde foram julgados. Depois, nunca mais foram vistos.

Os dois policiais civis foram indiciados pela Corregedoria e estão presos pelo crime de corrupção passiva. Eles estão presos no presídio da Polícia Civil, na capital, onde são investigados por cobrarem propina de Thales, no dia 18 de agosto, e de Cristiano, no dia 11 daquele mês.

De acordo com a Corregedoria da Polícia Civil, os agentes do 59º DP exigiram inicialmente R$ 30 mil para devolverem uma mochila com drogas e não prender um dos amigos.

O processo administrativo disciplinar da Corregedoria não responsabilizou, no entanto, os policiais pelo desaparecimento de Thales e Cavalo.

De acordo com o inquérito, o mais provável é que outros traficantes estejam envolvidos diretamente com o sumiço deles. Segundo o documento, uma facção criminosa deu parte do dinheiro exigido pelos policiais e depois ofereceu R$ 2 mil, que nem chegou ser pago.

Além disso, informa a Corregedoria, após a devolução da maconha e da cocaína, a facção chamou os amigos para uma reunião no dia 19 de agosto. Ela queria saber quem deles delatou aos agentes os nomes dos chefes do tráfico da região. Após essa data, Thales e Cavalo desapareceram.

MP e DHPP

Thales Barreto de Santana está desaparecido desde 19 de agosto — Foto: Reprodução/MPSP

O inquérito da Corregedoria da Polícia Civil seguiu para o Ministério Público (MP), que poderá ou não oferecer uma denúncia à Justiça, acusando os dois investigadores pelo crime de corrupção.

Além dessa investigação sobre a conduta dos agentes na esfera administrativa da Polícia Civil, existe uma outra apuração. Essa está no âmbito criminal e é feita pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Ela investiga o desaparecimento de Thales e Cavalo para saber onde os amigos estão e quem pode estar envolvido no sumiço deles. Testemunhas já foram ouvidas.

“Agora as investigações sobre o desaparecimento terão continuidade pela delegacia de desaparecidos do DHPP. Que tenta identificar os criminosos envolvidos no desaparecimento e numa possível execução”, disse o advogado Ariel de Castro Alves, membro do Grupo Tortura Nunca Mais e do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (Condepe).

De acordo com o DHPP, Thales era usuário de maconha e trabalhava como ‘aviãozinho’ para o tráfico, entregando drogas na região onde morava. Cavalo também tinha ligação com traficantes.

Ainda segundo a investigação, quando foi abordado pelos agentes do 59º DP, Cavalo teria dito a eles que Thales traficava droga. Para soltar Cavalo, os investigadores teriam recebido dinheiro pago pela facção.

Na apuração do DHPP consta a informação de que os policiais corruptos decidiram deter Thales dias depois na casa dele, apreendendo com ele uma mochila contendo drogas.

Para soltá-lo e devolver o material ilícito, os agentes cobraram R$ 30 mil do adolescente, ameaçando com uma arma agredir e violentar sexualmente a mulher e filha recém-nascida do rapaz.

A apuração da Corregedoria diz ainda que os dois investigadores obrigaram Thales a gravar um vídeo delatando quem comandava o tráfico na área dele. Em seguida, saíram com ele em um carro descaracterizado usado pelo 59º DP, e depois o deixaram em casa. Uma testemunha filmou o veículo com os policiais (veja abaixo).

Negociação

Thales renegociou o valor da extorsão com os policiais, que concordaram em receber R$ 2 mil para não prendê-lo e devolverem as drogas, segundo o relatório da Polícia Civil.

O dinheiro foi entregue ao adolescente pela facção, mas depois ela pediu para não pagar mais os investigadores. O motivo é que os policiais já tinham recebido propina para soltar Cavalo antes.

Os policiais devolveram a mochila com a maconha e cocaína na residência de Thales. Ele foi chamado depois por Cavalo para um "acerto” com a facção. Essa foi a última vez que os dois foram vistos na comunidade do Jardim Helena.

Parentes de Thales contaram que o pai dele, que é separado da mãe, morreu no último dia 25 de outubro, na Bahia, devido a complicações de saúde agravadas pelo desaparecimento do filho.

Quem tiver informações sobre o paradeiro de Thales ou de Cavalo pode ligar para o Disque Denúncia pelo número de telefone 181. Não é preciso se identificar.

  Fonte: g1.globo.com