DROGA COM BEBÊ E DECAPITAÇÃO: Qual relação entre mãe que levava crack em carrinho e casa usada por facçã

Na residência do casal, homem foi decapitado após prisões O caso da droga transportada em Ivoti dentro de um carrinho de bebê, debaixo do cobertor que envolvia uma menina de um ano, resultou na condenação dos pais. Com pena de cinco anos no regime semiaberto, a mãe, uma comerciária de 25 anos, está há dois meses foragida.

O ex-companheiro, de 26 anos, cumpre cinco anos e um mês também no semiaberto. Na época do flagrante, em abril de 2018, a família estava morando na casa onde um traficante viria a ser decapitado menos de dois meses depois, no bairro Morada do Sol.

Com os recursos dos réus esgotados até o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, a juíza de Ivoti, Larissa de Moraes Morais, expediu mandado de prisão da mãe no dia 26 de fevereiro deste ano. Um mês antes, conforme investigações, ela estava trabalhando e morando na cidade natal, Novo Hamburgo.

A sentença condenatória é de 10 de setembro de 2019. No interrogatório, os pais negaram o transporte de droga no carrinho da filha, mas com versões contraditórias. Os nomes dos réus não são informados para preservar a identidade da criança, hoje com cinco anos.

Juiz salienta o uso da criança

Na sentença, o juiz Miguel Carpi Nejar menciona que o tráfico ficou evidenciado pelas 26 pedras de crack e duas porções de maconha apreendidas de forma fracionada, para venda, “dissimuladas em um carrinho de bebê”.

O magistrado frisa o uso da criança. “Restou suficientemente comprovado que os acusados envolveram diretamente sua filha com idade inferior a dois anos, na prática do delito, na medida que, valendo-se de sua condição de guardiões da infante, utilizaram a criança para ocultar a droga apreendida, colocando os entorpecentes embaixo do cobertor sobre o qual a bebê estava deitada e, com isso, despistar a guarnição policial.”

Ré alegou que era para consumo próprio

A mãe disse que todas as drogas apreendidas pela Brigada Militar estavam em uma carteira de cigarros no bolso do então marido. Segundo a jovem, somente o companheiro foi revistado. Ressaltou que era para consumo próprio.

Se disse usuária de maconha. Também declarou que a família estava morando em Novo Hamburgo, mas não explicou como foi parar em Ivoti. No confuso relato, contou que o esposo tinha saído de casa para usar drogas, porque estava deprimido, e que o encontrou caminhando na rua, quando foram abordados pelos policiais. Falou que sabia da dependência química do marido, mas afirmou desconhecer que era traficante.

Pai disse que faria entrega em praça

O pai da criança declarou que estava há três semanas se escondendo em Ivoti, sob argumento de que devia para traficantes de Novo Hamburgo e sofria ameaças. Para pagar a dívida, que seria de R$ 5 mil, teria que entregar droga na “praça do chafariz”.

Contou que estava com a esposa na rua, a caminho do local combinado, quando uma viatura se aproximou. Disse que a mulher também foi abordada. Toda a droga apreendida, conforme afirmou, estava com ele e não no carrinho do bebê. Admitiu que fugiu dos policiais, levou tiro de raspão no rosto e invadiu a casa de desconhecidos até ser preso. Segundo ele, a esposa não sabia da entrega.

Telefones roubados com diálogos da quadrilha

O juiz salienta que os celulares do pai e o da mãe da criança, assim como o de um terceiro preso na sequência, eram roubados e tinham conteúdo que demonstravam o tráfico. Ele cita imagens de drogas sendo pesadas em balanças de precisão e de embalagens, além de “textos envolvendo a prática da medonha mercancia”.

O caso

A cena era de um jovem casal passeando com a filha no carrinho, perto de uma escola, em cidade com baixos índices de criminalidade. Nada suspeito. Mas os brigadianos tinham informação de tráfico na residência de onde a família tinha saído, na Rua Taquari, e fizeram a abordagem na Rua Reinaldo Enzweiler, por volta das 14 horas de 25 de abril de 2018.

O homem se desvencilhou de um policial e saiu correndo, enquanto a companheira era detida por outro brigadiano. Ele jogou fora uma carteira de cigarros com pedras de crack, pulou muros, invadiu uma casa e rendeu a moradora, que cuidava do filho cadeirante. “Cala a boca, que eu to fugindo da polícia”, ameaçou. Jogou a mulher no chão, derrubou a porta dos fundos e seguiu em fuga.

Já com reforço, os PMs conseguiram deter o traficante. Na residência do casal, foi preso outro morador, que tinha 31 anos na época, com embalagem para droga. Um usuário foi arrolado como testemunha.

O pai da criança e o comparsa foram para o presídio. A juíza Larissa concedeu liberdade provisória à mãe, em razão do entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) de que a prisão preventiva deve ser convertida em domiciliar para gestantes ou mães de crianças de até 12 anos ou de pessoas com deficiência.

Na mesma sentença do casal, o comparsa foi condenado a pena de um ano e oito meses no regime aberto, convertida em prestação de serviços à comunidade. Os três não tinham antecedentes criminais.

A casa da facção e da barbárie

Um irmão do comparsa preso com o casal foi brutalmente assassinado na mesma casa na manhã de 5 de junho de 2018. Elói Alfredo Werlang, 32, foi decapitado por um adolescente de 16 anos, conhecido na época como Dimenor, que gravou a barbárie ao som de hip-hop. O vídeo é estarrecedor. Comparsas ajudam a enrolar o corpo em cobertores e jogam em um córrego. Na margem do outro lado é deixada a cabeça, dentro de uma sacola plástica.

O adolescente, hoje com 21 anos, foi condenado a internação de três anos. Dois comparsas, Felipe Gomes de Souza, o Lipe, 33, e Ícaro José Amaral, 30, devem ir a júri no fórum de Ivoti, que não é marcado enquanto a dupla recorre no Tribunal de Justiça. Segundo a Polícia, a casa da Rua Taquari era usada pela facção Os Manos.

Fonte: https://www.jornalnh.com.br/noticias/regiao/2023/05/08/droga-com-bebe-e-decapitacao-qual-relacao-entre-mae-que-levava-crack-em-carrinho-e-casa-usada-por-faccao.html