Policiais são flagrados roubando traficantes após tiroteio na Zona Norte do Rio

Imagens da câmera de segurança de uma viatura revelam que cinco PMs roubaram traficantes após o tiroteio que terminou com a morte de Vanílso

Os policiais — todos lotados, à época, no 9º BPM (Rocha Miranda) — foram indiciados por roubo há três semanas, quando o Inquérito Policial Militar que investigava o crime foi concluído pela Corregedoria da PM.n Venâncio Gomes, o Tida, em abril do ano passado. A filmagem, obtida com exclusividade pelo EXTRA, mostra os agentes tirando objetos da mala no carro onde estavam os bandidos e colocando numa viatura. Nenhum dos objetos foi apresentado na 29ª DP (Madureira), onde o registro de ocorrência do caso foi feito.

Tida foi morto numa perseguição pelo bairro de Honório Gurgel, Zona Norte do Rio. O traficante, que já foi braço-direito de Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, estava com três comparsas num Voyage prata quando foi surpreendido por uma viatura da PM. Os veículos se chocaram. Tida, que dirigia o carro, morreu baleado no local.

As imagens, que fazem parte do inquérito, mostram que após o acidente, por volta das 10h20, Vânderson Venâncio Gomes, irmão de Tida, Ítalo dos Santos Braz e um adolescente são retirados do veículos pelos PMs. Na filmagem, é possível ver que um dos traficantes ostentava um relógio no pulso. Os três, então, deitam no chão a poucos metros do carro. Nos próximos 18 minutos, PMs se abaixam três vezes para revistar os traficantes.

Às 10h30, a mala do carro é aberta. Neste momento, segundo o relatório do inquérito, publicado no Boletim Reservado da corporação do último dia 19 de agosto, os PMs passam do Voyage para a viatura “um objeto retangular de cor cinza claro e um objeto ovalar de cor escura, não especificados no Auto de Apreensão do registro de ocorrência 029-0272/2015, da 29ª DP”.

A frente da viatura que bateu no carro dos traficantes ficou destruída

A frente da viatura que bateu no carro dos traficantes ficou destruída Foto: Reprodução / Extra

Cena de crime desfeita

As imagens da câmera colocada no capô da viatura também mostram que os PMs envolvidos na ocorrência também desfizeram a cena do crime, prejudicando a perícia feita no local pela Polícia Civil. Cerca de um minuto depois do acidente, após os três bandidos serem retirados do carro, um PM quebra, com um fuzil, o vidro dianteiro esquerdo do carro, o mais próximo do motorista, que já estava morto.

Depois, às 10h34, outros policiais tocam no corpo do morto. Um deles puxa o corpo pela camiseta. Tida cai no chão, fora do veículo. Em seguida, o cadáver é fotógrafado pelos policiais. Segundo o relatório da investigação, Tida, “desacordado ao volante do veículo, é puxado por policiais vindo a cair ao solo”.

Um dos bandidos mais procurados do Rio à época, Tida tinha pelo menos oito anotações criminais. O Disque-Denúncia (2253-1177) oferecia R$ 10 mil de recompensa por informações que levassem à sua prisão.

O traficante também era acusado de participar da tentativa de resgate a um preso, no Fórum de Bangu, em 2013. Na ocasião, um menino de 8 anos morreu.

Vanílson Venâncio Gomes, o Tida, ao ser preso Foto: Divulgação/Polícia Civil / Agência O Globo

Vanílson Venâncio Gomes, o Tida, ao ser preso

Sumiço de joias e dinheiro

Além dos objetos que estavam na mala do Voyage, os PMs também são acusados de roubar joias que estavam com os bandidos. Em depoimento à Corregedoria da PM, Ítalo dos Santos Braz, preso na ocasião, afirma que portava “braceletes, dedeiras, dois cordões, um relógio e telefone celular”. Ele ainda diz que, na mala do veículo, havia “dinheiro em uma mochila preta”. No registro de ocorrência feito na 29ª DP, constam como apreendidos na ocasião um fuzil calibre 762, um carregador para fuzil, um cartucho com munição para fuzil, estojos de munição e um celular.

Cinco indiciados

Foram indiciados por roubo o subtenente Flavio da Silva e Souza, o sargento João Gomes Pereira Neto — que seguem no 9º BPM — o subtenente João Henrique Pontes Baptista, do 41º BPM (Irajá), o sargento Vagner Renovato Rangel, do 16º BPM (Olaria), e o sargento Glaucio Misael da Costa, do 15º BPM (Duque de Caxias). O caso foi encaminhado ao Ministério Público junto à Auditoria de Justiça Militar, responsável por elaborar a denúncia contra os policiais.

Morte em Quintino

Na semana passada, o EXTRA revelou outras imagens de câmeras instaladas numa viatura que levaram ao indiciamento de outros PMs do 9º BPM. Uma filmagem mostrou que, pouco antes de participarem da troca de tiros com traficantes em Quintino, em agosto de 2015 — que acabou deixando um inocente morto por uma bala perdida — dois PMs do batalhão escoltavam milicianos.

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