TJ condena 7 policiais acusados de extorquir dinheiro de grupo de Abadia

Penas de delegados, investigadores e agentes vão de 8 a 10 anos de prisão.
Eles teriam recebido R$ 71 mil de pessoas ligadas ao traficante colombiano.

abadiaA 11ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) condenou sete policiais civis à prisão por formação de quadrilha e por extorquir dinheiro em 2006 de pessoas ligadas ao traficante internacional de drogas colombiano Juan Carlos Ramires Abadia, extraditado para os Estados Unidos em 2008. A decisão é do último dia 27, segundo informou a assessoria de imprensa do TJ.

De acordo com nota divulgada no domingo (2) no site do Tribunal e publicada nesta terça-feira (4) pelo jornalO Estado de S.Paulo, os dois delegados, três investigadores e dois agentes condenados trabalhavam no Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), no Departamento Estadual de Trânsito (Detran). A Secretaria de Segurança Pública informou que o sete servidores foram demitidos após investigação da Corregedoria da Polícia Civil. Um policial, no entanto, teve a demissão cancelada por decisão da Justiça.

As penas variam de 8 a 9 anos de prisão em regime fechado. Por causa da Lei Eleitoral, que proíbe cumprimento de mandados de prisão entre os dias 28 de setembro e 4 de outubro, os condenados ainda não puderam ser presos.

Os desembargadores do TJ também determinaram a perda imediata dos cargos dos dois delegados, Pedro Luiz Pórrio, que era do Denarc, e Elmo Vieira Ferreira, que foi do Detran, além dos investigadores e agentes Oswaldo Arildo Parra Júnior, Severino Amâncio da Silva, Hélio Basílio dos Santos, Francisco Carlos Vintecinco e Ricardo Amorelli. O G1 entrou em contato com os advogados de quatro dos sete condenados. Eles informaram que recorrerão da decisão no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

(Veja ao final desta reportagem o que disseram os advogados dos condenados).

À Justiça, os policiais negaram os crimes. Eles chegaram a ser absolvidos das acusações na primeira instância, porque a Justiça considerou que não havia provas contra os réus. No entanto, em recurso julgado na segunda instância em 27 de setembro, a decisão foi revertida pelo TJ.

Em votação unânime, os desembargadores Ivana David, Guilherme Strenger e Maria Tereza do Amaral decidiram pela condenação dos sete policiais.

De acordo com Ivana, que foi relatora do recurso, “ficou provado que os acusados, através de ameaças, fizeram com que o suposto responsável pela lavagem de dinheiro de um grupo criminoso vendesse um veículo de luxo e repassasse parte do valor da venda aos policiais”, segundo nota do Tribunal.

Crimes
Segundo o TJ, os crimes praticados pelos policiais aconteceram entre maio e junho de 2006, meses antes de o colombiano ser preso pela Polícia Federal (PF). De acordo com a acusação feita pelo Ministério Público Estadual (MPE), a quadrilha de Abadia possuía uma loja de motos aquáticas na Zona Sul de São Paulo, que era usada para lavagem de dinheiro do tráfico de drogas.

A investigação apurou que um casal integrante da quadrilha e dono do estabelecimento foi obrigado a vender um carro de luxo e dar o dinheiro para os policiais. A mulher saiu da empresa dirigindo um Toyota Prado e foi abordada por dois policiais do Denarc. Eles a levaram para o departamento, onde acertaram que o carro seria vendido e o dinheiro, repassado para os agentes. Os policiais receberam R$ 71 mil.

O que disseram as defesas dos condenados
OG1conseguiu localizar os advogados de cinco dos sete condenados para comentar a decisão do TJ nesta terça-feira (4).

João Vinícius Manssur, que defende o ex-delegado Elmo, falou que seu cliente nega as acusações e já havia sido absolvido anteriormente em primeira instância e não concorda com a condenação e a decretação da prisão pela segunda instância do TJ. “Por esse motivo, estou entrando com um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça [STJ] em Brasília”, disse.

"Já recorri ao STJ com um pedido de habeas corpus para que meu cliente não seja preso e possa responder ao processo em liberdade", disse Daniel Leon Bialski, advogado que defende o ex-delegado Pedro Luis Pórrio. "Ele é inocente das acusações".

Gilberto Vieira, advogado do ex-agente Severino e do ex-investigador Oswaldo, também pretende recorrer ao STJ. “Meus clientes negam esses crimes”, afirmou.

Marco Aurelio Gomes de Almeida, que atua na defesa do ex-investigador Helio, vai entrar com um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça “para garantir que meu cliente possa responder ao processo em liberdade”.

A reportagem não localizou os advogados dos demais condenados.

Considerado um dos narcotraficantes mais procurados do mundo, Abadia passou mais de três anos escondido no Brasil, até ser preso em agosto de 2007 pela Polícia Federal. Nesse período, fez 78 cirurgias plásticas.

Abadia tinha sido condenado pela Justiça brasileira em 2008 a mais de 30 anos de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e uso e confecção de documentos falsos. No mesmo ano, ele foi expulso do país e extraditado para os Estados Unidos.

Fonte: http://g1.globo.com/