Operação do Gaeco cumpre mais de 200 mandados de prisão em MG, MT e PR

Entre os alvos estão delegados, escrivães e investigadores da Polícia Civil. Investigação é contra corrupção, associação criminosa, roubos, receptação entre outros crimes.

 

np1912O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Uberlândia deflagrou, nesta terça-feira (19), uma operação contra corrupção, associação criminosa, roubos, falsidade ideológica e outros crimes em Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná. Conforme balanço parcial, 80 pessoas já foram presas, entre elas 39 policiais civis, sendo nove delegados. 

(Correção: esta reportagem errou ao informar que 57 policiais foram presos. Na verdade, há 57 mandados de prisão contra policiais mas, até as 12h24, quando a reportagem foi corrigida, 39 haviam sido detidos)

Segundo informações do Ministério Público Estadual (MPE), foram expedidos 200 mandados de prisão preventiva contra 136 pessoas (sendo que há investigados contra os quais foi expedido mais de um mandado de prisão preventiva). Entre os alvos estão delegados de Polícia Civil, chefes de departamento, escrivães, investigadores, empresários, advogados e traficantes. 

Segundo apuração da reportagem, entre os presos estão o delegado-chefe do 9º Departamento de Polícia Civil de Uberlândia, Hamilton Tadeu Lima; a delegada regional de Araguari, Mary Simone Reis; o ex chefe de departamento de Uberlândia, Samuel Barreto. E os delegados: Agenor Soares, André Corazza, Matheus Possancini, Paula Andressa, Vitor Dantas e Wesley Dutra. 

O G1 falou com alguns advogados após as prisões, que representam os delegados Hamilton Tadeu, Samuel Barreto, Marri Simone e Wesley Dutra. Eles informaram que só vão se pronunciar após terem acesso à denúncia. 

Também foi expedido um mandado de prisão contra o chefe do 10º Departamento de Patos de Minas Elber Barra Cordeiro, mas ele não foi encontrado e é considerado foragido. A lista oficial com os nomes de todos os envolvidos não foi divulgada pela Gaeco. 

Ainda foram expedidos 121 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de condução coercitiva (quando a pessoa é levada para depor). Durante a manhã foram apreendidos cerca de R$ 50 mil em dinheiro, arma, munições aparelhos celulares, talões de cheque, mídias, relógios, correntes de ouro, um drone e documentos. 

O cumprimento das ordens judiciais aconteceu em Uberlândia, Uberaba, Araguari, Patos de Minas, Patrocínio, Monte Alegre de Minas, Passos, Pouso Alegre, Araxá e Belo Horizonte. A ação também ocorreu em Cuiabá (MT) e Cascavel (PR). 

Por nota, a Corregedoria da Polícia Civil informou que acompanhou e apoia a investigação, ressaltando que não compactua com os desvios de conduta. Já o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de Minas Gerais enviou uma nota de repúdio. (Veja as notas na íntegra abaixo)

 

Prisões

Os presos foram conduzidos para o 17º Batalhão da Polícia Militar (BPM), Bairro Santa Mônica, em Uberlândia. Durante a ação, a rua de acesso ao batalhão ficou interditada e liberada a passagem apenas para advogados e familiares dos envolvidos. 

O promotor de Justiça do Gaeco Daniel, Marotta Martinez, informou, durante a tarde, sobre a condução dos presos. A princípio, os advogados devem ir para uma cela específica no presídio Professor Jacy de Assis. Os policiais civis devem ser levados para a Casa de Custódia do Policial Civil em Belo Horizonte e os demais vão para o presídio de cada cidade onde os mandados foram cumpridos. 

A ação contou com o apoio da Polícia Militar (PM), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Receita Estadual. Participam da operação cinco promotores de Justiça, auditores da Receita Estadual, 500 policiais militares e 150 policiais rodoviários federais. Os prédios das delegacias regionais de Uberlândia e Araguari foram alvo de buscas que contaram com o apoio da Receita. 

 

Investigações 

A operação, que recebeu o nome de "Fênix", é um desdobramento de outras três operações distintas: Alibabá, Ouroboros e Efésios. 

A Operação Alibabá é decorrente da Operação "Zeus", deflagrada pela Polícia Civil de Minas Gerais em setembro de 2015. As investigações levaram a duas denúncias pelos crimes de associação para o tráfico de drogas, tráfico ilícito de entorpecentes, associação criminosa, obstrução de Justiça, receptação, adulteração de sinal identificador de veículo automotor, fraude processual, corrupção passiva e corrupção ativa. 

Já a "Ouroboros" corresponde à segunda fase da Operação "100 Anos de Perdão" que resultou no oferecimento de sete denúncias envolvendo roubo agravado - emprego de arma, concurso de pessoas e restrição da liberdade das vítimas -, organização criminosa, associação para o tráfico de drogas, tráfico ilícito de entorpecentes, falsidade ideológica e porte e comércio ilegais de armas de fogo. 

A Operação "Efésios" decorreu de acordos de delação premiada firmados pelo Gaeco de Uberlândia. Ela contempla 19 denúncias de organização criminosa, associação criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva, tráfico ilícito de entorpecentes, porte e posse ilegal de arma de fogo, falsidade Ideológica, estelionato, receptação qualificada, falso testemunho e prevaricação. 

 

Corregedoria se posicionou

"Sobre os fatos em Uberlândia, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que a Corregedoria-Geral de Polícia Civil participou e continua apoiando as investigações em curso. A PCMG lamenta o acontecido e ressalta que não compactua com desvios de conduta funcional, determinando que os envolvidos fossem exonerados dos seus cargos de confiança.

A Chefia de Polícia determinou, ainda, que o Órgão Corregedor da PCMG instaure Processos Administrativos para apuração dos fatos, respeitando sempre os princípios constitucionais vigentes."

Sobre possível remanejamento de servidores e mudanças estruturais nas delegacias no decorrer das investigações, o órgão não respondeu. 

 

Sindicato repudia ação 

Por email, o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de Minas Gerais informou que repudia a forma como a ação foi feita, inclusive pelo fato de ser nas vésperas do recesso do fórum. A nota foi publicada também no site do sindicato

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