Distribuição de drogas em sítio que atenderia crianças com necessidades especiais: o que se sabe sobre prisão de vereador em Cachoeirinha

 Manoel D'Ávila (PV) foi preso em uma área onde será erguido Centro de Zooterapia e Ecoterapia Metropolitano. Polícia investiga vínculo do parlamentar com crime organizado

Polícia Civil / Divulgação Um centro de distribuição de drogas foi descoberto pelo Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), da Polícia Civil, em um sítio onde está sendo erguido um Centro de Zooterapia e Equoterapia Metropolitano voltado ao atendimento crianças com síndrome de down, autistas, portadores de limitações físicas e idosos em Cachoeirinha. A investigação aponta que a área, localizada no Distrito Industrial do município, recebia carretas com toneladas de narcóticos a cada 15 dias e de lá saíam carros que distribuíam os entorpecentes para diferentes cidades da Região Metropolitana.

A área na Avenida Frederico Augusto Ritter vinha sendo monitorada há três meses por equipes do Denarc. Na noite da última quinta-feira (3), o vereador Manoel D'Ávila (PV) foi preso em flagrante quando estava em uma casa, dentro do sítio. No veículo de D'Ávila foram apreendidas munições e uma pequena quantidade de maconha. O parlamentar é fundador da Associação Humanitária de Assistência Social (AHUMAS) responsável por erguer o Centro de Zooterapia e Equoterapia na área. Nesta segunda-feira (7), a Justiça converteu a detenção de D'Ávila em prisão preventiva.

Vamos seguir a investigação. Toneladas de droga chegavam a esse sítio, eram escondidas lá. Esse vereador ia todos os dias no sítio à tarde. E era um entra e sai de carro para buscar drogas. Primeiro chegava carreta, a carga era descarregada e depois vinham os carros buscar quantidades menores para distribuir pela Região Metropolitana. Isso dificulta o trabalho de apreensão. Temos informação de que o local era um dos principais centros de distribuição de drogas da Grande Porto Alegre. Eram feitos consórcios para trazer a droga e mandar para diversas bocas, independentemente de facção. São focados no negócio. Distribuem para quem quiser comprar. Demos um golpe forte nesse grupo — explica diretor de investigações do Denarc, delegado Carlos Wendt.

Na quinta-feira, antes da prisão do vereador, a polícia apreendeu 600 quilos de maconha em uma casa no bairro Jardim do Bosque, em Cachoeirinha, e outros 200 quilos em uma residência no Medianeira, zona sul de Porto Alegre. Dois homens foram presos. Os 800 quilos, segundo o Denarc, saíram do sítio. Após apreender quase uma tonelada de droga, os agentes do Denarc foram para o sítio e encontraram o vereador e mais um homem na casa.

— A casa onde eles estavam fica muito próximo à porteira do sítio. Quem está na casa, sabe o que acontece no sítio. Não tem como não saber. Dentro da casa havia um revólver com numeração raspada. O vereador tem muito a esclarecer — diz Wendt.

Temos informação de que o local era um dos principais centros de distribuição de drogas da Grande Porto Alegre. Eram feitos consórcios para trazer a droga e mandar para diversas bocas, independentemente de facção. São focados no negócio. Distribuem para quem quiser comprar. Demos um golpe forte nesse grupo.

CARLOS WENDT

Diretor de Investigações do Denarc

O delegado Alencar Carraro adianta que o parlamentar deve ser indiciado por tráfico, associação para o tráfico e porte ilegal de arma. A polícia ainda investiga se D'Ávila teria ligação com facções. Outra frente da investigação tenta identificar o proprietário do sítio, que teria cedido a área para a construção do centro.

Em depoimento, o vereador, que não tem antecedentes criminais, disse que ia todo fim de tarde no sítio para acompanhar uma obra do projeto social mas que não sabia que no local havia entrega de carregamento de drogas.

D'Ávila fundou a Associação Humanitária de Assistência Social (AHUMAS) no ano 2000. Estava formalmente afastado na direção da entidade por exercer mandato de vereador, mas mantinha vínculos com a associação. GZH tentou contato com a direção da AHUMAS, mas o telefone disponível nas redes sociais da entidade é o do vereador.

Nas redes sociais, a entidade define que seu trabalho é voltado à assistência social em comunidades carentes de Cachoeirinha e Gravataí. Também reforça que seu fundador tem histórico de trabalho no combate e a prevenção aos uso de drogas.

Manoel D'Avila foi eleito pelo PDT a vereador na eleição de 2016 com 762 votos. Em março deste ano, se filiou ao PV. Concorreu à reeleição, mas não conquistou um segundo mandato. O presidente estadual do PV, Márcio Souza, afirma que o político será expulso da sigla:

— Mesmo que nada mais seja comprovado contra ele, o fato dele ser filiado e ser preso com munição e droga já é o bastante para expulsá-lo. Nossa relação com o vereador é nenhuma. O vereador não tem nada a ver com o PV e nunca defendeu questões ambientais. É um estranho no ninho. Não tem nenhuma identidade ideológica conosco.

Contraponto

À frente da defesa do vereador, a advogada Deisi Dittberner afirma que o parlamentar visita o sítio no final do dia para analisar o andamento das obras do Centro de Zooterapia e Equoterapia. Segundo ela, como há dois caseiros no sítio, D'Avila não permanece no local o dia inteiro e, por isso, não tem como controlar o fluxo de veículos no local. A defensora reforça que com seu cliente foram encontrados 50 gramas de maconha e poucas munições:

— Estão antecipando uma culpa sobre ele sem que nada esteja provado. Ele não tinha conhecimento de forma alguma que era entregue cargas de drogas no local. Jamais permitiria isso. Ele não conhecia os homens com quem foi apreendida a maior parte da droga.

Fonte: gauchazh.clicrbs.com.br