Mulheres fazem comida para presos em frente de cadeia em Boa Vista após empresa suspender alimentação

Grupo de 30 mulheres improvisou espaço em uma parada de ônibus. Empresa suspendeu serviço na sexta (28); governo disse que firmou acordo para restabelecimento do fornecimento na unidades.

pc1010  Um grupo de mulheres fez uma cozinha improvisada em frente a Cadeia Pública de Boa Vista, na tarde desta terça-feira (2) e prepararam comida para entregar aos parentes que estão presos na unidade. O motivo é a suspensão do fornecimento de alimentação por parte da empresa que presta o serviço.

Em nota à Rede Amazônica, o governo informou que firmou um termo de conciliação com a Qualigourmet, empresa terceirizada, e o fornecimento de alimentação deve ser retomado. (Veja abaixo a nota sobre o acordo). O G1 não conseguiu contato com a firma.

A missionária Rosilei Pereira da Cruz, esposa de um dos detentos que cumpre pena no local, disse que o grupo entregou 350 refeições na unidade. A escolha de fazer a comida na frente da Cadeia foi porquê muitas das mulheres moram distante.

“Os presos estão passando mal, desmaiando, porque não tem o que comer, por isso estamos aqui. Estamos em 30 e resolvemos vir para cá porque fica bom para todas. Tem muitas que moram longe e não tem transporte pra fazer comida e trazer”, disse.

O espaço foi montado por elas em uma parada de ônibus que fica próximo a murdo da cadeia. O grupo usou o banco para dispor os alimentos e construíram dois fogareiros no chão utilizando tijolos. A comida foi cozida no carvão.

Os alimentos foram arrecadados por meio de doações entre os próprios familiares dos detentos. Roseli disse que no domingo (30) recebeu uma carta dos presidiários pedindo ajuda e por esse motivo resolveu fazer o mutirão.

Até às 14h, elas já haviam preparado cerca de dez quilos de arroz, seis de feijão e cinco pacotes de macarrão com a ajuda de outras mulheres. Roseli disse que o grupo chegou na frente da Cadeia por volta das 6h e improvisaram a cozinha.

Pouco a pouco, durante o dia, outros familiares levaram pães, bolachas, frutas e vegetais.

“Estou preocupada com quem é diabético, hipertenso e sofre do coração. O agente da unidade informou que as pessoas que estão passando mal estão sendo levadas ao hospital” comentou a missionária.

Ela disse que ainda ter sido informada de que há na Cadeia um fogão industrial. "Eles mesmos podem cozinhar lá dentro, mas é necessário que as famílias levem alimentos para serem preparados", disse.

Enquanto a entrega de alimentação não é restabelecida, a Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Roraima disse que acompanha a situação e tem trabalhado para flexibilizar os horários da entrega da comida para que os familiares se organizem melhor.

Ele informou ainda que todas as refeições que entram nas unidades são vistoriadas para e evitar a entrada de produtos ilícito.

"A falta de alimentação pode causar uma revolta do presos, diante disso a OAB teme uma possível rebelião", disse o presidente da Comissão, Hélio Abozaglo Elias.

Suspensão da entrega de comida para presos

A empresa Qualigourmet, que fornece alimentação a seis unidade prisionais de Boa Vista, incluindo a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, maior presídio do estado, suspendeu o serviço na última sexta-feira (28).

Com isso, familiares foram autorizados pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) a levar comida aos detentos.

No dia 19 deste mês, a empresa também suspendeu o serviço alegando que está há quatro meses sem receber pagamentos do estado.

A Procuradoria-Geral do Estado e Sejuc (Secretaria de Justiça e Cidadania) informam que, na manhã desta terça-feira, 2, em audiência, o juiz Aluizio Ferreira Vieira, da Vara da Fazenda Pública fechou o termo de conciliação entre o Estado e a empresa Qualigourmet Serviço de Alimentação Ltda.

De acordo com o termo, o Estado fica comprometido em fazer o pagamento hoje, dia 2 de outubro, e a empresa Qualigourmet Serviço de Alimentação Ltda. tem o compromisso de utilizar o recurso para pagamento de pessoal e fornecedores para retomar a prestação do serviço de alimentação nas unidades prisionais.

Ressalta que o valor estava disponível em uma conta bloqueada. Para solucionar, a justiça autorizou o desbloqueio para ser feito depósito na conta bancária do Fundo Penitenciário Estadual, vinculado à Sejuc. 

Fonte: G1