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Filósofo Michel Foucault ‘abusou sexualmente de meninos na Tunísia’, diz testemunha

https://i0.wp.com/xibolete.org/wp-content/uploads/2021/03/intelectuais_foucault.jpg?resize=1024%2C576&ssl=1 O filósofo Michel Foucault, ícone da ideologia identitária atual, tornou-se a mais recente personalidade francesa a enfrentar um acerto de contas retrospectivo por abusar sexualmente de crianças.

Um colega intelectual, Guy Sorman, causou uma tempestade na intelectualidade de Paris com sua alegação de que Foucault, que morreu em 1984 aos 57 anos, era um estuprador pedófilo que fez sexo com crianças árabes quando morava na Tunísia no final dos anos 1960.

Sorman, 77, disse que havia visitado Foucault com um grupo de amigos num feriado de Páscoa, na vila de Sidi Bou Said, perto de Tunis, onde o filósofo estava morando em 1969. “Crianças pequenas corriam atrás do Foucault dizendo ‘e eu? Me pegue, me pegue'”, lembrou o intelectual na semana passada, numa entrevista a The Sunday Times.

“As crianças tinham oito, nove, dez anos, ele atirava dinheiro nelas e dizia ‘vamos nos ver às 22h, no lugar de sempre’.” O lugar de sempre revelou-se o cemitério local: “Ele fazia amor lá, nas lápides, com meninos pequenos. A questão do consentimento não foi nem levantada.”

Sorman alegou que “Foucault não ousaria fazer isso na França”, comparando-o a Paul Gauguin, o impressionista acusado de fazer sexo com as meninas jovens que pintou no Taiti; e a Andre Gide, o romancista que abusou de meninos na África. “Há uma dimensão colonial nisso. Um imperialismo branco.”

Sorman diz se arrepender de não ter denunciado Foucault à polícia na época, ou à imprensa, e chama o comportamento dele de “ignóbil” e “feio moralmente ao extremo”.

Mas, acrescentou, a mídia francesa já sabia do comportamento de Foucault. “Havia jornalistas presentes naquela viagem, havia muitas testemunhas, mas ninguém escrevia matérias assim naquela época. Foucault era o filósofo-rei. Ele é tipo o nosso deus na França.”

Com suas golas-altas características, careca e óculos, Foucault, filho de um cirurgião, foi uma das primeiras celebridades intelectuais do século XX, lembrado não apenas por suas análises controversas das prisões, da loucura e da sexualidade, mas também por ter assinado uma petição em 1977 para legalizar o sexo com crianças de 13 anos.

A mais conhecida biografia dele, A Paixão de Michel Foucault (1993), de James Miller, descreve seu interesse em saunas gays sadomasoquistas dos Estados Unidos — ele foi uma das primeiras figuras abertamente gays na vida pública e morreu de AIDS — mas não menciona suas peripécias sexuais na Tunísia.

Foucault é o acadêmico mais citado do mundo, muitas vezes associado à ascensão da política identitária nos EUA, onde o rapper MC Hammer é um de seus fãs. “É quase invariavelmente a Foucault que os departamentos de estudos ativistas contemporâneos atribuem suas fundações intelectuais”, escreveu Daniel Miller na revista The Critic. “No nível mais básico, Foucault, o famoso professor francês, fornece uma marca de seriedade a disciplinas sem padrões acadêmicos claros ou tradições.”

Nos EUA dos anos 1980, os “foucaultianos”, como são conhecidos seus seguidores acadêmicos, “canonizaram Foucault como um tipo de santo padroeiro… cuja autoridade rotineiramente invocam para legitimar, em termos acadêmicos, seu próprio tipo de política progressista”, escreveu Miller em sua biografia.

Sorman, escritor prolífico, primeiro publicou suas alegações sobre Foucault em Meu Dicionário de Papo Furado, um livro publicado este mês, e falou mais uma vez dos delitos sexuais do filósofo na Tunísia num talk show de tarde da noite na televisão. O apresentador ficou atônito: “Você está falando de Foucault, um pedófilo de acordo com você, o que não é algo que as pessoas geralmente lembram quando pensam nele.”

As alegações de Sorman surpreenderam a especialistas na Grã-Bretanha, onde o último volume de quatro partes da história da sexualidade de Foucault acaba de ser publicado pela primeira vez em inglês.

“Há um grande potencial disso ter um impacto sobre ele”, diz Phil Howell, professor de geografia histórica da Universidade de Cambridge. “Foucault tinha interesse na sexualidade e escreveu sobre ela, mas abuso infantil é outra coisa.”

Para Sorman, o comportamento de Foucault era sintomático de um mal distintamente francês, que data de Voltaire. “Ele acreditava que há duas morais, uma para a elite, que era imoral, e outra para o povo, que deve ser restritiva.”

Prosseguiu Sorman: “A França ainda não é uma democracia, tivemos a revolução, proclamamos a república, mas ainda há uma aristocracia: é a intelligentsia, e ela desfruta de um status especial. Vale tudo.” Mas agora, “o mundo está mudando de repente”, acrescenta.

Foucault estava longe de ser a única celebridade francesa com um senso inflado de importância. Nos últimos anos, vários relatos visando a contar tudo motivaram investigações criminais de figuras dos mundos literário e artístico acusadas de abusar sexualmente de crianças no rescaldo inebriante da revolta de estudantes de 1968.

O desabafo começou em 2016, quando Flavie Flament, apresentadora de rádio e televisão, escreveu um livro acusando David Hamilton, o fotógrafo britânico, de estuprá-la quando ela tinha 13 anos. “Na época eu ainda chupava meu polegar”, contou-me numa entrevista logo após o lançamento do livro. Hamilton se matou alguns dias depois.

Pouco mais de um ano atrás, Vanessa Springora, 48, uma editora, descreveu num livro como ela foi abusada quando adolescente nos anos 1980 por Gabriel Matzneff, um romancista de pouco mais de 50 anos que estava na moda na época. Ele se gabava da própria pedofilia na televisão e ganhava prêmios literários pelos livros inspirados nela.

Quando isso emergiu, a elite parisiense já estava em choque com as revelações de Camille Kouchner, 46, filha de Bernard Kouchner, ex-primeiro ministro, de que seu padrasto, Olivier Duhamel, 70, influente intelectual e comentarista político, havia abusado sexualmente dela e de seu irmão gêmeo no final dos anos 1980, quando tinham 13 a 14 anos.

Matzneff e Duhamel não comentaram as alegações, nem foram condenados por qualquer crime.

Os manifestantes de 1968 estão na defensiva. Luc Ferry, 70, filósofo e ex-ministro da educação, argumenta que os seus contemporâneos têm muito a explicar. “As pessoas esqueceram que o pensamento de 1968 promovia a pedofilia”, escreveu no jornal Le Figaro. “Todo adulto tinha o direito, até o dever, defendiam eles, de despertar a sexualidade que a burguesia estava reprimindo.”

As acusações motivaram um novo projeto de lei, sob discussão no parlamento, que criminalizaria todas as relações sexuais com menores de 15 anos — atualmente, uma vítima infantil de estupro precisa provar que foi forçado.

Na semana passada, no entanto, houve uma discussão sobre uma assim chamada “cláusula de Romeu e Julieta”, uma emenda para proteger namorados adolescentes. Ela não criminalizaria as relações sexuais com alguém com menos de 15 anos se a diferença de idade entre os dois “protagonistas” for menor que cinco anos.

O presidente Macron defendeu essa mudança na lei — o que provocou deboche pois Brigitte, sua esposa, poderia ter violado esta lei quando o relacionamento com o futuro marido começou nos anos 1990: ele tinha 15 anos e ela era sua professora, com 40 anos, e casada.

Quanto a Foucault, ele não deve ser “cancelado”, defendeu Sorman. “Tenho grande admiração pela obra dele, não estou convidando ninguém a queimar seus livros, mas simplesmente a entender a verdade sobre ele e como ele e alguns desses filósofos usavam seus argumentos para justificar as próprias paixões e desejos”, disse. “Ele pensava que os argumentos dele davam permissão para fazer o que ele quisesse.”

Fonte: https://xibolete.org

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