INSS: Irmãos usaram empresas de fachada para ‘lavar’ R$ 304,9 mi, diz PF

Política

Dois irmãos do Distrito Federal usaram uma rede de empresas de fachada para “lavar” R$ 304,9 milhões obtidos por meio de fraudes no INSS (Instituto Nacional de Seguro Social), segundo investigação da Polícia Federal.

O que aconteceu

Samuel Chrisóstomo do Bomfim Júnior e Lucineide dos Santos Oliveira receberam R$ 304,9 milhões da Conafer, segundo a PF. Empresas de fachada localizadas no Recanto das Emas foram usadas pela dupla para “lavar” o dinheiro.

Chrisóstomo é apontado pela PF como um dos principais operadores financeiros do esquema ligado à Conafer. A entidade é uma das principais entidades investigadas pelos descontos irregulares em benefícios do INSS, tendo feito, segundo a PF, transações atípicas que somam R$ 796,8 milhões entre 2022 e 2025.

Lucineide é descrita pela PF como uma “operadora financeira secundária”. Ela era responsável por cadastrar e movimentar contas associativas, gerir empresas de fachada que recebiam recursos desviados da Conafer e da AAB (Associação dos Aposentados do Brasil) —criada para replicar o mesmo modelo de “fraude em massa” aplicada pela Conafer, diz a PF— e registrar em seu nome veículos de terceiros.

Ao todo, seis empresas de fachada, descritas como “salas modestas”, são apontadas pela PF como parte do esquema. São elas:

  • Nobre Serviços de Eventos Ltda;
  • Expresso Serviços de Publicidades Ltda;
  • Solution Serviços Especializados Ltda;
  • Cifrão Tecnologia em Desenvolvimento de Sistemas Ltda;
  • Impacto Serviços Especializados em Apoio Administrativo Ltda;
  • S&D Agropecuária e Análises Técnicas Ltda.

A Solution e a S&D foram abertas no mesmo dia, em 22 de janeiro de 2021, segundo apuração do UOL. “[As empresas] formavam uma rede de circulação e pulverização de recursos ilícitos, repassando valores entre si e para pessoas físicas vinculadas ao núcleo político da organização criminosa”, diz a PF.

Cinco empresas foram abertas no mesmo endereço no Recanto das Emas, mas em salas diferentes. Apenas a S&D Agropecuária e Análises Técnicas está em endereço diferente.

PF aponta que as empresas eram formalmente registradas, mas não possuíam atividade econômica “compatível” com os valores movimentados. “Parte dos recursos desviados era convertida em bens e pró-labores fictícios, em nome de terceiros e familiares, com o objetivo de ocultar o vínculo com o líder da organização, Carlos Roberto Ferreira Lopes [presidente da Conafer].”

Empresas controladas por Chrisóstomo repassavam os valores ao casal Cícero Marcelino e Ingrid Morais Santos. Para justificar o recebimento dos valores da Conafer, as empresas emitiam notas frias — documento fiscal emitido de forma fraudulenta.

O UOL tenta contato com Chrisóstomo, Lucineide, Marcelino e Ingrid. O espaço segue aberto para manifestação.

PF fala em organização criminosa

A organização tinha divisão hierárquica e funções definidas, segundo as investigações. Em relatório enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal), a PF diz que a Conafer tinha três núcleos responsáveis pelos descontos indevidos de aposentados:

  • Núcleo de comando: liderado por Carlos Roberto Ferreira Lopes, presidente da Conafer e responsável pela orientação das fraudes e pela articulação política;
  • Núcleo financeiro: coordenado pelo empresário Cícero Marcelino de Souza Santos, encarregado da lavagem de dinheiro e movimentação dos recursos desviados por meio de empresas de fachada;
  • Núcleo político e de apoio: formado por parlamentares e assessores, incluindo o deputado federal Euclydes Petterson (Republicanos-MG) e o assessor André Luiz Martins Dias, atuava para manter o acordo de cooperação técnica da Conafer junto ao INSS e proteger o grupo de investigações externas.

O presidente da Conafer é apontado pela PF como “líder e mentor intelectual do esquema criminoso”. Segundo o relatório, Carlos Roberto Ferreira Lopes determinava a obtenção de assinaturas de beneficiários em visitas domiciliares. Depois, os formulários eram convertidos em fichas de filiação associativa falsas.

Carlos decidia como se daria a distribuição dos recursos desviados, de acordo com a PF. Ele tinha poder decisório sobre os demais núcleos e era responsável pela manutenção da cadeia de pagamentos ilícitos. Há um mandado de prisão aberto contra ele —que ainda não foi cumprido.

Cícero Santos era o operador financeiro do esquema, segundo a PF. O relatório afirma que ele movimentou centenas de milhões de reais e repassou “quantias expressivas” a servidores públicos e agentes políticos, a quem se referia como “heróis” ou “amigos”. Ele foi preso na operação da PF hoje.

Outro lado

O que diz o deputado Pettersen

Em nota, o parlamentar do Republicanos disse acreditar na importância de investigações sérias. “Para alguns, um fim, e para outros, uma libertação”, afirmou.

“Acredito na Justiça, na verdade e na importância das investigações sérias, conduzidas dentro da legalidade e com total transparência”, concluiu.

O que diz a Conafer

Em nota, a Conafer critica “a utilização de prisões e de exposição midiática como mecanismo de condução política de narrativas” e afirma “estar disposta a cooperar plenamente com as autoridades competentes para elucidação dos fatos e para que a verdade jurídica se imponha”.

“Os impactos práticos dessa operação já são evidentes e gravíssimos. A paralisação forçada de nossas atividades prejudica milhares de famílias do campo, povos indígenas e comunidades tradicionais que dependem das ações técnicas, de saúde e de geração de renda promovidas pela Conafer”, acrescenta a confederação nacional.

Fonte: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2025/11/14/inss-irmaos-usaram-empresas-de-fachada-para-lavar-r-3049-mi-diz-pf.htm

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