Domingos Brazão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro apontado como mandante da morte de Marielle Franco, teve acesso a registros sigilosos de delações premiadas que o implicavam em diferentes investigações. A conclusão consta em um relatório da Polícia Federal citado pelo jornal O Globo neste sábado 24.
Segundo a publicação, agentes da PF encontraram as delações de de um ex-conselheiro do TCE e de seu filho em um HD externo mantido por Brazão em sua residência. Nos documentos, Jonas Lopes Filho e o filho, Jonas Lopes Neto, relatavam ameaças de mortes feitas por Brazão em um esquema de corrupção na corte de Contas do estado.
Os conselheiros, segundo os delatores, recebiam propina durante a gestão de Sérgio Cabral no estado. Neste contexto, Brazão teria ameaçado de morte colegas que eventualmente firmassem acordos de delação premiada. A ameaça foi feita na presença de pelo menos três conselheiros, entre eles Lopes Filho, na sede do TCE, em data não especificada.
Na conversa, Brazão teria dito que mataria o conselheiro José Maurício Nolasco caso ele seguisse adiante com a ideia de se tornar um delator.
“Se ele [Nolasco] fizer isso, ele morre. Eu começo por um neto, depois um filho, faço ele sofrer muito, e por último ele morre”, ameaçou Brazão, segundo o delator.
Esse relato, em sua íntegra, estava salvo no HD mantido por Brazão e apreendido pela PF.
Não está claro como ele teve acesso ao documento, mas, segundo indica a PF no relatório, a existência dos arquivos indica que Brazão tinha “atos tendentes à criação de obstáculos à investigação ou à incolumidade de investigadores e terceiros”. O apontamento está no relatório entregue pela corporação ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, na última quinta-feira 23.
Brazão mantinha também, segundo a publicação, documentos sigilosos relacionados ao caso Marielle. Mais especificamente, trechos assinados por envolvidos da delação do ex-policial militar Élcio Queiroz. Foi o agente que dirigiu o carro usado no assassinato de Marielle Franco. Essa delação foi uma das provas que permitiram fechar o cerco contra os mandantes do crime.
Os documentos, neste caso, estavam em arquivos obtidos pela PF em conversas de WhatsApp mantidos por Brazão.
“O relatório complementar afirma que não foi possível determinar como a informação foi obtida — se por foto do próprio Brazão, se foi enviada por alguém ou se copiaram o documento. Também não consegue concluir que uso foi feito dele, apesar da suspeita de obstrução à investigação ou à ‘incolumidade de investigadores e terceiros'”, destaca o jornal O Globo sobre este item.
Brazão, vale lembrar, segue preso, assim como seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão. Os dois são apontados como mandantes do crime. Rivaldo Barbosa, ex-chefe de polícia do Rio, também está detido por participação no caso. Ele teria planejado o assassinato após a encomenda do conselheiro e do parlamentar.