Oficial reformado da Polícia Militar e ex-chefe da Casa Militar de Goiás, o deputado Coronel Adailton articulou um esquema de corrupção, com propina e tráfico de influência, nos colégios militares do estado. É o que aponta uma investigação sigilosa obtida com exclusividade pela coluna. De acordo com o relatório de inteligência, Adailton Florentino do Nascimento e sua esposa e colega de farda, a capitã Elizete Jacinto, influenciaram promoções de agentes nessas instituições de ensino.
A divisão de Inteligência da PM destaca que Coronel Adailton (Solidariedade) cobrou aproximadamente R$ 5 mil de oficiais para que fossem nomeados diretores dessas escolas. Empossados nos cargos, os militares retribuíam a indicação e faziam doações eleitorais para a campanha do político à Assembleia Legislativa de Goiás.
Os investigadores não especificaram quanto o deputado teria embolsado ao todo, mas mapearam sua influência em pelo menos 19 colégios militares. Essas unidades ficam em Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Goianápolis, Pirenópolis, Goianésia, Senador Canedo e Jaraguá.
“A interferência do deputado Coronel Adailton e de sua esposa, capitã Elizete, é muito grande. Não se consegue movimentar diretores e há, inclusive, articulação nas vagas de novos alunos oferecidas essas unidades escolares. A escolha dos diretores dos colégios militares passava sempre pelo crivo do deputado estadual”, informa trecho do relatório.
Segundo os investigadores, Adailton exerceu influência nos colégios militares através do tenente-coronel Luciano Souza Magalhães. Comandante de Ensino da Polícia Militar de 2021 até abril deste ano, Magalhães foi exonerado por Ronaldo Caiado um mês antes de o documento produzido pela Inteligência chegar oficialmente ao gabinete do governador.
Ainda de acordo com o relatório, o deputado recebeu doações eleitorais dos agentes apadrinhados com cargos. Luciano, promovido a tenente coronel em 2022, doou R$ 20 mil à campanha de Adailton, que concorreu à reeleição naquele ano.
“Em 2018, logo que o então tenente-coronel Luciano assumiu a direção do colégio Militar Cezar Toledo em Anápolis, (realizou-se) de maneira expressiva várias solenidades militares que envolviam esses colégios, o que facilitava ainda mais a interferência política do Coronel Adailton e sua esposa Capitão Elizete”, apontaram os investigadores.
A influência política de Adailton cresceu quando ele foi nomeado chefe da Casa Militar em 2013, no o governo de José Eliton. O coronel reformado permaneceu no cargo até 2017. No ano seguinte, foi eleito deputado estadual pelo PP, com 11.616 votos.
Em 2022, o deputado conseguiu renovar seu mandato, pelo PRTB, com 25,6 mil votos. Desde que entrou na Assembleia Legislativa de Goiás, Adailton atuou em defesa dos colégios militares.
“Hoje nós temos 76 unidades, cada uma dentro da sua performance trabalha para o engrandecimento do nosso sistema, que é o melhor sistema de ensino do Brasil, eu quero parabenizar todos que participaram e que nos trouxeram até aqui”, disse Adailton em sessão solene que celebrou a criação do Colégio Estadual da Polícia Militar de Goiás (CEPMG).
Deputado fica em silêncio
Procurada, a assessoria de Coronel Adailton afirmou que, como o deputado “desconhece o teor do relatório”, não irá se pronunciar no momento.
A Polícia Militar de Goiás afirmou à coluna que foi instaurado um inquérito policial para apuração dos fatos. A corporação disse ainda que tem “compromisso com a legalidade” e “não tolera qualquer desvio de conduta por parte de seus membros”.
O “boom” dos colégios militares ocorreu no início do mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em 2019, o governo federal lançou o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, encarado como prioridade do Ministério da Educação na gestão passada.
Em julho de 2023, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) publicou no Diário Oficial da União (DOU) o decreto que revoga a iniciativa de Bolsonaro. Governador de Goiás, Ronaldo Caiado anunciou que transformaria os Colégios Cívico-Militares em colégios militares, para evitar que as unidades fossem fechadas ou integradas ao sistema regular de ensino.
“Esse processo já foi decidido por nós, porque sabemos a eficiência dos colégios. Então, não muda nada, está tudo resolvido. Goiás sai na frente”, afirmou Caiado após a decisão do governo Lula.
Fonte: https://www.metropoles.com/colunas/paulo-cappelli/colegios-militares-deputado-propina