Joneuma Silva Neres, de 33 anos, é acusada de facilitar a fuga de 16 presos da unidade prisional, em Eunápolis, no extremo sul do estado, em dezembro do ano passado. Ela tinha nove meses no cargo.
-
Além de ter sido indiciada por facilitar a fuga dos 16 presos do Conjunto Penal de Eunápolis, no extremo sul da Bahia, a ex-diretora da unidade é acusada de corrupção, envolvimento com facções criminosas e, ainda, de ter se relacionado com um interno do presídio.
-
As informações estão no processo do caso, ao qual a TV Bahia teve acesso com exclusividade e detalhou nesta quinta-feira (3), quase sete meses após a fuga em massa.
-
Quinze fugitivos ainda são procurados. O 16º foi encontrado e morto em uma tentativa de prisão.
A ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis, no extremo sul da Bahia, Joneuma Silva Neres, é acusada pelo Ministério Público do estado (MP-BA) de corrupção, envolvimento com facções criminosas e de ter se relacionado com um interno do presídio.
As informações estão no processo ao qual a TV Bahia obteve acesso com exclusividade e detalhou no BATV desta quinta-feira (3), quase sete meses após a fuga em massa de 16 detentos da unidade prisional. A policial penal, de 33 anos, foi indiciada por facilitar a ação criminosa.
Asituação ocorreu em dezembro do ano passado e, até esta quinta-feira, nenhum dos homens foi recapturado. Apenas um deles foi encontrado, em janeiro deste ano, no entanto, resistiu e morreu em confronto com policiais civis.
Além de Joneuma, outras 17 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público do estado (MP-BA). Entre elas, Wellington Oliveira Sousa, ex-coordenador de segurança do presídio, cargo de confiança da ex-diretora. Os dois estão presos.
Joneuma esteve à frente a unidade por nove meses e foi a primeira mulher a ocupar este tipo de cargo no estado. No entanto, apesar da representatividade, o que veio à tona após as prisões revela que o conjunto penal estava sob comando do crime organizado.
O processo mostra que, desde que assumiu o cargo, em março de 2024, a gestora chamou a atenção das autoridades, especialmente pelas regalias dadas aos presos. Segundo informações presentes no documento, ela autorizou a entrada irregular de roupas, freezers, ventiladores e sanduicheiras.
O ex-coordenador de segurança da unidade foi uma das pessoas que revelaram as irregularidades. Em um dos depoimentos, Wellington contou que Joneuma atendia a diversas exigências feitas, principalmente, por Ednaldo Pereira de Souza, o Dadá, um dos fugitivos.
O homem apontado pela polícia como chefe de uma facção de Eunápolis, que é ligada a outro grupo criminoso do Rio de Janeiro (RJ). Ele estava preso na unidade penal até o dia 12 de dezembro, quando aconteceu a fuga em massa.
Entre as regalias apontadas no depoimento, está o acesso de visitas. Wellington disse que a esposa de Dadá "passou a ingressar no conjunto penal, sem qualquer inspeção, mediante autorização da diretora".
Outros relatos indicaram ainda que Joneuma e Dadá viveram um relacionamento amoroso, com relações sexuais, dentro do presídio.
Esse detalhe não foi relatado pelo ex-coordenador de segurança da unidade prisional, mas Wellington mencionou que Joneuma e Dadá tinham "encontros frequentes, que ocorriam na sala de videoconferências, sempre a sós, com uma folha de papel ofício obstruindo a visibilidade da porta pela abertura de vidro".
O homem disse também que "as reuniões eram sigilosas e geravam estranheza entre os funcionários devido à regularidade e longa duração".
Wellington Oliveira Sousa, ex-coordenador de segurança do Conjunto Penal de Eunápolis — Foto: Reprodução/TV Bahia
Quando foi presa, no dia 24 de janeiro deste ano, Joneuma estava grávida. O bebê nasceu prematuro e segue com ela na cela, no Conjunto Penal de Itabuna, no sul do estado.
Em entrevista à TV Bahia, Jocelma Neres, irmã e advogada de Joneuma, nega a existência de um caso entre ela e Dadá.
"A gente não sabe quem foi que articulou tudo isso, mas ela está sofrendo as consequências de um crime que não cometeu. Ela nunca teve nenhum relacionamento com essa pessoa", afirmou.
A advogada também destaca a preocupação com o fato de o sobrinho ainda estar no presídio com a mãe. "O presídio não é ambiente para uma criança recém-nascida e a família está desesperada, sem ter o que fazer. A gente não tem condições de estar lá com ela, pelo fato de ser uma cidade longe, e não ter recursos financeiros para estar lá", desabafou.
Já o advogado Artur Nunes, que também representa Joneuma, explicou por que alguns benefícios eram concedidos aos detentos. "Dentro de uma unidade prisional, a gente entende, vive muito de negociação, no sentido de manter, ao máximo, a ordem da unidade prisional, evitar problemas, [evitar] que conflitos entre eles ocorram", disse.
Paternidade contestada
Em abril deste ano, Joneuma Silva Neres protocolou um pedido judicial de auxílio financeiro para cobrir gastos com a gravidez contra o ex-deputado federal Uldurico Alencar Pinto. Ela alega que ele seria o pai da criança.
Conhecido como Uldurico Júnior, ele foi candidato à Prefeitura de Teixeira de Freitas em 2024 e seria padrinho político da ex-diretora.
Informações do processo, obtidas com exclusividade pela TV Bahia, apontam que Uldurico foi visto muitas vezes visitando os presos em Eunápolis. Um policial penal, que não teve o nome divulgado, disse em depoimento "ter conhecimento de que políticos ingressaram no conjunto penal, sem revista, inspeção ou cadastro prévio de visitantes", e citou o ex-deputado.
O policial penal afirmou também que, sempre que o político chegava ao presídio, ele se retirava da unidade por considerar o ambiente sensível, e por não concordar com a ida do político nas condições descritas.
O homem disse também "ter recebido informações de que Uldurico Pinto mantinha contato com presos que exerciam liderança dentro de facções criminosas durante suas visitas", incluindo Dadá.
Em contato com a produção da reportagem, Uldurico Junior afirmou que não responde a nenhuma acusação e que tem pressa para fazer o teste de DNA.