Rota do Rio: entenda o caminho utilizado para o tráfico de drogas do Amazonas até o Rio de Janeiro

Mapa Rota do Rio — Foto: Editoria de Arte A investigação do Departamento de Combate ao Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro do Rio de Janeiro demonstrou que o Comando Vermelho recebe drogas que vêm dos países vizinhos. Tabatinga faz fronteira com as cidades de Letícia, na Colômbia, e Santa Rosa de Yavari, no Peru, e é a porta de entrada das drogas em território brasileiro.

A Polícia do Rio investiga se parte do material, após chegar a Manaus, é levada também para o Ceará, a fim de ser distribuída para outros portos do Nordeste, e para o Pará.

Outra parte desce o país transportada clandestinamente através de carros ou caminhões, passando pelo Centro-Oeste e por Minas Gerais.

Finalmente, a pasta-base de cocaína e o skunk chegam até Cleiton Souza da Silva, um dos principais operadores do Comando Vermelho do Amazonas no Rio de Janeiro.

Do Fallet-Fogueteiro, no Centro, ele distribui as drogas para outras comunidades e regiões nobres do município, como Barra da Tijuca, Copacabana, Catete e outros bairros da Zona Sul, além de outros municípios do interior do Rio.

Jefferson Ferreira, titular da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD), descreveu como funciona o caminho das drogas e do dinheiro:

"O caminho da droga vem da tríplice fronteira (Brasil-Colômbia-Peru), passando por Manaus, vindo pro Rio de Janeiro, e o dinheiro faz o caminho contrário", explicou ele.

Entre os quatro presos na operação da última terça-feira, estava o traficante Juan Roberto Figueira da Silva, o Cocão, no Morro dos Prazeres. Segundo a Polícia Civil, ele era um dos principais responsáveis pelos roubos de veículos e a posterior clonagem dos carros.

O dinheiro obtido com esses crimes era utilizado para comprar as drogas que vinham pelo esquema da Rota do Rio.

"Além de quebrar essa cadeia financeira de comprar droga vendendo veículos roubados, clonados, vai impactar nos nossos índices do próximo trimestre, porque ele era uma das principais lideranças nessa clonagem e roubo de veículos", explicou o chefe do Departamento de Combate ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro, Gustavo Ribeiro.

Como funcionava a lavagem

De acordo com as investigações, a quadrilha realiza pagamentos de forma pulverizada a diversos laranjas e empresas, como um frigorífico, para dificultar as investigações. Em 2 anos, o grupo movimentou R$ 27 milhões em atividades ilícitas.

Após a chegada das drogas no Rio, Cleiton, que nasceu no Amazonas, distribui as drogas para diversas comunidades e municípios do estado, além de bairros da Zona Sul e Oeste da cidade.

O dinheiro obtido com a venda de drogas é enviado para Cleiton, que a partir disso envia os pagamentos por diversas contas de passagem para que os valores voltem para o local do início do esquema criminoso, na fronteira.

O chefe do Departamento de Combate ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro, Gustavo Ribeiro, explicou que, segundo as investigações, o frigorífico localizado no Município de Boa Fonte é utilizado para "lavar" o dinheiro do tráfico, em uma prática que é conhecida como "Mescla".

O sócio do frigorífico utilizado no esquema é Raimundo Pinheiro da Silva, o Chicó, que foi prefeito no Município de Anamã, no Amazonas.

"É aí que entra o ex-prefeito, que tem um frigorífico e um comércio de pescado que eram também utilizados para a movimentação da droga, e esses comércios de fachada eram usados como uma mescla para receber esses valores justamente dessa rota final do tráfico", explicou Gustavo.

Raimundo foi cassado duas vezes após ser acusado de compra de votos e abuso de poder econômico. "Nós comprovamos que parte desse poder econômico vem do tráfico de drogas do Rio de Janeiro", afirmou o secretário de Polícia Civil do Rio, Marcus Amim.

O ex-prefeito fugiu para Brasília poucas horas antes da chegada dos policiais que foram cumprir mandados de busca e apreensão na sua casa.

g1 não conseguiu contato com Raimundo Pinheiro da Silva ou sua defesa.

Racha na Família do Norte

O esquema funciona, de acordo com as investigações, desde o enfraquecimento da facção Família do Norte (FDN), que sofreu um racha. O grupo teve a maior parte dos seus líderes presa.

Segundo a Polícia Civil do Amazonas, parte dos traficantes da antiga facção fundou o Comando Vermelho do Amazonas, que hoje domina a maior parte dos territórios de Manaus e disputa com o PCC o controle do tráfico na tríplice fronteira.

"É uma tábua de salvação do Comando Vermelho. Após o racha da Família do Norte, essa rota deu sobrevida ao Comando Vermelho porque tem muita capilaridade de entrega de armas, de drogas”, explicou o secretário de Polícia Civil do Rio, Marcus Amim.
 

Mano Kaio foi preso no Rio de Janeiro em 2017, quando era integrante da facção Família do Norte. Hoje é um dos chefes do Comando Vermelho no Amazonas — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Atualmente, o principal nome do CV no Amazonas é o traficante Kaio Wellington Cardoso dos Santos, conhecido como Mano Kaio, que está foragido.

Ele foi preso no Rio de Janeiro em 2017, quando ainda era integrante da Família do Norte.

 

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