O autor destaca elementos que levaram Francisco a se tornar um assassino, como a sexualidade mal resolvida, episódios de violência familiar e bullying nos tempos de escola. O maníaco era alvo de piadas dos colegas pelas dificuldades de aprendizado.
— A sexualidade é um elemento, mas tem a questão da negligência familiar. A mãe o largou para trás e veio para São Paulo com o marido e dois filhos. Francisco foi morar com o avô, em uma família extremamente violenta. O avô tentou matar a avó com um facão. Depois, foi levado para trabalhar em um matadouro, onde executava animais a sangue frio — conta Ullisses.
O avô materno, João Francisco de Souza, era um autointitulado feiticeiro que realizava rituais sob encomenda na chácara em que morava. Descrito como um “charlatão de mão cheia”, o bruxo falava que o neto havia sido enviado pelo demônio Asmodeus. Misógino, o avô chega a dizer ao futuro assassino que “as mulheres não valem o chão imundo que pisam”.
Padrão de vítimas
Campbell reúne na obra laudos e testes psicológicos feitos com o Maníaco do Parque. As respostas ao Teste de Rorschach, uma série de manchas simétricas apresentadas ao paciente para que ele diga o que vê, indicaram um desejo de ser mulher, segundo o jornalista. A incapacidade de lidar com essa questão contribuiu, na avaliação dos especialistas que o examinaram, para a escolha de seus alvos.
As vítimas seguiam um mesmo padrão: mulheres jovens, baixas e de cabelos cacheados — exatamente como o assassino desejava ser. Outros laudos psiquiátricos classificaram Francisco como um psicopata frio, segundo o livro.
Um desafio para o jornalista foram as mentiras compulsivas do criminoso, diagnosticado como mitômano. Aos psicólogos que o atenderam na prisão, ele relatou ter sido vítima de abusos sexuais na infância e adolescência, o que foi contestado por familiares. Para colegas de trabalho, ele dizia ser um jovem de família rica que se tornou motoboy após um voto de pobreza. Em uma tentativa de impressionar um amigo, mentiu sobre ter matado um rival a tiros.
— A mitomania é muito observada nos relatos que ele faz em relação a rituais satânicos, aos delírios que tinha. Ele conta em juízo que via uma criatura, uma criança coberta de escamas, com dentes, como se fosse o demônio. No livro fica claro que isso é surreal, que as pessoas não acreditam nele — diz Campbell.
A mentira era usada por Francisco, que trabalhava como motoboy quando cometeu seus crimes, para atrair suas vítimas. Ele ficava atento às mulheres que caminhavam com os ombros arqueados e olhar voltado para o chão, sinais de baixa autoestima. Apresentando-se com um nome falso, convidava as jovens para uma sessão de fotos de uma marca de cosméticos no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, também conhecido como Parque do Estado, uma área verde de 5,3 km² na capital paulista. Por uma entrada clandestina em um muro, ele as levava até uma mata isolada, onde as matava.
“Francisco era um homem extremamente sedutor”, lembra, em depoimento no livro, Fabiana, uma das vítimas que escapou do assassino. “Quando diz que possuía a habilidade de identificar mulheres vulneráveis no meio da rua, ele não está mentindo. Sua verdadeira face só aparece mesmo quando ele se transforma numa fera dentro da floresta. Até o tom da voz muda, ficando mais grave”.
Condenado a 280 anos de prisão, Francisco pode ser solto em 2028, porque a lei brasileira estabelece um limite de 30 anos para penas privativas de liberdade. Mas em um interrogatório após ser preso em 1998, o Maníaco do Parque avisou ao delegado do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa que, se fosse solto, voltaria a cometer crimes. “Sinto uma força maligna dentro de mim que só faz crescer e crescer”.
A biografia do Maníaco do Parque é o primeiro livro de uma nova trilogia de Ullisses Campbell, autor da série “Mulheres Assassinas”, dividida em três volumes que contam as histórias de Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga e Flordelis. O jornalista também é um dos roteiristas da série “Tremembé”, do Prime Video, prevista para ser lançada em 2025.