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Ao condenar homem negro, juíza cita a raça do acusado como justificativa

 Uma ação condenatória está repercutindo na internet, após a juíza usar da raça do acusado como justificativa na condenação. No documento, a juíza de Direito Inês Marchalek Zarpelon, da 1ᵃ vara Criminal de Curitiba, afirma que: "Sobre sua conduta social nada se sabe. Seguramente integrante do grupo criminoso, em razão da sua raça, agia de forma extremamente discreta os delitos e o seu comportamento, juntamente com os demais, causavam o desassossego e a desesperança da população, pelo que deve ser valorada negativamente."

O documento com 126 páginas, condenou o homem negro de 42 anos, a 14 anos e 2 meses de prisão, por organização criminosa e prática de furtos.

Na ação, outras oito pessoas foram condenadas por crimes ocorridos entre janeiro de 2016 e julho de 2018, nas Praças Carlos Gomes, Rui Barbosa e Tiradentes, no Centro de Curitiba.

Em nota, o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR) informou que a Corregedoria Geral da Justiça instaurou inquérito administrativo para apurar o caso.

Sobre os crimes

Ao longo das 126 páginas, toda a ação do grupo é detalhada e narrada por testemunhas e também pelos próprios acusados. De acordo com a sentença, ele era responsável por dar cobertura ao grupo, durante os delitos. Os criminosos são apontados como especialistas em roubos de celulares e bolsas de idosas.

Na justificativa, a magistrada pontuou que o acusado é "réu primário" e que sobre sua "conduta social nada se sabe", mas que integra o grupo criminoso devido à raça. E, quanto a motivação para a realização dos crimes, a juíza afirmou que "seguramente está a obtenção fácil de dinheiro, o que é comum nesta espécie de crime".

Nota de retratação

"A respeito dos fatos noticiados pela imprensa envolvendo trechos de sentença criminal por mim proferida, informo que em nenhum momento houve o propósito de discriminar qualquer pessoa por conta de sua cor.

O racismo representa uma prática odiosa que causa prejuízo ao avanço civilizatório, econômico e social.

A linguagem, não raro, quando extraída de um contexto, pode causar dubiedades.

Sinto-me profundamente entristecida se fiz chegar, de forma inadequada, uma mensagem à sociedade que não condiz com os valores que todos nós devemos diuturnamente defender.

A frase que tem causado dubiedade quanto à existência de discriminação foi retirada de uma sentença proferida em processo de organização criminosa composta por pelo menos 09 (nove) pessoas que atuavam em praças públicas na cidade de Curitiba, praticando assaltos e furtos. Depois de investigação policial, parte da organização foi identificada e, após a instrução, todos foram condenados, independentemente de cor, em razão da prova existente nos autos.

Em nenhum momento a cor foi utilizada ? e nem poderia ? como fator para concluir, como base da fundamentação da sentença, que o acusado pertence a uma organização criminosa. A avaliação é sempre feita com base em provas.

A frase foi retirada, portanto, de um contexto maior, próprio de uma sentença extensa, com mais de cem páginas.

Reafirmo que a cor da pele de um ser humano jamais serviu ou servirá de argumento ou fundamento para a tomada de decisões judiciais.

O racismo é prática intolerável em qualquer civilização e não condiz com os valores que defendo.

Peço sinceras desculpas se de alguma forma, em razão da interpretação do trecho específico da sentença (pag. 117), ofendi a alguém".
Fonte: Catve.com
 
 
 

RJ: relatório da CGU identifica PMs que fraudaram auxílio emergencial

Polícia Militar informou que uma equipe avaliará os documentos enviados pela controladoria. Policiais podem devolver valores aos cofres públicos 

Órgãos não revelaram números de PMs identificados Um relatório da CGU (Controladoria-Geral da União), com apoio do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro), apontou quais policiais militares do Rio de Janeiro fraudaram o auxílio emergencial do Governo Federal. Números de PMs identificados nas investigações não foram revelados pelos órgãos.

Segundo a Polícia Militar, a DGP (Diretoria Geral de Pessoal) instaurou uma comissão para avaliar relatório enviado pela CGU. Os batalhões dos policiais militares apontados no documento já foram comunicados pela corporação sobre as supostas fraudes.

Uma circular do TCE-RJ destacou que a “inserção ou declaração de informações falsas em sistemas de solicitação do benefício podem caracterizar os crimes de falsidade ideológica e estelionato”. O órgão também apontou que os militares podem devolver valores recebidos de forma indevida a partir de um site desenvolvido pelo Ministério da Cidadania.

Em nota, a Polícia Militar declarou que os documentos analisados pela DGP serão enviados posteriormente à Corregedoria Geral da Polícia Militar, que irá apurar os casos individualmente. A corporação também destacou que “não compactua com quaisquer desvios de conduta por parte de seus integrantes”.

Fonte: R7

Investigações de juízes e procuradores travam em órgãos de controle; CNJ pune menos de 1% dos casos

Ágeis em anunciar apuração, conselhos evitam julgamentos relevantes e arquivam casos polêmicos

 Criados em 2005 para fiscalizar o trabalho de juízes e promotores, os conselhos nacional de Justiça e do Ministério Público ficaram mais marcados neste período pelo arquivamento de casos conhecidos do que por impor penas severas aos profissionais.

O CNJ, por exemplo, já autuou ao menos 13.638 processos disciplinares, mas em apenas 104 casos, o equivalente a 0,78%, houve punição a magistrado.

Apesar dos números, os conselhos sempre serviram como um escudo perante a opinião pública.

Os órgãos são rápidos para anunciar a apuração de desvios éticos, como o caso do desembargador Eduardo Siqueira, que responderá a procedimento por humilhar um guarda municipal após ser abordado por estar na rua sem máscara.
O desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo Eduardo Siqueira, flagrado humilhando um Guarda Civil Municipal após o agente pedir que ele utilizasse máscara na praia de Santos, no litoral de São Paulo - Reproducao/TV Tribuna

Em muitos casos, porém, as apurações não têm resultado prático. O juiz João Carlos Corrêa, por exemplo, passou por situação parecida por ter dado voz de prisão a uma agente de trânsito numa blitz e o processo foi arquivado no CNJ.

O episódio aconteceu em 2011 e, em 2013, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro afirmou que ele não cometeu nenhuma irregularidade e encerrou o processo.

Em 2016, o assunto voltou a ganhar o noticiário após a agente ser condenada a pagar R$ 5 mil de indenização ao magistrado por danos morais, e o CNJ resolveu revisar o caso.

Na ocasião, a ação tinha sido movida por ela, mas a 36ª Vara Cível do RJ entendeu que o prejudicado foi o juiz, uma vez que a profissional teria o ironizado ao dizer que ele era “juiz e não Deus”.

O procedimento, porém, foi arquivado definitivamente porque o conselho entendeu que o TJRJ já havia apurado o caso “com profundidade”.

Em relação à Lava Jato, a provocação para apuração da conduta de procuradores e juízes já partiu até do STF (Supremo Tribunal Federal), mas nenhum caso foi para frente.

O ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol já responderam, cada um, a mais de 30 procedimentos, mas todos foram arquivados ou têm tramitação lenta.

Uma representação em que o PT acusa Moro de ter tornada pública uma conversa por telefone entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a então presidente Dilma Rousseff sem decisão judicial figurou na pauta do CNJ mais de 15 vezes, mas nunca foi chamado para julgamento.

Em junho do ano passado, o corregedor-nacional de Justiça, Humberto Martins, arquivou o caso monocraticamente e classificou o caso como “mero inconformismo” da parte, que teria apresentado apenas “alegações genéricas”.

Dallagnol, por sua vez, já viu a data de julgamento da representação a que responde por suposta infração na apresentação da denúncia contra Lula em um power point ser adiada por mais de 40 vezes.

O coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, porém, já sofreu a pena de advertência, a mais leve do CNMP.

A sanção foi imposta porque ele disse que ministros do STF formavam uma “panelinha” que passava uma “mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção”. Dallagnol, porém, ainda recorre e o caso não teve um desfecho definitivo.

As penas impostas pelos conselhos variam. O que o CNMP pode fazer é indicar a demissão do servidor, e aí cabe à procuradoria-geral do MP no estado ingressar com uma ação para perda de cargo do servidor, que fica afastado de imediato.

No CNJ, não há possibilidade de desligamento e a punição máxima é a aposentadoria compulsória.

Dos 104 magistrados punidos pelo CNJ, 66 deles sofreram esta penalidade. Apenas dois deles foram julgados na gestão do atual presidente do conselho, ministro Dias Toffoli.

Mas, apesar da sanção, os 104 juízes ainda representam despesa para os cofres públicos, uma vez que a punição é de aposentadoria com vencimentos proporcionais.

O CNJ sempre é comandado pelo presidente do STF, assim como o CNMP é presidido pelo procurador-geral da República.

Para o ex-corregedor Nacional de Justiça Gilson Dipp é necessário atualizar a Lei Orgânica da Magistratura, que estabelece as penas a serem impostas aos magistrados.

“Poderiam modernizar a lei e possibilitar punições mais efetivas. Também poderia explicitar quando seriam impostas as punições, deixar mais clara e menos subjetiva a situação em que pode ser enquadrada cada conduta”, diz.

Dipp diz, ainda, que não se pode negar que há um corporativismo entre os membros da magistratura que pode interferir nos julgamentos.

Ele defende, ainda, que o CNJ não pode “se imiscuir” em todos os episódios em que magistrados podem ter cometido algo mais grave, uma vez que as corregedorias dos tribunais locais também têm essa atribuição.

Dipp ressalta, porém, que boa parte dos mais de 13 mil procedimentos disciplinares tratam-se de ações manifestamente infundadas ou visavam reverter decisão judicial por discordância de interpretação, sem que estivesse caracterizado desvio de conduta.

“Tem decisões do CNJ violentas, no meu tempo aposentamos até um colega do STJ”, recorda.

Ex-conselheiro do CNMP e promotor de Justiça, Dermeval Farias afirma que os dados têm de ser interpretados com cuidado porque em muitos procedimentos arquivados houve punição imposta pela corregedoria local.

Além disso, ele destaca que há muitos casos que são encerrados por não se tratarem de questões disciplinares exatamente, mas de inconformismo judicial que deve ser analisado pelos tribunais.
Farias ressalta, porém, que existe um receio na classe de que a conjuntura política tenha mais peso que a análise técnica do caso concreto.

“Acho que a grande maioria das decisões do CNMP tem respaldo nas provas dos autos, mas há um temor de que, a médio e longo prazo, o caráter político de decisões disciplinares se sobreponha à atuação jurídica”, diz.​

O professor e doutor em direito pela USP Rafael Mafei destaca que muitos procedimentos em curso no CNJ visam a reversão judicial e não necessariamente envolvem faltas disciplinares.

Mafei também realça que outro função importante do conselho é assegurar aos magistrados uma atuação independente.

“A possibilidade de revisão das punições é fundamental porque muitas vezes são impostas sanções indevidas nos estados por conjuntura local. Pode ocorrer de um Judiciário conservador não aceitar um juiz que é mais progressista ou, por exemplo, situações em que o Ministério Público vai para cima de um juiz garantista e a cúpula do Judiciário prefere se alinhar ao grosso do MP do que a um juiz isolado”, cita.

O corregedor-nacional do Ministério Público, Rinaldo Reis Lima, afirma que o trabalho do conselho é “plenamente satisfatório”.

“É preciso ver que o CNMP se dedica apenas a casos que tomaram maior relevância e que, então, justifique que seja julgado no CNMP, porque existem outras 30 corregedorias que estão atuando firmemente e de maneira bastante satisfatória também na apuração da imensa maioria das infrações disciplinares”, diz.

A demora em alguns julgamentos, segundo ele, ocorre devido à complexidade dos casos.

Ele também afirma que o trabalho do conselho não se restringe à apuração da conduta dos profissionais. “Essa é na verdade até a menor parte da atuação do CNMP, que tem também atua no controle administrativo e financeiro de todos MP do Brasil.”​

Em nota, o CNJ justificou que muitas reclamações disciplinares que chegam ao órgão tratam, na verdade, de “inconformismo com decisões judiciais e escapam da competência do conselho”.

“Isso explica o grande número de processos que são liminarmente descartados pela Corregedoria Nacional de Justiça”, argumenta.

O CNJ também afirma que sempre esteve atento à atuação dos cerca de 18 mil juízes do país e que sua atribuição vai muito além da questão disciplinar.

“Vale destacar que receber reclamações, petições eletrônicas e representações contra membros ou órgãos do Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares —serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializado—, assim como julgar processos disciplinares, são duas entre as muitas tarefas exercidas pelo Conselho”, diz.

Números das investigações nos conselhos

CNJ

0,78%
dos processos disciplinares autuados no CNJ resultaram em punição a magistrados

81.596
processos já tramitaram ou ainda estão em curso no CNJ

13.638
dizem respeito a questões disciplinares

118
é o número de penalidades impostas, incluindo a servidores

104
é o número de punições a magistrados

66
juízes sofreram pena máxima, a aposentadoria compulsória

17
é o número de sanções a integrantes do TJ do Maranhão, o recordista

CNMP

20.606
é o número de procedimentos autuados na história do CNMP

279
é o número de sanções impostas

69
é o número de advertências

21
é o número de demissões

86
é o número de suspensões

Fonte: FOLHA.UOL.COM.BR

Os revolucionários de hoje não são como os dos anos 60. São muito mais perigosos

protesto minneapolis Durante os anos 1960 e até o começo da década seguinte os Estados Unidos se viram abalados por enormes protestos que pediam mudanças radicais nas atitudes do país em questões raciais, de classes sociais, gênero e orientação sexual. A Guerra do Vietnã e o consequente adiamento nas convocações militares de muitos estudantes universitários (que eram automaticamente dispensados do recrutamento) provavelmente foram os responsáveis pela mudança de atitude nos protestos por desobediência civil, antes pacíficos.

Algumas dessas manifestações se tornaram bastante violentas, como aquela que ficou conhecida como a Rebelião de Watts, que ocorreu em 1965 em Los Angeles, assim como os protestos na Convenção do Partido Democrata em Chicago em 1968. Terroristas do grupo Weatherman (mais tarde conhecidos como Weather Underground) bombardearam dezenas de instalações do governo.

As revoluções dos anos 1960 apresentaram o país várias novidades, desde o movimento hippie e suas comunas, o amor livre, tatuagens em massa, blasfêmias generalizadas, excessivo uso de drogas, o rock e altas taxas de divórcio até a Guerra contra a Pobreza, um massivo crescimento do governo, feminismo, ações afirmativas e currículos universitários voltados para questões étnico-raciais e de gênero.

 A contracultura dos anos 1960 era inimiga do “establishment” – políticos, corporações, os militares e toda uma geração chamada de “quadrados” ou "caretas". Os esquerdistas miravam nos próprios pais, que cresceram durante o período da Grande Depressão. Foi essa geração quem venceu a II Guerra Mundial, e voltou à América para criar uma economia que prosperou a partir do pós-guerra. Depois de crescerem em meio a grandes dificuldades econômicas e militares, eles só queriam voltar a ter um pouco de conforto e tranquilidade durante os anos 1950.

Meio século depois dessa primeira leva, a revolução cultura de hoje é muito diferente – e muito mais perigosa.

A máquina pública cresceu, assim como as dívidas. O ativismo social foi institucionalizado por meio de centenas de novos programas sociais federais. A Grande Sociedade inaugurou investimentos trilionários para garantir um estado de bem-estar social. As taxas de divórcio decolaram e a família tradicional está minguando. Imigrações, tanto legais quanto ilegais, dispararam.

Como consequência, a América se tornou cada vez mais dividida, muito menos resiliente, mais endividada e muito mais vulnerável do que estava nos anos 1950.

Os radicais de hoje não protestam contra o conservadorismo dos anos 1950, mas sim contra os radicais de 1960, que outrora foram liberais e agora detêm o poder. Muitas dessas pessoas -- governadores democratas, prefeitos e chefes de polícia -- são agora de esquerda. E diferentemente do prefeito democrata de Chicago nos anos 1960 Richard J. Daley, os líderes civis progressistas muitas vezes simpatizam com os manifestantes.

 Os protestos dos anos 1960 se davam a favor da integração e da assimilação racial proposta por Martin Luther King Jr., e para pôr em prática sua agenda de tornar a questão de raça muito mais incidental do que essencial na mentalidade dos americanos. Não é mais assim com a revolução cultural de hoje. Esta busca garantir que as diferenças raciais sejam a base da vida americana, dividindo o país entre as supostas vítimas não-brancas e seus pretensos vitimadores, passado e presente.

Nos anos 1960, os radicais se rebelavam contra seus professores, na maioria das vezes altamente competentes, e os produtos de uma educação indutiva baseada em fatos. Nada disso acontece em 2020. Os radicais de hoje não são mais ensinados por tradicionalistas, mas por velhos radicais menos instruídos.

Outro ponto chave são as dívidas. A educação pública nos anos 1960 era muito simples e relativamente barata. Talvez porque não havia a necessidade de dormitórios forrados de pelúcia, cafés descolados, paredes de escaladas, coordenadores de diversidade e reitores de inclusão, os custos das faculdades medidos em dólares de verdade eram muito mais baixos.

A diferença é que nos anos 1960 os estudantes radicais se formavam sem muitas dívidas e, de forma bem “descolada”, conseguiam entrar na economia. Os graduandos de hoje devem mais de US$ 1,6 trilhão em financiamentos estudantis – muitos deles contratados para custear um ensino politizado, terapêutico e até medíocre, o que não impressiona os empregadores.

Quem tem débitos estudantis leva mais tempo para ter maturidade, casar e criar os filhos e não consegue comprar uma casa ou começar uma poupança. Em outras palavras, os radicais de hoje estão muito mais desesperados e nervosos porque pagaram pela faculdade, mas não conseguem retorno nesse investimento.

 Há também uma divisão geográfica, como em 1861, e não só uma divisão de gerações como em 1960. As duas costas, leste e oeste, são fortemente dominadas pelos Democratas que parecem desprezar o interior do país, regido pelos Republicanos. E vice-versa.

A face mais assustadora da revolução atual é que a maioria dos seus simpatizantes não mudou muito de 1960 para cá. Eles podem estar mais ricos, mais poderosos, mais influentes e mais velhos, mas eles também continuam tão inconsequentes quanto eram décadas atrás, e seguem vislumbrando o caos como a vitória final de sua marcha iniciada há seis décadas.

As grandes corporações não são mais vistas como uma encarnação do mal, e sim como aqueles que despertaram para a realidade e hoje ajudam na revolução. Os militares não carregam mais a pecha de serem aqueles que advogam em favor do conflito, e hoje são louvados como um serviço de funcionários públicos onde as agendas de raça, classe social e gênero podem avançar sem toda aquela sujeira do debate legislativo. Ao contrário dos anos 1960, essencialmente não há mais conservadores em Hollywood, nas universidades ou dentro da burocracia governamental.

Assim, a guerra não opõe mais radicais contra conservadores, mas em sua maioria socialistas e anarquistas contra ambos liberais e conservadores.

Nos anos 1960, uma enorme “maioria silenciosa” finalmente conseguiu o que queria: elegeu Richard Nixon e conseguiu lidar com a revolução, inclusive prendendo criminosos que faziam parte do movimento. Hoje, se existe um grupo de tradicionalistas e conservadores, certamente eles estão bem escondidos.

 E se continuarem assim, quietos em seus monastérios mentais repudiando a violência em um cândido silêncio, a revolução vai esmagá-los como um rolo compressor. Por outro lado, se assim como no passado esses conservadores tiverem um estalo e perceberem que a situação atual chegou ao limite, e que precisam reivindicar de volta seu país, então quem sabe essa nova revolução cultural também possa ser superada.

 

 Fonte: GAZETADOPOVO

Ex-esquerdistas, ex-gays, ex-feministas: quem são os novos conservadores

Miriam Fróes, líder do Movimento de Ex-Gays do Brasil, direita direcionada por causa da religião - Arquivo pessoal A ativista Sara Winter e o guru político Olavo de Carvalho, duas vozes megafônicas da nova direita brasileira, são apenas alguns exemplos de um fenômeno recorrente. Mesmo com biografias bem distintas, possuem um ponto em comum: cada um deles deu uma virada ideológica após um "abraço" na esquerda. São os novos conservadores.

Winter é uma autoproclamada ex-feminista presa por atos antidemocráticos, e Olavo é autoproclamado ex-militante do Partido Comunista Brasileiro. Esse tipo de virada nem é tão inédita: o jornalista Paulo Francis (1930-1997), ex-trotskista, declarou-se conservador e ferrenho antipetista nos anos 1990.

Histórias assim não são incomuns, mas como é possível tamanha metamorfose? A história do funcionário público Jones, de 44 anos, ilustra bem essa virada de 180 graus. Com medo de ataque de haters e trabalhando em um cargo concursado, ele pede para não ter imagens suas publicadas aqui -- nem declara seu sobrenome.

A guinada à direita levou cerca de doze anos para acontecer na vida desse professor, que vive em Brasília. Filiado ao PT de 1998 a 2004, ele ainda guarda uma foto, em que está abraçado ao presidente Lula, tirada durante um comício de seu "ex-companheiro". Na mesma pasta, armazenada em seu computador, coleciona diversas cenas de 2016 -- ano em que, vestido com o uniforme verde e amarelo da CBF, marchou em frente ao Congresso Nacional em todas as passeatas que pediam o impeachment de Dilma Rousseff.

Anonimamente, abriu em 2020 uma página no Instagram, a Ex-Esquerdista13, que estreou em março sob críticas. "Absurdo! Mangueira compara bandido morto com Jesus Cristo!", postou, sobre o desfile da escola de samba carioca. "Bandido, não. Jovem preto e favelado. Mas pra você é a mesma coisa, né?", responderam nos comentários.

Ex-petista, mas ainda militante

O funcionário público encara os preceitos religiosos como algo, em todos os sentidos, sagrado -- afinal, fora batizado em igreja evangélica e criado em uma família frequentadora da Assembleia de Deus. "Mesmo quando abraçava os ideais esquerdistas, não aceitava a pressão em conversas como a legalização do aborto, a união homoafetiva, a liberação das drogas, o ateísmo, muito menos em usar a palavra de Deus em vão. A mídia sempre quis nos empurrar esse tipo de ideia nas notícias, nas novelas, nas rodas de conversa, mas nunca os aceitei, porque vão contra os ensinamentos bíblicos", prega.

Como um conservador topou se filiar ao Partido dos Trabalhadores, partido que acabou aglutinando em torno de si uma série de movimentos identitários? Jones conta que, em 1998, encantou-se pelo discurso em prol da defesa dos direitos trabalhistas e da luta contra a desigualdade social adotados por sua chefe de trabalho. Até então, ele nunca havia prestado atenção à política. Jura que só se desfiliou em 2004 porque queria trabalhar como mesário na reeleição de Lula.


Mas a estrela petista começou a apagar para Jones em 2005, com o escândalo do mensalão. Ainda assim, ele ajudou a reeleger Lula e votou em Dilma Rousseff, nas duas eleições.

"Foi a partir das manifestações de junho de 2013 que discursos que mobilizavam os temas da anticorrupção e do antipetismo, que já circulavam nos meios digitais desde o mensalão, passaram a se tornar centrais no processo de formação desse novo público", diz ao TAB Camila Rocha, autora de "Menos Marx, Mais Mises: Uma Gênese da Nova Direita Brasileira", tese de seu doutorado defendida na USP (Universidade de São Paulo), em 2018.

A cientista política também ressalta o impacto do avanço de pautas progressistas no Brasil diante de setores conservadores. "Entre 2011 e 2014, o Supremo Tribunal Federal aprovou, quase numa sequência, projetos como as cotas raciais, a Lei da Palmada, Comissão da Verdade, a PEC das Domésticas, a união civil de pessoas do mesmo sexo... Essas transformações tão impactantes em um curto espaço de tempo assustaram muita gente", explica Rocha.

O conservadorismo sai do armário

De acordo com pesquisa do Monitor do Debate Político no Meio Digital, em outubro de 2019, 44% da população se declarava conservadora religiosa, 35% era punitivista laica (perfil mais difuso, que, ao mesmo tempo, defende leis mais severas contra criminosos mas pode ser liberal em outros temas, como o direito ao aborto), e só 21% possuía um perfil progressista. "E isso porque o estudo foi realizado na cidade de São Paulo. Em geral, metrópoles tendem a se posicionar mais à esquerda, e o interior, à direita", diz ao TAB Pablo Ortellado, coordenador do órgão e professor do curso de políticas públicas da USP (Universidade de São Paulo).

De acordo com o acadêmico, os vídeos produzidos pelo autointitulado filósofo e astrólogo Olavo de Carvalho a partir de 2015 contribuíram para que inúmeros conservadores, então acuados com o avanço progressista, assumissem posição. "Em um momento em que ninguém se dizia de direita, ele atuou como um 'cavaleiro solitário' e convenceu muita gente", observa o especialista.

Jones foi um dos que se encantou por Olavo e, em 2013, adotou de vez o discurso da nova direita. "Você viu o documentário 'Agenda'? Em 2015, assisti por recomendação do filósofo e aquilo abriu minha mente. Vai abrir a sua também", aconselha.

O filme de 2010, do cineasta americano Curtis Bowers (membro do Partido Republicano), prega que as ideias progressistas -- como a liberação do casamento homoafetivo, o fim do ensino religioso nas escolas, além dos movimentos feminista e pelos direitos civis -- escondem um plano de membros do Partido Comunista para acabar com a família, promover o caos e consequentemente retomar o poder. "Percebi que sempre fui conservador. Só não havia encontrado uma voz que representasse meus ideais", diz Jones.

Em suas redes sociais, Olavo de Carvalho se proclama como o "parteiro da nova direita". Com um discurso mirabolante, Carvalho acumula quase um milhão de seguidores em seu canal no YouTube e molda a ala ideológica do governo brasileiro. Mas ele não representa todas as facetas da nova direita. "Há décadas, sempre houve os defensores dos militares, os religiosos e os neoliberais. Afinal, o Brasil nunca fez uma transição completa entre ditadura e democracia, jamais refletiu nem passou a limpo a sua história, como fez a Argentina", afirma Esther Solano, professora de Relações Internacionais na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), em conversa com o TAB.

Espectros diferentes, opiniões parecidas

De 2013 até hoje, esses grupos diversos e às vezes até antagônicos -- como evangélicos e católicos -- se uniram e alinharam um mesmo discurso defendido nos vídeos do guru, nas rodas de conversas da sociedade e no Congresso. São basicamente pautas com um viés moral, como o combate à corrupção, a criminalização do aborto, o fim das cotas raciais e a liberação do porte de armas. "O 'pauloguedismo' e suas ideias liberais, como privatizações, pegou carona nesse movimento", diz Ortellado.

Apesar de opostos, adeptos da direita e da esquerda mal percebem que podem se encontrar em causas em comum. "Fizemos uma entrevista na última Marcha para Jesus e percebemos que o público, mesmo religioso-conservador, era a favor de direitos iguais para homens e mulheres, repudiavam o assédio e a grande maioria não discrimina os LGBTs. A diferença de suas ideias em relação aos progressistas é que eles se declaram contra os movimentos sociais, a chamada 'baderna'", conta o professor.

Líder do Movimento de Ex-Gays do Brasil (MEGB), Miriam Fróes, 57 anos, encontrou-se em 2019 com a ministra Damares Alves, responsável pela pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e diz que, atualmente, se identifica com os ideais da direita.

Nem sempre foi assim. Dos 13 aos 33 anos, manteve relações homoafetivas e integrava a luta LGBTQI+, frequentando movimentos organizados pela esquerda. Em 1996, tornou-se fiel em uma igreja evangélica, decidiu se tornar heterossexual e largar ex-companheiros. Até quase aceitou um pedido de noivado, conta. Solteira há 17 anos ("vivo em santidade e me casei com meu trabalho"), ela conta que a mudança ideológica e sexual ocorreu por causa da religião. "Não usamos o termo 'cura gay' porque não se trata de uma doença. Foi simplesmente uma decisão movida pela fé, para seguir os preceitos bíblicos. Nesse sentido, eu me declaro uma neoconservadora", conta.

A estudante trans Luana Nogueira, de 19 anos, também viveu um vaivém ideológico, guiado por sua sexualidade. "Até 2015, eu era bolsonarista fanático, mais do que isso, um garoto cheio de preconceitos. Naquele ano, descobri que sou bissexual e naturalmente passei a frequentar o movimento LGBTQI+", lembra. Durante dois anos, Luana passou a ler clássicos de Marx, mas também inscreveu-se no canal de Olavo de Carvalho. "Ninguém dos meus amigos da esquerda aceitava meus valores familiares, o fato de eu admirar um casamento como o dos meus pais, muito menos eu consumir obras do Olavo. Aí, descobri que ser gay não me leva automaticamente para a esquerda. Sou bi, sigo valores conservadores e não acredito mais que isso se trata de um paradoxo", ela conclui. Em 2017, voltou de vez ao conservadorismo e criou um grupo no Facebook, o Gays de Direita.

O perfil de Luana destoa dos neoconservadores na internet. "A maioria dos internautas que consome política nessa rede social possui mais de 40 anos de idade", diz ao TAB Márcio Moretto, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo e um dos coordenadores do Monitor do Debate Político no Meio Digital. Segundo suas pesquisas, direita e esquerda possuem um mesmo tom "inflamado", intolerante a ideias diversas -- o tal discurso de ódio.

O futuro da polarização

"Para mim, o retrato dessa nova direita é o João Revolta, do TV Revolta, canal do YouTube", acredita Moretto. O influencer conservador estreou na internet em meados de 2010, reclamando contra situações corriqueiras do cotidiano: buracos nas ruas, ônibus saltitantes etc. Percebeu que ganhava audiência com política e, em 2015, mergulhou na campanha pró-Bolsonaro. "Em pesquisas, percebemos que a direita hoje domina o YouTube numa proporção de 7 para 5 em relação à esquerda. Figura como um dos principais meios de propaganda dessa ideologia", afirma o acadêmico.

E qual seria o futuro desse fenômeno "Direita, volver"? No último ano, testemunhamos uma sequência de rupturas -- e o "blocão" que levou conservadores ao poder se desmembrou. Nesse ringue, viu-se Bolsonaro versus diversos aliados que se tornaram adversários, como o PSL, a deputada federal Joice Hasselmann, o MBL, a deputada estadual Janaina Paschoal, o governador João Doria e, por último, Sérgio Moro, ex-juiz da Lava Jato e, há dois meses, ex-ministro da Justiça. "Na internet, não houve abalos. Apesar das rupturas, conservadores seguem firmes", diz Moretto.
Seu colega, o professor Pablo Ortellado, analisa que tanto direita quanto esquerda apresentam-se cada vez mais coesas e homogêneas. "Difícil prever o futuro dessa polarização. Mas a migração de um polo para o outro, ou seja, ex-comunistas que se tornaram pró-militares, isso tende a diminuir ou acabar, por causa de uma consolidação de ideias, sem espaço para pensamentos independentes", prevê. Trata-se, então, do fim do pêndulo ideológico.

Fonte: TAB.UOL.COM.BR

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                                  Saiba os benefícios de usar o LinkedIn para a sua vida profissional - IFS -  Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe 

blogimpakto  acervo       jornalismoinvestigativo      Capa do livro: Prova e o Ônus da Prova - No Direito Processual Constitucional Civil, no Direito do Consumidor, na Responsabilidade Médica, no Direito Empresarial e Direitos Reflexos, com apoio da Análise Econômica do Direito (AED) - 3ª Edição - Revista, Atualizada e Ampliada, João Carlos Adalberto Zolandeck   observadh

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