OAB na cola e pressão do STJ: o futuro da advogada suspeita de vender sentenças

d1216 Era o início do segundo semestre quando a cúpula do Superior Tribunal de Justiça (STJ) foi notificada sobre suspeitas de que a advogada Caroline Azeredo, ex-servidora de um dos gabinetes da Corte, integrava um grupo que vendia decisões judiciais de ministros no segundo tribunal mais importante do país. As revelações, tornadas públicas por VEJA em outubro, levaram magistrados do STJ a cobrar providências contra a permanência de Caroline nos quadros da advocacia e elencar outros profissionais que, a pretexto de manter contatos próximos com servidores e com os filhos dos próprios juízes, também poderiam estar vendendo influência sobre sentenças.

Na primeira fase da investida contra Caroline, a seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) suspendeu preventivamente o registro profissional da advogada e abriu um processo disciplinar para apurar o caso. Partiu do ex-marido de Caroline a denúncia de que ela negociava com um assessor da ministra do STJ Nancy Andrighi uma lista de processos para que, nas palavras do denunciante, “realizasse os achaques” às partes.

Em um dos casos, o alvo da tentativa de extorsão foi o presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal Wellington Luiz (MDB), a quem teria sido discutido exigir o pagamento de 500.000 reais em propina em troca de uma decisão favorável do gabinete de Andrighi. Em nota a VEJA na época das revelações, ela negou irregularidades e atribuiu as acusações à vingança do ex. O assessor foi afastado e responde a um processo administrativo disciplinar.

VEJA teve acesso a despachos sigilosos do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB sobre a situação profissional de Caroline. Segundo a OAB, “os elementos em questão reforçam as suspeitas de que a representada teria participado de uma rede estruturada de tráfico de influências para obtenção de decisões judiciais mediante pagamento de propinas, prática que, segundo as investigações preliminares, conta com ampla repercussão e potencial prejuízo à imagem da advocacia”. O caso é investigado pela Polícia Federal.

A PF rastreou as entradas e saídas da advogada do país desde 2008. O último registro de viagem ao exterior é de 23 de setembro passado, sem anotações de data de retorno. Caroline passa temporadas no exterior e, desde que o caso veio à tona, não retornou ao Brasil, conforme dados do Sistema de Tráfego Internacional da polícia. Mesmo no período das investigações, em suas redes sociais posta registros de momentos de lazer e festas em praias da Europa. Em uma ocasião recente, posou no bairro de Notting Hill, em Londres. Alheios à vida pessoal da advogada, o processo disciplinar na OAB e as apurações sobre tráfico de influência e venda de decisões judiciais seguem a todo vapor.

Fonte: https://veja.abril.com.br/politica/oab-na-cola-e-pressao-do-stj-o-futuro-da-advogada-suspeita-de-vender-sentencas

Marinha paga R$ 4 mi de pensão a mulher morta, e filha usa dinheiro

d1213 A Marinha pagou pensão militar, durante quase duas décadas, a uma mulher morta. A Força depositou R$ 1,2 milhão (o equivalente a R$ 3,8 milhões em valores atualizados) na conta da falecida, entre 2000 e 2018, mas não conseguiu recuperar o dinheiro, pois a filha da pensionista tinha acesso ao cartão e usou o dinheiro indevidamente.

Alda Soares dos Santos Montenegro, filha e procuradora da ex-pensionista, foi condenada a três anos e dois meses pela Justiça Militar. Agora, a Advocacia-Geral da União (AGU) cobra R$ 3,8 milhões dela, que se diz arrependida, mas alega não ter condições para pagar.

A mãe de Alda recebia pensão como filha solteira de militar e faleceu em agosto de 2000. A Marinha não cessou o pagamento. Alda, por sua vez, aproveitou a situação, deixou de informar o óbito à Força e, com o auxílio de duas primas, agiu para perpetrar a fraude ao longo de duas décadas. O último pagamento foi realizado pela Marinha em janeiro de 2018.

No decorrer desse período, a Marinha solicitou nove provas de vida, mas não conseguiu identificar a fraude. Isso porque Alda pedia a uma prima que se passasse pela mãe dela. A farsa colou.

Fonte: https://gmconline.com.br/noticias/geral/marinha-paga-r-4-mi-de-pensao-a-mulher-morta-e-filha-usa-dinheiro/

SP: PM aposentado atira contra crianças que o alertaram sobre seta de carro

d1206 Um sargento aposentado da Polícia Militar, Claudio de Fontes Alves, atirou contra crianças após elas avisarem que havia um problema com a seta de seu carro, em Itanhaém, no litoral paulista. O caso ocorreu na noite do último sábado (30).

O que aconteceu

Vídeo mostra sargento aposentado da PM atirando contra crianças. A filmagem de câmeras de segurança da rua Humberto Ladalardo mostra um carro vermelho passando com a seta esquerda traseira ligada. Crianças sentadas na calçada acenam para o motorista do carro, o ex-sargento Alves, e indicam que havia um problema com o veículo. Ele freia e dá ré enquanto as crianças fogem. O militar aposentado então desce do carro e dispara contra as crianças; ninguém ficou ferido.

Caso foi registrado como ameaça e disparo de arma de fogo. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública aponta que após a denúncia ser realizada, o PM aposentado compareceu na tarde de ontem (2) ao 3° DP de Itanhaém, onde foi ouvido. Ele entregou sua arma para perícia e foi liberado.

SSP não deu mais informações sobre o caso. A Secretaria afirmou que "demais detalhes serão preservados para garantir autonomia ao trabalho policial".

O UOL tentou contato com Claudio de Fontes Alves e com a Polícia Militar, mas não teve resposta. Este espaço segue aberto paraposicionamento. 

Fonte: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2024/12/03/pm-aposentado-atira-em-criancas.htm

Derrite tira aposentadoria de policial por mesada de R$ 5 mil do PCC

d1202 Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite determinou a cassação da aposentadoria do policial civil Renato Pexeiro Pinto, conhecido como Peixe. O agente foi condenado pela 2ª Vara da Fazenda Pública por improbidade administrativa, acusado de receber “mesada” de R$ 5 mil de traficantes ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC).

No mesmo processo, também foi condenado o investigador de polícia Mark de Castro Pestana, o Max. Ele foi punido por Derrite com a demissão a bem do serviço público. As investigações conduzidas pela Corregedoria de Polícia Civil e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP), apontaram que Peixe e Max tinham um acordo com o grupo liderado pelo traficante Wanderson de Paula Lima, o Andinho, um dos líderes do PCC.

Em conversas telefônicas monitoradas pela polícia, os dois foram citados como informantes e colaboradores da facção por um traficante identificado como Agnaldo Aparecido da Silva Simão, conhecido como Codorna. “A relação entre os requeridos e os traficantes do bairro Jardim São Fernando foi descoberta pelo Gaeco quando havia investigação de outra quadrilha formada por policiais da capital e que estavam exigindo pagamento de valores para não efetuar as prisões”, diz a denúncia contra Max e Peixe.

“Uma escuta telefônica da polícia descobriu tais traficantes fazendo referência ao pagamento de valores aos requeridos, e o fato foi confirmado pelo traficante Agnaldo Aparecido da Silva Simão, conhecido como Codorna. Codorna contou, ainda, que mensalmente entregava aos policiais Peixe e Max, como são conhecidos os requeridos, a quantia de R$ 5.000,00”, apontou o MPSP no inquérito contra os policiais. O valor anual da propina chegava a R$ 300 mil para cada agente.

Peixe e Max foram presos em junho de 2013, quando estavam lotados no 10º Distrito Policial de Campinas. Em 2015, foram libertados mediante habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). Em 2019, os policiais foram condenados a perda da função pública, suspensão de direitos políticos, multa de R$ 144 mil e proibição de contratar com o poder público por 5 anos. Renato Pexeiro Pinto também foi condenado a devolver mais R$ 144 mil aos cofres públicos por enriquecimento ilícito.

Fonte: https://www.metropoles.com/colunas/paulo-cappelli/derrite-tira-aposentadoria-de-policial-por-mesada-de-r-5-mil-do-pcc

Carro usado por PMs que acompanhavam Malafaia na hora do assalto pertence à igreja do pastor

d1129 Os policiais militares envolvidos na troca de tiros com suspeitos da tentativa de assalto ao pastor Silas Malafaia, no Rio de Janeiro, estavam em um carro que pertence à Assembleia de Deus Vitória em Cristo, igreja da qual o pastor é líder.

A confirmação da propriedade do veículo foi realizada pela reportagem em consulta a banco de dados e não consta no relatório policial.

A vinculação dos agentes à igreja não foi dita nos depoimentos realizados na 22ª DP (Penha), unidade que fez o registro inicial da ocorrência do crime ocorrido nesta quarta (26). Tampouco os agentes mencionaram a presença do pastor.

A corregedoria suspeita que os policiais estivessem atuando como seguranças de Malafaia, o que contraria as normas da corporação, que veda a realização de segurança privada, por exemplo. Por isso, os agentes podem ter omitido essa informação em seus depoimentos. A Folha não conseguiu contato com os policiais.

Em depoimentos na delegacia, os policiais militares André Luiz Barcelos, Ricardo Barbosa e Obedis Almeida Rosa afirmaram que estavam de folga, dentro do veículo, quando viram quatro homens tentando assaltar o carro BMW que estava à frente deles.

Malafaia estava nessa BMW, que é blindada. A assessoria do pastor não retornou aos contatos feitos por email e telefone.

Ainda segundo os PMs, após a tentativa de assalto à BMW falhar, os suspeitos tentaram roubar o Toyota em que eles estavam, momento no qual reagiram. No total, os agentes realizaram 23 disparos.

Em depoimento, Barcelos disse que "repeliu a injusta agressão efetuando seis disparos com pistola 9 mm contra os autores do fato criminoso. Que também tais elementos efetuaram disparos de arma de fogo contra este declarante".

Ele acrescentou que seguiu um dos suspeitos que fugira a pé até uma unidade de saúde. Imagens das redes sociais mostram policiais à paisana cercando a unidade e entrando armados no local. Um deles portava um fuzil. Não é possível, ainda, saber se são os mesmos agentes.

O suspeito baleado foi identificado como Gabriel Ribeiro Pedro, 23. Ele já teve alta e foi preso, com audiência de custódia marcada para esta quinta (28). Não há defesa cadastrada até o momento.

Também em depoimento, o policial Barbosa afirmou que viu "quatro indivíduos armados em ação criminosa tentando roubar um veículo BMW que estava à frente. Que, posteriormente, tais elementos vieram na direção do veículo no qual se encontrava". Ele afirma ter realizado doze disparos com pistola.

Versão semelhante disse o policial Obedis, que afirmou ter realizado outros cinco disparos.

O caso segue sendo investigado. Até o momento, a polícia já identificou os outros suspeitos envolvidos na troca de tiros.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/11/carro-usado-por-pms-que-acompanhavam-malafaia-na-hora-do-assalto-pertence-a-igreja-do-pastor.shtml

Grampo contra Youssef mostra como funcionários de base tomaram o controle do país

dd1125 O segredo em torno do grampo instalado na cela do doleiro Alberto Youssef voltou a mostrar como funcionários da base do sistema de Justiça, da Polícia Federal e do Ministério Público, turbinados pela opinião pública, conseguiram submeter Brasília à rebelião da “lava jato”.

O ministro Dias Toffoli tirou o sigilo do grampo ilegal feito na cela de Youssef

Parte do mistério que havia sobre o caso foi revelado nesta quinta-feira (21/11), com a decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, de retirar o sigilo das escutas ilegais. Se ainda havia dúvidas a respeito do grampo, agora é possível acessar o material.

O HD com os áudios foi ocultado das investigações durante dez anos, desde 2014, quando a escuta foi encontrada. Nesse período, delegados deixaram de obedecer ordens de juízes para informar onde estava o conteúdo do grampo, o MPF fez de conta que não havia escuta e Sergio Moro, ex-fiador da “lava jato”, omitiu o fato de que o material estava o tempo todo escondido na 13ª Vara Federal de Curitiba, da qual ele era o juiz titular.

As provas forjadas deram origem ao esquema da “lava jato” e serviram para fundamentar processos contra um sem-número de políticos e empresários. A farsa demorou para ser desmontada e a decisão de Toffoli é mais um capítulo que possibilita revisitar os métodos da “lava jato”.

Antes da derrocada, no entanto, funcionários dos fórum, da polícia e do MP, empoderados pelo pretenso discurso do combate à corrupção, que caiu nas graças da mídia, tiveram temporariamente mais poder do que o presidente da República, do que os ministros do STF e do que os titulares do Legislativo. Brasília estava de cabeça para baixo.

Regime do poder visível

Segundo o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello, presidente da corte entre 1997 e 1999, dar publicidade aos grampos ilegais corrige uma distorção comum em tempos de “lava jato”, que era privilegiar o mistério em vez de efetivar o princípio constitucional da publicidade.

“Tenho por absolutamente correta e necessária a decisão com que o Ministro Dias Toffoli deu concreta efetivação ao princípio constitucional da publicidade! Sempre enfatizei, em julgamentos proferidos no Supremo Tribunal Federal, que os estatutos do poder numa República fundada em bases democráticas não podem privilegiar o mistério, porque a supressão do regime visível de governo — que tem na transparência a condição de legitimidade dos próprios atos — sempre coincide com tempos sombrios e com o declínio das liberdades fundamentais!”, disse o ministro.

Leia a seguir a íntegra da manifestação do ministro Celso de Mello:

“Tenho por absolutamente correta e necessária a decisão com que o Ministro Dias Toffoli deu concreta efetivação ao princípio constitucional da publicidade!

Sempre enfatizei, em julgamentos proferidos no Supremo Tribunal Federal, que os estatutos do poder numa República fundada em bases democráticas não podem privilegiar o mistério, porque a supressão do regime visível de governo — que tem na transparência a condição de legitimidade dos próprios atos — sempre coincide com tempos sombrios e com o declínio das liberdades fundamentais!

Nos modelos políticos que consagram a democracia — que é, por excelência, o regime do poder visível — não há espaço possível reservado ao mistério, como autorizadamente adverte Norberto Bobbio!

A decisão do Ministro Toffoli, ao acertadamente levantar o sigilo do HD em questão, após tantas idas e vindas, revela-se de significativa importância, pois, segundo entendo, o estatuto político brasileiro — que rejeita o poder que oculta e que não tolera o poder que se oculta — consagrou a publicidade como expressivo valor constitucional, incluindo-o, tal a magnitude desse postulado, no rol dos direitos, das garantias e das liberdades fundamentais!”.

Anulações

O constitucionalista Georges Abboud também considera acertada a decisão de Toffoli. De acordo com ele, retirar o sigilo das escutas é “mais um episódio da atuação corajosa do STF” contra a herança autoritária do lavajatismo.

“É mais uma evidência de que, além de deliberadamente cercear defesas, violar direitos dos presos e atuar em conjunto, a 13ª Vara Federal de Curitiba e setores do MPF simulavam investigações e se valiam de táticas escusas para obter informações dos investigados, o que criava uma assimetria informacional total e uma completa impossibilidade da defesa plena.”

Segundo ele, uma consequência possível da decisão é a anulação de provas e, por consequência, de condenações pelo Supremo. Isso porque a delação de Youssef, agora sob risco, foi um dos pilares da “lava jato” e serviu para basear diversas acusações.

Processos contra empreiteiros de OAS, UTC Engenharia, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, por exemplo, usaram “provas” obtidas na delação do doleiro.

E não são só casos recentes os afetados: no último dia 14, o Supremo manteve a condenação do ex-presidente Fernando Collor a oito anos e dez meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A corte entendeu ter ficado provado que Collor recebeu R$ 20 milhões de propina para conseguir que a construtora UTC obtivesse contratos com a BR Distribuidora. Boa parte das provas do caso se baseia na delação de Youssef.

“Entre as tantas consequências que podem advir desses novos fatos, duas parecem, no momento, as mais importantes. Em primeiro lugar, uma nova onda de anulação de provas e condenações pelo STF, e, em segundo, um olhar mais rígido com relação às investigações internas levadas a cabo pelo MPF”, diz Abboud.

HD escondido

O HD com os áudios gravados foi ocultado de investigações durante dez anos. Delegados da PF não obedeceram a ordem dos juízes Eduardo Appio e Luiz Antônio Bonat que determinaram a entrega do HD. Mas não foram apenas os delegados e os procuradores do MPF quem sonegaram as provas da ilegalidade.

Na verdade, o HD estava acautelado na própria 13ª Vara Federal de Curitiba — o que os servidores da vara esconderam dos juízes, do Conselho Nacional de Justiça e do Supremo Tribunal Federal. O HD, que teve 26 arquivos apagados, com 210 horas de gravações, só foi liberado quando assumiu o comando da vara o juiz Guilherme Borges.

Há indícios de que existe uma versão integral, em que foram filtrados ruídos — já que os áudios originais são precários. O material que finalmente foi entregue à defesa neste ano, em sua maior parte, é quase inaudível.

O então juiz Sérgio Moro foi quem arquitetou, desde o início, o plano para esconder da Justiça o crime dos delegados. Ele recebeu o HD, mas, oficialmente, devolveu-o à PF. Em vez de abrir inquérito (que abriria espaço para a defesa acompanhar o caso), Moro abria sindicâncias, a que só a quadrilha lavajatista teria acesso.

Reação em cadeia

Esses fatos acabam de vir à tona com a decisão do ministro Dias Toffoli de levantar o sigilo do HD, que, finalmente, apareceu.

O ministro deu ciência da trama e do HD ao CNJ; à Procuradoria-Geral da República; à direção da Polícia Federal; à Advocacia-Geral da União; à Controladoria-Geral da União; ao Tribunal de Contas da União; ao Ministério da Justiça; e à presidência do Senado para providências necessárias.

A decisão também levanta o sigilo da petição (Pet 13.045) na qual a defesa de Youssef pediu a investigação da atuação do hoje senador Sergio Moro (União-PR) na instalação do grampo. Moro recebeu o HD logo depois das gravações, que duraram 11 dias (de 17 a 28 de março de 2014). O material entrou para a história como certidão de nascimento do esquema engendrado em Curitiba.

Os autos mostram que o Ministério Público Federal simulou uma investigação sobre os cinco delegados e um agente da PF, em uma sindicância sobre a instalação do grampo. Agindo como uma organização criminosa, no entanto, o grupo “concluiu” que não houve qualquer irregularidade, nem prática de crime — e pediu o arquivamento da investigação em 2018. Apenas o agente que instalou o grampo foi punido.

Dormindo com o inimigo

Os delegados Maurício Fanton e Alfredo Junqueira, este da corregedoria da PF em Brasília, chegaram perto de desmascarar as manobras. Mas seus próprios subordinados, assim como aconteceu com os funcionários da 13ª Vara, sabotaram os trabalhos para proteger o esquema.

Foram abertas duas sindicâncias (04/14 e 04/15), inconclusivas — para que os procuradores da República pudessem arquivá-los. No ano seguinte, a 13ª Vara Federal, já sob o comando do então juiz Luiz Antônio Bonat (hoje desembargador do Tribunal Regional Federal da 4ª Região), ratificou a farsa.

Segundo as apurações colacionadas aos autos na decisão de Toffoli, não há dúvidas quanto à tramoia engendrada para esconder o crime praticado na Superintendência da PF na capital paranaense em 2014, com uso de equipamentos pertencentes à União.

No ano passado, para impedir nova investigação pedida pela defesa de Alberto Youssef, determinada por Appio, da 13ª Vara, os delegados da PF responderam que não obedeceriam a ordem. Em atitude curiosa, o delegado Márcio Anselmo ajuizou pedido de Habeas Corpus para trancar a investigação, representado pelo advogado Nelson Wilians.

Manobras ilegais

À época em que o grampo foi encontrado, Youssef ainda se recusava a colaborar com as investigações da “lava jato”. Na ocasião, a PF alegou que a escuta era antiga e estava desativada.

No início da autodenominada força-tarefa, o doleiro foi apontado como operador financeiro de um esquema de desvios na Petrobras. Ele foi condenado em diversas decisões, mas teve sua pena reduzida porque aceitou relatar sua participação nas irregularidades. Assim, tornou-se o delator mais importante da “lava jato”.

Advogados ouvidos pela revista eletrônica Consultor Jurídico confirmam que, após a instalação da escuta, todos os presos da “lava jato” eram encaminhados para a cela de Youssef. O objetivo era usar qualquer menção a pessoas ou empresas para justificar pedidos de busca e apreensão, quebra de sigilos ou prisões.

O criminalista Figueiredo Basto, que comanda a defesa de Alberto Youssef ao lado de Gustavo Flores e Giovana Menegolo, diz que as gravações violaram direitos dos presos.

“A escuta clandestina foi plantada pela PF na cela antes da chegada de Youssef. Obviamente, a intenção era burlar os direitos do presos, obter áudios das conversas e usá-los nas investigações contra eles. Todos os presos eram encaminhados para a mesma cela.

Na perícia da PF, está clara a captação de vozes de outros presos da ‘lava jato’. Os abusos foram muitos, desde a interceptação clandestina, ameaças de transferências para penitenciárias com piores condições, como fizeram com (o ex-diretor da Petrobras) Paulo Roberto Costa, e até a fraude de uma investigação por tráfico de drogas, usada para iludir o ministro Teori Zavascki.”

O advogado Eduardo Sanz também destaca o fato de que alvos eram presos para serem gravados a cela de Youssef (a Cela n° 5) para que os investigadores obtivessem informações. Ele também diz ser preciso apurar “a fundo” todas as ilegalidades que foram usadas para implicar, sem fundamento material, um grande número de vítimas.

Entre os presos da “lava jato” que foram gravados com a escuta na cela de Youssef estão Carlos Alberto Pereira da Costa, Carlos Alexandre de Souza Rocha, Nelma Kodama e André Catão, conforme laudo da PF.

Figueiredo Basto diz que a decisão de Toffoli é “histórica”. “Depois de dez anos de luta, conseguimos finalmente provar as ilegalidades e abusos cometidos nas entranhas da ‘lava jato’”. Segundo o advogado, a ordem do ministro do STF “demonstra a urgência de se deitar por terra toda a farsa engendrada pela relação incestuosa entre a força-tarefa e Sergio Moro”.

“A decisão é corajosa pois enfrenta uma matilha raivosa cujos uivos ecoam pelo Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal, gente egoísta com aspirações altruístas, que engendraram abusos com propósitos particulares. Esses são os verdadeiros sepulcros caiados, os tais doutores da lei, que batem no peito e gemem contra a corrupção, mas são piores do que os que acusam e condenam fora do devido processo legal. A decisão demonstra a urgência de se deitar por terra toda a farsa engendrada pela relação incestuosa entre a Força Tarefa e Sergio Moro”, afirma Figueiredo Basto.

“Durante anos manobraram a investigação, impedindo que a defesa tivesse acesso às fraudes que foram perpetradas para acobertar a escuta clandestina. A decisão do ministro Tofolli consagra as garantias individuais. E é uma advertência para o Estado, que não pode ter dentro de seus quadros pessoas que cometem abusos em nome de ideologias”, completa ele.

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