Suspeito de exigir R$ 3 milhões em dinheiro para arquivar uma investigação, o promotor de Justiça do Piauí Maurício Verdejo Gonçalves Júnior (foto em destaque) foi alvo de nova operação da Polícia Federal (PF) na manhã desta quinta-feira (15/8). A partir de agora, ele terá de usar tornozeleira eletrônica.
A ação ocorre em conjunto com o Ministério Público do Piauí, por meio da Procuradoria-Geral de Justiça. As investigações apuram o crime de concussão supostamente praticado pelo promotor de justiça e seu assessor.
Nesta segunda etapa, a Justiça determinou o cumprimento de cinco mandados de busca e apreensão em endereços vinculados aos investigados, sendo quatro em Teresina (PI) e um na cidade de Picos (PI).
O Tribunal de Justiça do Piauí também determinou o bloqueio de bens e valores, o afastamento do cargo público e o monitoramento eletrônico dos investigados, além de outras medidas cautelares.
Comprovados os fatos sob investigação, o agente público poderá responder pelo crime de concussão, que consiste na prática de exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida.
Flagrante
Um vídeo flagrou o momento exato em que Verdejo pega uma sacola com R$ 900 mil, entregue por um empresário que estava sendo extorquido por ele.
Nas imagens é possível ver o empresário Junno Pinheiro Campos de Sousa (de camisa azul) se encontrando com o promotor (de bermudas e camisa bege) em um condomínio de luxo. Ambos conversam ao lado do veículo do empresário. Em determinado momento, Junno abre a porta de trás do SUV e tira uma sacola preta que estava no banco traseiro do veículo. Em seguida, o empresário mostra o montante para o promotor. Logo depois, ambos entram em uma residência.
Durante a primeira fase da operação, as equipes apreenderam cerca de R$ 900 mil, documentos e aparelhos eletroeletrônicos.
De acordo com a Operação Iscariotes, a vítima procurou o plantão da Polícia Federal e relatou que havia sido abordada pelo promotor de Justiça em um restaurante, ocasião em que o investigado teria dado o prazo de poucos dias para que a vítima pagasse a quantia milionária, para que não fosse mais investigada.
Prerrogativa
Como o investigado tem prerrogativa, em razão da função pública, o fato foi comunicado ao procurador-geral de Justiça do Piauí, a quem cabe investigar servidores do Ministério Público. Ele, então, solicitou a cooperação da Polícia Federal, tendo em vista que a entrega do dinheiro era iminente.
Em nota, o Ministério Público do Piauí destacou que representa os interesses sociais e que combate a corrupção, trabalhando de forma imparcial (leia nota abaixo).
Recebimento
Após seguidos dias de diligências, a equipe de investigação confirmou o teor dos relatos da vítima, conseguindo, inclusive, registrar o recebimento de parte do montante pelo investigado.
Diante da representação ministerial, o Tribunal de Justiça do Piauí expediu mandado de busca e apreensão contra o promotor.
O nome da operação faz referência a Judas Iscariotes, pois o agente público, incumbido da função de fiscal da lei, é suspeito de trair a confiança do Estado e da instituição.
Leia nota na do Ministério Público do Piauí:
“O Ministério Público do Estado Piauí se manifesta perante a sociedade piauiense acerca da Operação Iscariotes, realizada pela Polícia Federal na manhã desta quarta-feira (7/8), e que resultou no cumprimento de mandado de busca e apreensão em desfavor de um promotor de Justiça.
A Subprocuradoria-Geral de Justiça Jurídica, órgão do MPPI, no exercício das suas atribuições processuais de investigação dos membros da instituição, informa que solicitou a cooperação da Polícia Federal diante dos indícios de que o Promotor de Justiça havia pleiteado vantagem indevida para sustar procedimento criminal.
O Ministério Público reafirma seu papel de instituição que representa os interesses sociais, a integridade na Administração Pública e o combate ao crime e à corrupção, trabalhando de forma imparcial pela promoção da Justiça.
O próprio Ministério Público remeteu representação ao Tribunal de Justiça, que expediu o mandado de busca e apreensão, devidamente cumprido.
O MPPI prosseguirá cumprindo seus deveres e atribuições. Independentemente do investigado, o compromisso da instituição é com a Justiça.”
Fonte: https://www.metropoles.com/distrito-federal/na-mira/promotor-que-cobrou-r-3-milhoes-de-empresario-vai-usar-tornozeleira