Michelle e Eduardo Bolsonaro eram de grupo pró-golpe mais radical, diz Cid em delação premiada

e0127 A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), respectivamente mulher e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, atuaram para instigá-lo a dar um golpe após a derrota na disputa pelo Palácio do Planalto contra Luiz Inácio Lula da Silva, em 2022, segundo disse o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, na primeira delação premiada feita por ele, em agosto de 2023.

O teor desse depoimento foi revelado pelo jornalista Elio Gaspari nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo. Segundo Cid os dois participavam de um grupo mais radical que dizia que o ex-presidente teria “o apoio do povo e dos CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) para dar um golpe de Estado. Nem Michelle e nem Eduardo foram indiciados pela Polícia Federal (PF) e não há menção a elementos e provas, ao menos neste primeiro depoimento. Cid foi inquirito pela Polícia Federal mais vezes ao longo de 2023 e 2024.

Na delação, Cid apontou que Eduardo tinha mais contato com os CACs. Também teriam participado desse grupo ex-ministros, como Onyx Lorenzoni (PL) e Gilson Machado (PL); atuais senadores, como Magno Malta (PL-ES) e Jorge Seif (PL-SC), o ex-assessor internacional de Bolsonaro Filipe Martins e o general Mario Fernandes.

O Estadão busca contato com todos os mencionados. O espaço segue aberto para manifestação.

Duas ramificações

Existiam duas ramificações entre essa ala, de acordo com Cid. O primeiro subgrupo, o “menos radical”, queria achar uma fraude nas urnas; o segundo já era “a favor de um braço armado”, incentivavam a tentativa de golpe de Estado e pediam pela assinatura do decreto do golpe.

Martins e Fernandes já foram indiciados pela PF. De acordo com o relatório que levou ao indiciamento, Fernandes teria sido responsável ainda por elaborar um detalhado planejamento operacional que tinha como objetivo executar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e os então candidatos eleitos Lula e Geraldo Alckmin. Já Martins “atuou de forma proeminente na interlocução com juristas para elaborar uma minuta de teor golpista”, segundo a PF. O documento ficou conhecido como “minuta do golpe”.

Nessa primeira delação, Cid ainda dividiu o entorno de Bolsonaro em três diferentes grupos, que davam conselhos distintos sobre o que o ex-presidente deveria fazer em reação à derrota de Lula . Havia os mais radicais – onde estavam Michelle e Eduardo – os que o aconselhavam a mandar os acampados em quartéis do Exército a irem para casa e os que diziam que “nada poderia ser feito diante do resultado das eleições”. Nesse último segmento há uma ramificação dos que incentivavam o então presidente a sair do Brasil.

Já o grupo que sugeria que “nada poderia ser feito” era composto por generais da ativa, como o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes; o então chefe do Departamento de Engenharia e Construção, Júlio Cesar de Arruda, e o então chefe do Comando de Operações Terrestres, Estevam Theóphilo.

Cid disse que esse grupo estava temeroso que Bolsonaro fosse assinar “uma doideira”. Freire Gomes foi quem mais se mostrou preocupado, segundo o ex-ajudante de ordens. “Freire Gomes estava muito preocupado com essa situação, com que poderia acontecer com esse pessoal que ia para o Palácio da Alvorada”, afirmou. “Estavam preocupados com o grupo radical que estava tentando convencer o então presidente a fazer alguma coisa’, um golpe.”

No segundo segmento faziam parte o empresário do agronegócio Paulo Junqueira e o próprio Magno Malta, que anteriormente tinha posição mais radical.

Conforme as investigações foram avançando e após Cid ter sido inquirido por investigadores em mais oportunidades, porém, alguns desses nomes inicialmente apontados como mais moderados acabaram sendo indiciados pela PF por participação na tentativa de golpe.

De acordo com a PF, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, por exemplo, pressionou comandantes das Forças Armadas a aderirem ao plano golpista. Organizou reunião com oficiais de alta patente das três forças em que o ex-presidente cobrou adesão ao golpe. Os comandantes do Exército e da Aeronáutica rechaçaram o plano.

Em dezembro, Nogueira de Oliveira incumbiu o próprio general Estevam Theóphilo das ações que ficariam a cargo da tropa terrestre caso Bolsonaro assinasse o decreto.

Foram mais de 40 pessoas indiciadas pela PF pela tentativa de golpe de Estado no Brasil. O plano, segundo a polícia, envolvia a tentativa de assassinato do ministro Alexandre de Moraes, Lula e Alckmin.

Procurados, Jair e Michelle não responderam os contatos da reportagem. O Estadão também busca contato com a defesa de Eduardo Bolsonaro. O espaço segue aberto para manifestação.

Fonte: https://istoe.com.br/michelle-e-eduardo-bolsonaro-eram-de-grupo-pro-golpe-mais-radical-diz-cid-em-delacao-premiada/

Assassina dos pais faz acordo milionário para contar sua história no SBT

e0125 O blogueiro Renato Ronner noticiou que Suzane von Richthofen firmou acordo milionário com o SBT para dar depoimento ao documentário sobre o assassinato de seus pais. Segundo o comunicador, ela irá falar de sua relação em família, do crime e de seus anos na prisão.

 

Fonte: https://www.msn.com/pt-br/entretenimento/noticias/assassina-dos-pais-faz-acordo-milionário-para-contar-sua-história-no-sbt/ss-AA1xEz83?cvid=18dc51930aae4805b7edaec62175e507&ocid=mobilepwa

PM tenta tomar celular de coronel do CBMDF durante abordagem

e0113 Imagens obtidas pelo Metrópoles mostram o momento em que policiais militares do Distrito Federal tentam tomar à força o celular de Gustavo Erley Santos Morais, coronel do Corpo de Bombeiros (CBMDF). O homem afirma que a ação dos PMs foi truculenta. O oficial alega, inclusive, que levou um mata-leão de um dos policiais.

A ação aconteceu durante uma ocorrência de acidente de trânsito provocado por outro motorista na noite do último domingo (5/1). No vídeo, é possível ver quando o coronel decidiu filmar o prefixo das viaturas. Uma pessoa grita: “Não deixa filmar, toma o celular dele aí”. Momentos depois, um policial chega e tentar pegar o aparelho. A filmagem acaba logo em seguida.

Versão do coronel

Segundo o coronel, ele foi vítima de agressão e abuso de autoridade por parte dos PMs. O acidente de trânsito foi provocado por outro motorista. Sentindo-se ameaçado, o coronel decidiu acionar a Polícia Militar.

Ao chegar à 8ª Delegacia de Polícia, foi informado de que a unidade estava sobrecarregada devido ao recente feminicídio de Ana Moura Virtuoso e que seria mais adequado registrar a ocorrência em outro local.

Seguindo a orientação, o coronel dirigiu-se a uma delegacia mais próxima de sua residência. Ele conta que, quando estava em deslocamento, foi abordado novamente pelos mesmos policiais militares, que o interceptaram de forma agressiva, tentando retirar a chave do carro e impedindo que ele filmasse a ação.

O oficial relata ter sido imobilizado com um mata-leão e que os policiais teriam combinado uma versão falsa, alegando que ele se recusou a realizar o teste do bafômetro.

Após ter seus documentos apreendidos, ser algemado e colocado no cubículo da viatura, o coronel foi conduzido novamente à delegacia. Ele nega veementemente ter tentado fugir ou evadir do local, como alegam os policiais. O oficial possui imagens e outras provas que sustentam a sua versão.

Versão apresentada por policiais

Em nota, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) nega que a 8ª DP estivesse sobrecarregada no momento do registro de ocorrência e que seria mais adequado registrar o BO em outro local devido ao feminicídio de Ana Moura, ocorrido no mesmo dia. A corporação informou ao Metrópoles que “os policiais do plantão negaram veementemente terem informado algo do tipo tanto para o coronel como para algum dos policiais militares que apresentaram a situação”.

Segundo o relato dos policiais militares que atuaram na ocorrência, o coronel fugiu do local, de modo que foi necessário o deslocamento da equipe para contê-lo. Depoimentos ainda indicam que, ao ser encontrado e abordado novamente, o oficial disse que conhecia alguns coronéis da PMDF. Ele teria acrescentado que iria ligar para eles informando o ocorrido.

De acordo com a versão, o bombeiro teria ameaçado um policial militar, afirmando: “Você vai se ver comigo”. Na delegacia, teria repetido a ameaça contra o PM, dizendo que ele iria “se arrepender de ter feito isso”. Por fim, o coronel foi apresentado ao Núcleo de Custódia do CBMDF.

Manifestações

O Metrópoles solicitou esclarecimentos do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal sobre o ocorrido. A corporação informou que foi notificada sobre a situação envolvendo o bombeiro.

“Após procedimento apuratório, verificou-se que a situação não caracterizava crime militar. Os autos foram encaminhados ao Ministério Público Militar e o militar, liberado”, disse a corporação.

O CBMDF segue acompanhando o caso com os setores responsáveis. “A corporação reitera que prima pela conduta ilibada e exemplar de seus militares, pautada pelos regulamentos e pelos pilares que norteiam a instituição. Afirma ainda que segue empenhada em investigar quaisquer denúncias de irregularidades e em garantir que medidas adequadas sejam tomadas”, finalizou.

A reportagem pediu uma manifestação por parte da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Não houve respostas até a última atualização deste texto. O espaço segue aberto e será atualizado.

Fonte: https://www.metropoles.com/distrito-federal/video-pm-tenta-tomar-celular-de-coronel-do-cbmdf-durante-abordagem

PF vê suspeita de corrupção e vazamentos em 14 processos do STJ

e0110 A Polícia Federal apontou suspeita de irregularidades e possíveis crimes em ao menos 14 processos no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e ainda não descartou o envolvimento de ministros no esquema. Já foram pedidos a prisão de um lobista e o afastamento de cinco servidores.

O que aconteceu

O delegado Marco Bontempo listou os processos suspeitos ao determinar a operação da PF. A investigação teve como base análise feita pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) de diálogos encontrados no celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado em 2023 em Mato Grosso, além de sindicâncias internas do próprio STJ.

A investigação foca em processos nos gabinetes dos ministros Isabel Gallotti, Nancy Andrighi e Og Fernandes. A operação foi autorizada em novembro de 2023. Com anuência do ministro Cristiano Zanin, do STF, foi preso o empresário e lobista Andreson Gonçalves e foram afastados da função três dos cinco servidores do STJ listados pela PF.

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  1. REsp 1.584.111/MT - Processo envolvendo uma disputa de terra entre duas famílias em Mato Grosso. Suspeita de corrupção e violação de sigilo funcional
  2. REsp 1.829.667/MT - Processo da DuPont do Brasil contra cliente de Zampieri. Suspeita de corrupção e violação de sigilo funcional
  3. AREsp. 538382/SP - Processo de cliente contra o banco Nossa Caixa. Suspeita de exploração de prestígio e violação de sigilo funcional
  4. AREsp 1376384/RS - Processo de cliente contra o banco Santander. Suspeita de exploração de prestígio e violação de sigilo funcional
  5. AREsp. 1.714.650/MT - Processo do Bradesco contra empresário envolvendo contrato de fazenda em MT. Suspeita de corrupção e violação de sigilo funcional
  6. AREsp. 1.553.735/MT - Processo do Bradesco contra empresário envolvendo posse de fazenda em MT. Suspeita de corrupção e violação de sigilo funcional
  7. AREsp. 1.573.661/MT - Processo de empresa agropecuária de MT contra cliente de Zampieri. Suspeita de corrupção e violação de sigilo funcional
  8. AREsp. 1.712.679/MT - Processo de empresa agropecuária de MT contra cliente de Zampieri. Suspeita de violação de sigilo funcional.

Gabinete da ministra Nancy Andrighi

  1. Agint no CC n. 171855/MS - Processo envolvendo a J&F. Suspeita de violação de sigilo funcional
  2. CC n. 178847/MT - Processo envolvendo agropecuária de MT. Suspeita de corrupção e violação de sigilo funcional
  3. AREsp. N. 1.896.587/MT - Processo envolvendo disputa por compra de imóvel entre empresários de MT. Suspeita de corrupção e violação de sigilo funcional
  4. AREsp. 2316630/MT- Processo envolvendo disputa de empresa de MT. Suspeita de violação de sigilo funcional
  5. AREsp. 2336672/MT - Processo envolvendo disputa de empresa de MT. Suspeita de violação de sigilo funcional

Gabinete do ministro Og Fernandes

  1. PBAC n. 10/DF - Processo da Operação Faroeste, que mirou esquema de corrupção no Tribunal de Justiça da Bahia. Suspeita de corrupção e violação de sigilo funcional

Investigadores também não identificam quem teria pagado pelas decisões. Apontado com figura central no esquema, o lobista Andreson Gonçalves é o único suspeito de envolvimento em irregularidades em todos os 14 processos listados. Representação da PF junta mensagens que indicam pagamentos de até R$ 250 mil para servidores que teriam auxiliado o grupo criminoso, mas o delegado do caso não avança sobre os supostos pagamentos.

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Empresário é o único preso até o momento. Ele não é formado em direito e, em sua empresa de transportes, a PF encontrou em novembro um notebook com documentos de decisões do STJ. O computador foi apreendido e levado para perícia. Sua esposa, Mirian Gonçalves, é advogada e foi alvo de buscas na operação. Ela teve o celular apreendido. Procurada, a defesa do casal não respondeu aos questionamentos da reportagem.

Decisão pronta antes chegar a ministro

Em julho de 2020, Andreson encaminha uma minuta de decisão do ministro do STJ João Otávio Noronha. O documento indicava que um recurso do Bradesco contra um cliente de Zampieri seria negado.

O processo, porém, foi redistribuído para a ministra Isabel Gallotti antes de Noronha analisá-lo. Ela acabou decidindo o caso somente em setembro daquele ano, negando o recurso do Bradesco, mas, dois dias antes da decisão, Andreson já havia compartilhado a minuta com Zampieri.

Disputa milionária. Processo envolvia uma disputa entre o banco e um empresário pelo terreno de uma fazenda em Mato Grosso. O empresário adquiriu um terreno que havia sido alienado para o banco antes da venda e acusava a instituição financeira e os vendedores de terem dado um "golpe" nele em ação movida na primeira instância. O Bradesco pediu ao STJ para ser excluído da ação, o que não foi atendido em 2020.

O processo, porém, acabou sendo extinto em 2023. A Justiça de Mato Grosso acatou o argumento apresentado pelo banco de que o empresário não poderia questionar a alienação feita antes da venda. Apesar de não aparecer formalmente no processo, Zampieri indica em trocas de mensagens ter interesse na causa por parte do empresário e a PF aponta que a decisão atendeu ao interesse de Zampieri.

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A minuta de decisão (não assinada), enviada por Andreson, coincide exatamente com a decisão efetivamente proferida pela ministra Isabel Gallotti, fato esse que foi notado pelos interlocutores ('até a vírgula é igual'). Além disso, a decisão proferida atende aos interesses do advogado Roberto Zampieri, porquanto nega provimento ao recurso interposto pelo banco Bradesco.
Trecho da representação da PF

Lobista falou em condenação mesmo com processo adiado

Em outro processo, a multinacional Du Pont recorreu ao STJ contra um cliente de Zampieri. Um empresário do setor agrícola conseguiu na Justiça estadual de Mato Grosso indenização por prejuízo em safra após utilizar um agrotóxico da Du Pont que não teria matado as pragas.

A empresa tentou questionar a condenação no STJ. Em março de 2020, antes de o caso ir a julgamento, Andreson foi cobrado por Zampieri para acompanhar o processo, pois os "honorários" já teriam sido pagos. O lobista responde ao advogado que a condenação seria mantida.

O julgamento acabou adiado devido à pandemia de covid-19, mas foi como lobista havia previsto. Em 20 de abril, a Quarta Turma do STJ rejeitou, por unanimidade, o recurso da Du Pont e manteve a condenação em uma sessão virtual. Depois disso, diálogos mostram Andreson cobrando o pagamento de Zampieri.

R$ 19 milhões para lobista em processo entre J&F e Eldorado

A PF cita ainda um processo envolvendo a holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Como revelou o UOL em outubro, nesse processo Andreson afirmou a Zampieri ter recebido R$ 19 milhões, sem explicar de qual parte. Zampieri não aparece como advogado de ninguém no processo.

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Caso trata de disputa de R$ 600 milhões envolvendo a Eldorado Celulose. Um grupo de Mato Grosso do Sul tentava anular, no Tribunal de Justiça do estado, aquisições da Eldorado que diluíram sua participação acionária na empresa.

A J&F, por sua vez, argumentava que caso deveria ser analisado na Justiça de São Paulo. A tese acabou sendo vencedora após a ministra Nancy Andrighi dar decisão mandando o caso ser julgado em São Paulo.

Andreson antecipou voto da ministra cinco dias antes de o processo ir a julgamento. Ele enviou documento a Zampieri em 13 de agosto de 2020. O caso foi julgado no dia 18 daquele mês.

J&F negou irregularidades e chamou o caso de "simples". "O conflito de competência foi suscitado pelo próprio TJ-MS, e não pela J&F. A Segunda Seção do STJ referendou a decisão citada de forma unânime, por 9 votos a zero, definindo a competência para julgamento da ação em São Paulo. Tratava-se de um caso simples: o contrato em disputa, o acordo de acionistas e a sede da empresa indicavam que o foro competente para o julgamento era a Justiça paulista. Posteriormente, a J&F venceu o processo em todas as instâncias. A J&F foi representada pelos advogados devidamente constituídos e nunca autorizou qualquer terceiro não constante dos autos a representá-la", afirmou a empresa, em nota.

Outro lado

Reportagem questionou os três ministros cujos gabinetes são investigados. Até a última atualização deste texto, apenas a ministra Nancy Andrighi encaminhou resposta e disse que já prestou esclarecimentos sobre os processos mencionados. Ela afirmou ainda que os processos de responsabilização dos servidores envolvidos nos episódios estão em andamento.

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O Bradesco disse que não comenta processos no Judiciário e que respeita as leis. A reportagem também entrou em contato com a Du Pont, mas ainda não obteve retorno.

O gabinete da Ministra Nancy Andrighi registra que já prestou informações à imprensa, no ano de 2024, sobre os processos apontados na reportagem e que os processos de responsabilização encontram-se em andamento, a fim de que os fatos sejam devidamente esclarecidos e os responsáveis punidos de forma exemplar.
Nota do gabinete da ministra Nancy Andrighi

O Bradesco não comenta os casos que estão sob apreciação do Poder Judiciário e reitera seu compromisso incondicional com a ética, a transparência e o respeito às leis e diretrizes que regem suas atividades.
Nota da assessoria de imprensa do Bradesco

Fonte: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2025/01/09/pf-ve-suspeita-em-14-processos-do-stj-e-nao-descarta-chegar-a-ministros.htm

Obra em presídio federal contra fuga de detentos tem atrasos e prejuízos

e0106 Em fevereiro completa um ano da primeira fuga do sistema penitenciário federal desde a inauguração da série de cinco presídios de segurança máxima há 18 anos. Na época, o governo prometeu construir muralhas novas, mas só uma foi iniciada e a perspectiva é que sejam necessários pelo menos mais três anos para fazer quatro muros.

A fuga do ano passado expôs fragilidades à segurança pública no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e apresentou um dos primeiros desafios do ministro da Justiça Ricardo Lewandowski logo após assumir a pasta.

Dois detentos de baixo escalão do Comando Vermelho conseguiram fugir do presídio de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte, sem plano ou ajuda externa. Eles escaparam de uma cela por uma luminária e se esgueiraram até o perímetro externo do presídio, onde cortaram uma pequena cerca e desapareceram.

Com a fuga, Lewandowski prometeu urgência na construção de muros, mas ele não deu um prazo e as obras não foram concretizadas. Para enfrentar o problema na violência no país, o governo federal tem se voltado mais para políticas de desencarceramento e imposição de regras mais brandas para abordagens policiais nos estados.

A ideia de construir imensas muralhas blindadas e capazes de suportar ataques de ‘guerra’ em torno das unidades prisionais, para dificultar fugas e eventuais ações de resgates vinha do governo de Jair Bolsonaro (PL). A estrutura de Brasília, última construída e inaugurada em 2018, é a única a contar com uma muralha.

Mas falta levar o projeto adiante em outras quatro penitenciárias. O projeto prometido pelo ministro da Justiça está orçado em R$ 160 milhões. A única nova obra iniciada após a fuga foi em Porto velho (RO), em 2023. Mas ela teve atrasos, aumento de custos operacionais e um suposto erro de projeto. O Ministério da Justiça nega o erro. Ocorre que a estrutura que deveria ser entregue em março deste ano está com apenas 11% dos serviços concluídos, segundo informou o próprio governo federal à Gazeta do Povo.

A escolha da unidade de Porto Velho para receber a primeira muralha não foi por acaso. Em 2022 foi revelado um plano cinematográfico para resgatar o líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, custodiado na época naquela estrutura. Autoridades em segurança chegaram a afirmar que 90% do plano estava pronto e custaria à organização criminosa R$ 60 milhões com direito a uso de aeronaves, veículos blindados, armas de grosso calibre e criminosos altamente especializados para a ação.

Mas o plano foi descoberto e Marcola foi transferido para Brasília. O governo Bolsonaro confirmou a construção da muralha no presídio federal de Porto Velho com a licitação da obra. Em janeiro de 2023, Lula assumiu o governo e de lá para cá pouco evoluiu.

No caso dos dois presos fugitivos de Mossoró no Rio Grande do Norte, não existiu nenhum esquema meticuloso para fuga, muito menos de resgate. Eles deixaram a unidade prisional sem dificuldades, ao detectarem uma falha estrutural sob as luminárias das celas onde estavam. Saíram pelos buracos das luminárias, caminharam por dutos, romperam cercas com ferramentas de uma obra realizada na unidade e ficaram pelo menos 51 dias em fuga.

O governo federal gastou R$ 6 milhões nas buscas com mobilização de centenas de servidores da segurança, drones, helicópteros e equipes especializadas. Quase tudo sem sucesso. Quando a força-tarefa estava prestes a ser desmobilizada, os dois fugitivos foram localizados em Marabá (PA), a cerca de 1,6 mil km do local da fuga e voltaram para o sistema. Acuado com a situação, Lewandowski logo tratou de anunciar a aceleração da construção de imensas muralhas também nos presídios federais de Mossoró, o próximo na lista, Catanduvas (PR) e Campo Grande (MS).

Cada muralha vai custar, segundo a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, R$ 40 milhões. A de Porto Velho, no entanto, já está na casa dos R$ 45 milhões. Apesar de ter sido projetada ainda do governo de Bolsonaro, ela começou a ser construída no fim de 2023 no primeiro ano da gestão de Lula. A previsão era ser entregue em março deste ano, mas os cenários de atrasos se iniciaram nos primeiros meses de edificação. Neste momento nem cronograma definido para a entrega a Secretaria tem. A pasta não justificou o porquê do custo mais elevado que o previsto inicialmente e o que levou aos atrasos.

A própria secretaria admitiu à Gazeta do Povo que “atrasos na execução da obra em 2023 não permitirão a entrega no prazo planejado [março de 2025]” e que mesmo assim, “não há previsão de rompimento do contrato, mas [está ocorrendo] a apuração dos motivos para o atraso de obra, nos termos do contrato, que pode levar a sanções”. A Gazeta do Povo identificou que o caso é apurado em um processo administrativo. A Secretaria Nacional de Políticas Penais disse que trabalha em um novo cronograma com a empresa contratada, após alinhamentos com a consultoria jurídica da pasta.

Erros no projeto e valores de materiais subestimados emperraram obras de muralha em Porto Velho

A reportagem apurou com fontes ligadas ao sistema penitenciário federal que entre os motivos para a demora para o avanço das obras da muralha no presídio federal de Porto Velho estariam erros no projeto como falhas técnicas sobre a sustentação da estrutura. Somado a isso, o próprio governo teria subestimado valores dos materiais essenciais à edificação. A Secretaria não comentou se reconheceu ou se recebeu laudos que apontavam falhas estruturais no projeto.

A reportagem também apurou que houve demora excessiva para avaliação das alterações no projeto e no pedido de reequilíbrio orçamentário feito pela construtora. O governo Lula teria levado quase um ano para tomar as decisões. Os laudos ficaram prontos em janeiro de 2023, mas só houve definições do governo no fim daquele ano. A Gazeta do Povo apurou que a empreiteira responsável chegou a pedir um aditivo de quase R$ 3,5 milhões diante das falhas apontadas no projeto e a necessidade de nova mobilização de trabalhadores. O Departamento Penitenciário Nacional (Depen) negou o pedido ao aditivo de recursos.

Enquanto isso, nas demais unidades, a Secretaria Nacional de Políticas Penais diz que o cronograma de licitação e construção de todas as muralhas em torno dos presídios federais se estenderão até o ano de 2028, ou seja, mais três anos pela frente se tudo correr dentro do projetado.

“O programa de reforço na estrutura de segurança das unidades do Sistema Penitenciário Federal se iniciou com a construção da muralha da Penitenciária Federal de Brasília em 2018; a segunda unidade licitada foi a Penitenciária Federal de Porto Velho, que está com a obra em execução. A Penitenciária Federal de Mossoró está com contrato assinado e as obras iniciam em janeiro de 2025. [Em 2025] também serão lançadas as licitações das Penitenciárias Federais de Campo Grande e de Catanduvas”, diz a pasta.

Governo diz que implantou 10 mil câmeras nos cinco presídios federais

Além da falta de muralhas em torno dos presídios, na época da fuga dos detentos em Mossoró outra crítica foi destinada aos sistemas de monitoramento por câmeras com pontos falhos na unidade, câmeras com baixa resolução e áreas descobertas de monitoramento. A Secretaria diz que as manutenções do sistema de videomonitoramento estão em dia, mas não detalhou se houve a troca ou substituição e equipamentos que apresentavam falhas ou estavam inoperantes naquela estrutura.

Apesar das reclamações constantes de servidores do sistema penitenciário federal sobre a falta de efetivo nas cinco unidades, a Secretaria disse que houve reforço no número de agentes após a fuga e que houve a “instalação de 10 mil câmeras para reforçar todo o parque de monitoramento das cinco unidades que compõem o Sistema Penitenciário Federal”.

Questionada sobre o déficit de profissionais no sistema, a Senappen se limitou a dizer que foram empossados em novembro passado 121 novos servidores aprovados no último concurso, mas não disse quantos ainda seriam necessários.

A falha estrutural pela qual os dois presos fugiram em Mossoró no início de 2024 já havia sido detectada em outras unidades prisionais ainda no ano de 2019. Todas possuem plantas similares. A Secretaria não informou os motivos pelos quais a estrutura do Rio Grande do Norte não havia passado por reparos e reforço na estrutura nem respondeu se o serviço foi realizado nas demais unidades.

O que o sistema está fazendo para impedir fugas e romper a cadeia de comando de presos

A Secretaria Nacional de Políticas Penais disse à Gazeta do Povo que além das medidas de reforço de segurança executadas em Mossoró, um dos projetos prioritários da Senappen é o Conexão Zero, cujo objetivo é impedir todas as formas de comunicação não autorizada nos estabelecimentos prisionais. Nessa relação de prioridades, a pasta não mencionou a construção das muralhas em torno dos presídios federais.

Em dezembro passado, no entanto, uma operação policial resultou em um cumprimento de mandado de prisão na cela do narcotraficante líder do CV, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, que está no presídio federal de Catanduvas. Segundo as investigações, mesmo sem visitas intimas e sem contato físico com visitantes ou advogados, em tese, o preso dava coordenadas a criminosos para o roubo de cargas no Rio de Janeiro. Os dois detentos que fugiram de Mossoró no ano passado agora estão custodiados em Catanduvas, próximo do líder máximo do CV.

O Ministério da Justiça disse que realiza auditoria de bloqueadores de celulares, na chamada operação Muralha Digital, afirma fazer varreduras para encontrar aparelhos de comunicação, na operação Modo Avião; faz bloqueio de aparelhos de comunicação na operação Smart Lock e rastreamento de túneis em estabelecimentos prisionais e no seu entorno com a operação Sentinel.

A Secretaria disse fazer a “retirada de aparelhos de comunicação com preservação da cadeia de custódia na operação Mute”, sem detalhar ou especificar o que se trata esse sistema.

O sistema penitenciário federal teve sua primeira unidade inaugurada em 2006, a de Catanduvas, no oeste do Paraná, com o objetivo de manter isolados os presos considerados mais perigosos do país, como importantes líderes de facções e organizações criminosas. Beira-Mar foi o detento número um do sistema. Cada preso permanece em celas individuais e não têm contatos com outros detentos.

As visitas são feitas por videoconferências ou parlatório, sempre monitoradas por policiais penais. As visitas intimas e com contato físico só cessaram em 2017, por determinação do então ministro da Justiça, o hoje senador Sergio Moro (União-PR), após a Polícia Federal (PF) confirmar em inquérito policial que criminosos ligados ao PCC presos em presídios federais determinaram a execução de três policiais penais. Um foi morto em Mossoró em 2017 e dois em Cascavel, a 60 km da unidade de Catanduvas, nos anos de 2016 e 2017.

 
 

Contra violência policial, professor propõe mudar formação e punir chefia

e12360 O aprimoramento da formação policial e a responsabilização dos comandos das instituições de segurança pública são fundamentais para o combate à violência policial no Brasil. A avaliação é de Rafael Alcadipani, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e membro do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública).

O que aconteceu
A semana do Natal foi marcada por três diferentes episódios de violência policial. O primeiro ocorreu na noite de terça-feira (24), quando a jovem Juliana Leite Rangel foi baleada em uma operação da PRF na rodovia Washington Luís (BR-040), em Duque de Caxias (RJ).

Outros dois aconteceram na cidade de São Paulo. Na quarta-feira (25), um jovem de 24 anos foi baleado por um policial militar com um tiro à queima-roupa enquanto gravava uma ocorrência na zona oeste. No mesmo dia, na zona leste, um homem rendido recebeu golpes com capacete e chutes de um PM.

O que diz o professor

Corporações podem fazer algo para mudar esses episódios? Sim. O aprimoramento da formação policial, com treinamentos, para que os agentes tenham mais cuidado ao usar a arma de fogo é fundamental, diz Alcadipani.

Falta aperfeiçoar mecanismos de controle interno da atuação policial, como o trabalho das Corregedorias, e ter uma doutrina policial melhor definida. "É preciso mudar a mentalidade da forma de se fazer polícia no Brasil, onde você tenha a preservação da vida como a coisa mais importante, tanto na formação policial, como na prática cotidiana", afirma o professor.

Punição deve atingir superiores e comandantes das corporações, não apenas o policial que comete o crime. "São poucos lugares do mundo onde um caso como esse [do RJ] aconteceria e o chefe da polícia continua na função. Ele tem que pedir para sair ou ser retirado porque você começa a mandar sinais para a instituição que esse tipo de coisa não é aceita", disse Alcadipani ao Canal UOL, na quinta-feira (26).

Pesquisador defende que na formação policial tenha treinamentos para "desescalar" tensão. No caso do tiro à queima-roupa em São Paulo, o agente chega em uma situação com um nível alto de temperatura e, diz o professor, "faz com que fique mais quente ainda".

 
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