O rapto de crianças indígenas por cientistas alemães em expedição pelo Brasil no século 19

e0520 Os cientistas alemães Johann Baptist von Spix (1781–1826) e Carl Friedrich Philipp von Martius (1794–1868) são conhecidos por uma famosa expedição que fizeram ao Brasil entre 1817 e 1820, levando do país sul-americano para a Europa milhares de plantas e animais exóticos que seriam posteriormente estudados e catalogados.

Mas uma parte talvez menos conhecida dessa história é que, entre esses milhares de itens transportados para a Europa, estavam também duas crianças indígenas, Juri e Miranha — como ficaram conhecidos em referência ao nome de suas famílias indígenas de origem, da região amazônica.

Eles eram de etnias inimigas, não falavam a mesma língua, mas ficaram juntos na Alemanha. Chegaram primeiro a Lisboa e depois seguiram para Munique.

Entre junho de 1821 e maio de 1822, Juri e Miranha morreram na Alemanha com cerca de 14 anos, após adoecerem por causas pouco claras.

Dois séculos após serem louvadas por suas conquistas científicas, somente nos últimos anos esse lado mais problemático da expedição, o rapto das crianças, tem ganhado os holofotes.

Esse outro lado da história de Spix e Martius foi explorado pela exposição Travelling Back: A Change of Perspective on an expedition from Munich to Brazil in the 19th century [A viagem de volta: Uma mudança de perspectiva sobre a expedição de Munique para o Brasil no século 19], que ficou em cartaz até 5 de abril no instituto Zentralinstitut für Kunstgeschichte, em Munique, na Alemanha.

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Crédito, Divulgação/Felix Ehlers

Legenda da foto, Colagem com imagem da criança indígena Miranha em exposição em Munique

Com curadoria da historiadora brasileira Sabrina Moura, a mostra reuniu obras de artistas contemporâneos que revisitam criticamente o episódio, além de um material diverso, como jornais da época revelando um grande interesse público pelas crianças.

No Brasil, o rapto de Juri e Miranha despertou maior interesse após o lançamento do livro O Som do Rugido da Onça (2021), da escritora e historiadora brasileira Micheliny Verunschk. Vencedor do Prêmio Jabuti em 2022, o romance narra a história especialmente a partir do ponto de vista de Iñe-e, nome que Miranha ganha na trama.

Trechos da publicação foram traduzidos para o alemão e incluídos na exposição em Munique. A programação da mostra incluiu também uma conferência, realizada em fevereiro, com a participação de Verunschk.

Episódio desconfortável

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Crédito, Litografia de Carl Friedrich Heinzmann

Legenda da foto, A litografia Yögel teich am rio de S. Francisco, um dos registros da expedição de Spix e Martius

Na conferência, comentários na plateia deixavam claro como o episódio ainda provocava reações confrontantes.

Houve quem tentasse relativizar, afirmando que também havia rapto de crianças entre povos indígenas inimigos. Ou, ainda, quem justificasse que elas foram trazidas com objetivos científicos.

"Eu achei que essa história já tivesse sido mais discutida e digerida pela sociedade da Baviera [Estado alemão onde fica Munique]. Mas não, de fato é algo ainda permeado de ausências e bastante sensível", diz Moura, doutora em História da Arte pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que hoje vive em Munique, onde realiza o pós-doutorado no centro de pesquisas Käte Hamburger Research Center global dis:connect.

"Enquanto a gente vê a relevância desses cientistas em Munique, há uma grande ausência sobre outros aspectos dessa prática científica."

De acordo com a curadora, o debate sobre esse outro lado da expedição de Spix e Martius tem sido levantado por instituições e cientistas mais ligados aos debates pós-coloniais (abordagem de estudo que olha criticamente para o passado e para as consequências atuais do colonialismo e do imperialismo), mas "grandes instituições da Bavária pouco falam sobre essa história".

O legado da viagem de Spix e Martius ao Brasil para a ciência já foi devidamente reconhecido, assim como os louros dos cientistas foram colhidos o suficiente no antigo reino da Baviera — que existiu de 1806 até 1918, quando, após a Revolução Alemã, foi sucedido pelo então Estado Livre da Baviera.

Três anos após voltarem da expedição na qual percorreram 14 mil quilômetros do território brasileiro, coletando e catalogando mais de 22 mil espécies de plantas, o botânico Martius e o zoólogo Spix foram agraciados com o título de nobreza, incorporando o "von" antes de seus sobrenomes.

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Crédito, Münchner Stadtmuseum, Sammlung Angewandte Kunst

Legenda da foto, Placa mortuária encomendada pela Rainha Carolina da Baviera ao artista Johann Baptist Stiglmaier para adornar o túmulo das crianças indígenas

Foi também em 1823 que lançaram o primeiro volume do livro Reise in Brasilien (Viagem pelo Brasil, na versão em Português), com textos onde mesclavam relatos de uma visão romântica da natureza tropical com observações atestando a superioridade europeia em relação aos povos nativos.

Hoje, grande parte dos itens levados por Spix e Martius integra uma coleção do museu etnológico de Munique.

O historiador Markus Wesche, autor do livro Zwei Bainer in Brasilien (Dois Bávaros no Brasil, em tradução livre), foi uma das vozes locais que criticou a maneira como o assunto foi abordado na exposição.

Segundo ele, o foco na história das crianças levadas por Spix e Martius é problemático pois ignora que houve "um grande número de indígenas levados para a Europa sobre os quais praticamente nada sabemos", escreveu à BBC News Brasil por e-mail.

Ele questiona também a denominação de sequestro, afirmando que esse "é um termo do Direito Penal [atual] e não descreve adequadamente o caso."

O historiador relata que Martius "sentiu a morte do menino como um 'veredito pesado'", citando as palavras do cientista.

"Os feitos do jovem Martius [o botânico tinha 23 anos quando deixou a Europa] foram motivados pela sua profunda crença como cristão e cientista de que desvendar os segredos da natureza e a educação levaria ao enobrecimento humano", defende Wesche.

Micheliny Verunschk, cujo romance também revisita trechos dos diários de Martius e Spix, foi enfática ao responder aos argumentos de Wesche na conferência.

"Causa espanto que, dentre as milhares de anotações feitas minuciosamente pelos cientistas a respeito da expedição e seus resultados, apenas as informações sobre as crianças tenham sido reescritas diversas vezes. As rasuras dizem que von Martius e Spix sabiam muito bem o que estavam fazendo", afirmou a autora à BBC News Brasil, depois do evento.

Quando menciona trechos reescritos, Verunschk está se referindo a relatos contraditórios e rasuras nos escritos de Martius já observados por pesquisadores.

Sobre o uso do termo "sequestro", adotado também em diversos artigos acadêmicos, a escritora justifica sua pertinência.

"O tráfico infantil indígena no contexto colonial ainda é pouquíssimo estudado, mas todo tráfico, sabemos, é antecedido por atos de violência: a separação de alguém de sua família, terra, cultura. Talvez possamos, em certa medida, chamar a esse ato violento de sequestro, ainda mais quando temos informações tão díspares sobre o que de fato aconteceu com essas crianças."

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Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Colagem de Gê Viana reconstroi imagem de Miranha (aqui, a obra original não aparece na íntegra por questões de formatação)

Até hoje não se sabe como se chamavam originalmente Johannes e Isabella, nomes que as crianças ganharam após serem batizadas na Alemanha.

Em 1824, a rainha Carolina da Baviera encomendou ao artista Johann Baptist Stiglmaier uma placa mortuária para adornar o túmulo das crianças indígenas no antigo cemitério sul de Munique, levada depois para o Stadtmuseum, um museu em Munique.

A placa mortuária foi emprestada pelo museu e foi um dos destaques da exposição Travelling Back: A Change of Perspective on an expedition from Munich to Brazil in the 19th century.

A mostra também teve obras dos artistas visuais Frauke Zabel, Yolanda Gutiérrez, Igor Vidor, Elaine Pessoa e Gê Viana.

É dessa última uma colagem digital inspirada em uma litografia presente no livro Reise in Brasilien, com um retrato de Miranha — a qual faz parte da Coleção Brasiliana do Itaú Cultural, em São Paulo (SP).

Na versão de Gê Viana, a menina é adornada com penas, folhas e um halo azul justaposto a facões — uma reinterpretação da violência colonial.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cll4zdq3n00o

 

'Foi inimigo número um das elites e do próprio imperador', diz biógrafo de Luís Gama

yytt Apesar de ter nascido livre em 1830, Luís Gama teve que conquistar a própria liberdade após ter sido vendido pelo seu pai, um fidalgo português, quando tinha oito anos de idade. Esta foi apenas a primeira vitória que o intelectual, advogado, professor, poeta e abolicionista conquistou ao longo de sua vida.

 Luís Gama garantiu por via judicial a liberação de, pelo menos, 750 pessoas. 

Esta aptidão para interpretar as leis da época, somado à sua defesa pela democracia fizeram dele o "inimigo número um das elites imperiais e do próprio imperador", afirma o historiador Bruno Rodrigues de Lima.

O pesquisador lançou recentemente o livro Luiz Gama contra o Império: A luta pelo direito no Brasil da Escravidão, publicado pela editora Contracorrente. A obra de mais de 600 páginas é uma adaptação e atualização da tese de doutorado do historiador. 

Bruno Rodrigues de Lima defendeu seu trabalho na Faculdade de Direito da Johann Wolfgang Goethe-Universität Frankfurt am Main e lhe rendeu o prêmio Walter Kolb de melhor tese de doutorado da Universidade de Frankfurt e a medalha Otto Hahn de destaque científico da Sociedade Max Planck.


Livro é uma adaptação da tese premiada de doutorado de Lima / Reprodução/Contracorrente

"É algo muito valioso, para quem pensa em um projeto de Brasil, pensar o projeto de Luís Gama. É um projeto abolicionista radical, sem concessões aos senhores, sem concessão e sem negociação, ou seja, é alguém que consegue ir à frente com uma bandeira tão difícil de ser levada à frente. E ele vai lá e leva a bandeira da abolição, da democracia, da terra, trabalho, direito para todos e todas", comenta o pesquisador em entrevista ao programa Bem Viver desta terça-feira (14).

O pesquisador lembra que Gama também foi poeta, sendo o primeiro homem negro a publicar um livro deste gênero literário no país. Além disso, fundou e foi editor-chefe de um jornal intitulado Democracia. Lima comenta que por uma questão de segurança, Gama não assinava com seu próprio nome, mas com o pseudônimo Afro.

"Ele é o Afro, ele é um homem preto na São Paulo branca, e ele vai afirmar que a democracia dele é uma democracia sem pena de morte, é uma democracia socialista, palavra do gama antes da Comuna de Paris."

Confira a entrevista na íntegra:

Brasil de Fato: No seu livro você demonstra como o Brasil do século 19 tinha leis que legitimavam a escravidão. No entanto, é usando destas leis que Luís Gama foi capaz de libertar mais de 750 pessoas. Como ele fez isso? Que tipo de truque, magia ou sagacidade ele tinha para furar o sistema usando as regras do próprio sistema?

Bruno Rodrigues de Lima: É um pouco de truque, um pouco de magia, um pouco de sagacidade. É Luiz Gama contra o Império.

O nome do livro sintetiza um pouco essa ideia de que ele tinha lado, sabia contra quem estava lutando, e tinha um profundo conhecimento do Império, das armas do Império, da estrutura do Império, de como ele funcionava. Por ter esse conhecimento é que ele sagazmente inventou um repertório de ferramentas para abrir caminhos de liberdade dentro do edifício escravista.

Brasil, você sabe, era a única sociedade escravista de soberania plena das Américas. Tinha escravidão em todos os cantos do Brasil, em todos os lugares. O Brasil tinha 20 províncias, tinha escravidão nas 20 províncias. O Brasil tinha 635 municípios, tinha gente escravizada nos 635 municípios. O Brasil tinha 1.449 paróquias, tinha gente escravizada em 1.442 paróquias.

Tudo isso que eu estou dizendo é segundo os dados oficiais do Censo Demográfico de 1872, quando o Luiz Gama tinha 42 anos de idade.

Esse era o Brasil do Luiz Gama. Esse era o Império do Brasil: um império de cima a baixo, de norte a sul, leste a oeste, o império da escravidão.

Ele entende o direito, entende que a escravidão era justificada, amparada, chancelada pelo direito. Com essa compreensão, ele vai conseguindo abrir caminhos para garantir liberdade para mais de 750 pessoas, através do judiciário e outras estratégias processuais à margem do judiciário também.

É por tudo isso que 150 anos depois da existência de Luís Gama estamos aqui reunidos falando da história de luta pela liberdade no Brasil que ele protagoniza.

Ele não protagoniza no sentido de que ele individualmente se sobrepõe às demais lutas, não é nesse sentido, mas é no sentido de que ele compreende o seu tempo histórico, os valores que ele luta, a causa que ele encampa e organiza, o movimento abolicionista, quando nem movimento abolicionista tinha, e vai coletivamente liderar esse processo.

É algo muito valioso, muito importante para quem pensa em um projeto de Brasil, pensar o projeto de Luís Gama, que é um projeto abolicionista radical, sem concessões aos senhores, sem concessão e sem negociação.

Ou seja, é alguém que consegue ir à frente com uma bandeira tão difícil de ser levada à frente, tão desigual eram as armas da época, tão desigual as forças forças e as correlações. Ele vai lá e leva a bandeira da abolição, da República, da democracia, da terra, trabalho, direito para todos e todas. 

Isso quando o movimento abolicionista ainda nem existia. 

Seu livro mostra como Luís Gama lutou contra o Império. Ele morreu antes que a República fosse declarada. No entanto, com mais de 100 anos de República, o Brasil segue reproduzindo práticas escravistas. Você acredita que Gama se desiludiria com a República brasileira?

Essa é a pergunta que eu me faço também, porque eu quero compreender esse Brasil, quero entender o que está acontecendo nele e faço isso lendo Luís Gama.

Ver que a República tal qual proclamada e os arranjos de poderes que se sucedem nas primeiras décadas, pelo menos até Getúlio, e depois mesmo durante o período de Getúlio todos os golpes e contragolpes dessa metade do século 20 até chegar agora o pacto de 1988…. O Brasil é muito jovem. 

Então, se a gente perguntar, os avós dos nossos avós são contemporâneos do Luz Gama, sabe? Está muito perto. Então, a própria República é um regime político recém proclamado. A gente tem um século e pouco…

Agora, o que eu quero dizer até que as mesmas famílias que estavam lá atrás, no judiciário, por exemplo, ou nas forças armadas, são as mesmas famílias em muitos oficiais de hoje, muitos juízes de hoje. 

Se a gente analisar a linhagem familiar, vamos ver que o Brasil mudou muito pouco. Se há trabalho análogo à escravidão como há e pesado se formos pensar: Tocantins, Pará, ou o bairro do Brás, em São Paulo, ou bairros da zona central das grandes cidades, do Rio, Belo Horizonte...

Você tem coisa acontecendo que o Ministério Público nem sonha em investigar, que tem obrigação funcional de investigar.

Luís Gama funda um jornal em 1867 chamado Democracia, uma palavra proibida de se enunciar no discurso político da época.

Luís Gama é aquele que vai plantar a semente da democracia no Brasil. Ele foi o redator-chefe desse jornal. Ele assina esse jornal com pseudônimo, porque não poderia assinar em nome próprio, senão o pescoço dele estaria ao alcance da milícia dos escravizadores, cafeicultores do interior paulista, por exemplo.

Mas não escondeu que era dele a autoria daquele jornal. Luís Gama vai afirmar e outras pessoas vão testemunhar que ele estava envolvido em projetos literários como o Democracia.

Lúcio de Mendonça vai dizer: "Eu conheci o Luiz Gama quando ele colaborava na imprensa com o pseudônimo Afro nos jornais de São Paulo".

Gama não assinava em nome próprio, assinava como Afro, que é uma maneira de afirmar sem afirmar, de ocultar a autoria do nome próprio e ao mesmo tempo ele afirma a autoria.

Ele é o Afro, ele é um homem preto na São Paulo branca, e ele vai afirmar que a democracia dele é uma democracia sem pena de morte, é uma democracia socialista, palavra do gama antes da Comuna de Paris

É uma pena que a história do movimento operário brasileiro e do movimento camponês, por exemplo, saber só agora que Luís Gama lançou um jornal chamado Democracia, com um projeto de educação inovador, de ensino laico, de educação em massa, de obrigação do Estado investir em educação de todos e todas, de meninos e meninas, de todas as faixas etárias, um projeto de alfabetização de jovens e adultos

Ele próprio foi um professor de educação de jovens e adultos, ele próprio alfabetizou centenas e centenas de pessoas. A gente está falando de 1867, 1868, 1869, muito antes da queda da monarquia e do fim de trabalho escravizado.

A gente teve um homem preto que se definiu definiu "democrata e socialista", que pensou a república e que foi o alvo, foi o inimigo número um das elites imperiais e do próprio imperador. É por isso que a Luís Gama contra o Império. 

A sua pergunta toca nesse ponto do título do livro… E por quê esse título? Porque Luís Gama estava de um lado, o Império estava de outro. Então, se o Luís Gama estivesse hoje aqui, que é a sua pergunta, não é muito difícil imaginar quais seriam suas bandeiras.

É a bandeira da democracia, da abolição, incompleta, mambembe, capenga, esvaziada, deturpada, que o Gama certamente choraria o choro mais íntimo de sua alma e ao mesmo tempo, da indignação do revolucionário. Iria lutar para fazer a abolição acontecer. 

Como é que acontece uma coisa como aconteceu em 1888 e leva 30 a 40 anos para que o preto pudesse entrar na escola, pudesse ter um ensino técnico e mais 30 a 40 para que entrasse nas universidades e mais quantos que vamos esperar até que eles entrem na magistratura?

Porque a magistratura do Brasil, as carreiras do Itamaraty, as carreiras militares de alta patente, as carreiras do judiciário, da defensoria pública, do Ministério Público, são ocupados por quem?

Nós sabemos, é estatístico, 98% são brancos. Então, o Gama não se surpreenderia com o Brasil que ele ia encontrar.

O Brasil mudou muito pouco. O Brasil, o regime de produção do Brasil de hoje, muda muito pouco do modelo de produção das grandes plantations de café do século 19.

A própria elite brasileira, muito tacanha, acha que isso aqui é uma grande fazenda. O Gama denuncia isso. 

O projeto do Gama é muito sério, é um projeto de democratizar tudo isso que eu falei agora: riqueza, educação, conhecimento, terra, e que o trabalho seja algo muito mais valorizado, digno. Trabalhador precisa ser melhor remunerado.

No lançamento do seu livro na Bahia, você esteve ao lado de Mateus Aleluia e falou para ele como via ideias de Luís Gama nas música dele. Isso tem a ver com as poesias que Luís Gama escrevia ou as ideias que defendia?

Luiz Gama jogava em todas as posições, de modo como você disse também, era um poeta, era um jornalista, e, sim, um herói nacional.

Mateus Aleluia é uma dessas raridades que dá no Brasil e que a gente tem que saber reconhecer e valorizar enquanto é tempo. Valorizar em vida.

Mateus Aleluia tem 80 anos, é um homem que foi pra Luanda, foi pra Angola, que viu a vitória do movimento de libertação de Angola. Que estava lá na luta de Angola contra o apartheid da África do Sul, ele estava lá e tem uma compreensão do panafricanismo que dá chão na Bahia, que dá chão no Brasil, e o lugar do Brasil no mundo.

Então, numa música, por exemplo, que o Mateus Aleluia fala de um novo estágio da humanidade, um estágio de alguém que tem uma utopia de um Brasil, de um mundo, sem reis e sem escravos como o Luiz Gama diria, sem patrões e sem subordinados, o Matheus Aleluia está pensando o Brasil de amanhã, um Brasil que é uma utopia, mas é essa utopia que faz a gente sonhar.

Ele vai falar de que a gente precisa de um líder popular, de alguém que pense o Brasil, que seja pragmático como [Nelson] Mandela, que traga poesia e independência como Leopold Cedarsan Singor, que tenha um sonho como Luther King e que seja um herói como Zumbi [dos Palmares]. 

Ele tem uma música que fala exatamente disso, que é Homem, o Animal que Fala. E eu, dialogando com ele, eu falei: "Olha, Mestre Mateus Aleluia, eu acho que esse ser humano que reúne essas qualidades de trazer poesia, independência, que lute pragmaticamente por um futuro melhor, e que tenha um sonho ao mesmo tempo uma utopia, esse homem é um Luís Gama".

Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2024/05/14/foi-inimigo-numero-um-das-elites-e-do-proprio-imperador-diz-biografo-de-luis-gama

O HOMEM QUE ESCAPOU DE ALCATRAZ E ENVIOU UMA CARTA AO FBI DEPOIS DE 50 ANOS LIVRE

 Alcatraz é um lugar lendário, uma prisão à prova de fugas que abrigava os criminosos mais perigosos dos Estados Unidos. Durante anos, todos acreditavam que não havia ninguém que pudesse capaz de escapar dessa penitenciária, embora dezenas tenham tentado. Mas novas evidências vieram à tona e chocaram a todos, porque essas podem ser as provas de que três homens não apenas escaparam, mas sobreviveram e levaram uma vida em liberdade por anos. Mas apesar de três homens terem escapado, a história do sujeito neste artigo é a mais incrível. A parte mais louca? Este fugitivo supostamente enviou uma carta ao FBI anos depois. Continue lendo para descobrir toda a história.

ILHA GANNETS

Alcatraz, em homenagem ao nome dos pássaros que vivem na região, tornou-se uma prisão de segurança máxima em 1934. Ela conhecida por abrigar os prisioneiros mais perigosos do país.

SURPRESA: ALCATRAZ NÃO ERA UM LUGAR AGRADÁVEL

NINGUÉM DEVERIA ESCAPAR DA ILHA

POR MAIS QUE PARECESSE ABSURDO, OS PRESOS ESTAVAM DISPOSTOS A CORRER O RISCO DE MORRER PARA TENTAREM FUGIR

Apesar desses desafios, mais de 30 pessoas tentaram escapar de Alcatraz. Até hoje, acreditava-se que ninguém havia sucedido nas tentativas. Basicamente, esse lugar é a prisão de Azkaban, mas no mundo real.

OUTRAS TENTATIVAS DE FUGA

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Se você quiser mais evidências de como era difícil escapar de Alcatraz com vida, basta olhar para os outros homens que tentaram fugir da prisão. Houve outras 14 tentativas de fuga durante os 29 anos em que Alcatraz estava em operação

Fonte: https://gameofglam.com/o-homem-que-escapou-de-alcatraz-e-enviou-uma-carta-ao-fbi-depois-de-50-anos-livre-2?utm_source=taboola&utm_medium=ig-internetgroup-network&utm_campaign=38392330&utm_term=55+anos+depois%2C+o+homem+que+fugiu+de+Alcatraz+envia+esta+nota+ao+FBI&utm_content=http%3A%2F%2Fcdn.taboola.com%2Flibtrc%2Fstatic%2Fthumbnails%2F903abf31897b3f9a24839e927dc4369f.png&ts=2024-05-11+11%3A12%3A19&tbv=Na9zn-AYdcjoNAwE_UAugV5MunHNbgpLeA_dTzeXpv8%3D&br=1&utm_source=taboola&utm_medium=ig-internetgroup-network&utm_campaign=38392330&utm_term=55+anos+depois%2C+o+homem+que+fugiu+de+Alcatraz+envia+esta+nota+ao+FBI&utm_content=http%3A%2F%2Fcdn.taboola.com%2Flibtrc%2Fstatic%2Fthumbnails%2F903abf31897b3f9a24839e927dc4369f.png&ts=2024-05-11+11%3A12%3A19&tbv=Na9zn-AYdcjoNAwE_UAugUtdLGDwNdRupNorOCBoQCE%3D&br=1

O almirante branco e o Almirante Negro


O almirante branco e o Almirante Negro Muitos integrantes das Forças Armadas brasileiras não perdem uma oportunidade de mostrar que estão na vanguarda do que há de mais atrasado no país.

O racismo, elitismo, corporativismo, reacionarismo e a aversão ao pensamento crítico, marcas das classes mais abastadas desde o início da história do Brasil, encontram em boa parte dos fardados o terreno fértil para se reproduzir. Tudo sob o surrado discurso de patriotismo e honestidade, como se a turma da caserna tivesse o monopólio da retidão.

Ao menos para isso serviram os anos de Jair Bolsonaro na Presidência, provar que a autoimagem dos militares não corresponde à realidade. Vimos oficiais negociando joias que são patrimônio público e “patriotas” fardados que conspiram contra o próprio país, em tentativa de golpe.

Mesmo aqueles que não são golpistas estão longe do razoável. Aí está o comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, para provar.

Dessa vez, temos o almirante branco destilando em público e sem pudor todo o seu racismo contra o Almirante Negro. Para Olsen, João Cândido, o herói da Revolta da Chibata, que, em 1910, se insurgiu contra os castigos físicos impostos por seus superiores da Marinha, seria um “exemplo reprovável de conduta”.

Ele se manifestou contra a inclusão do nome de João Cândido no “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria”. Chamou os marinheiros envolvidos na revolta de abjetos, e disse que os enaltecer significa exaltar atributos que não contribuem para “o pleno estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado democrático de Direito”.

Certamente, Olsen deve achar que heroicos seriam os subordinados negros que aceitassem submissos as chibatadas de seus superiores, brancos como ele. Esse é o seu “Estado democrático” ideal.

A revolta contra os maus tratos, para o comandante da Marinha, foi episódio “vergonhoso” e “deplorável”, apesar de classificar como “inaceitáveis” os atos de violência dos oficiais sobre seus subordinados.

Por esse pensamento, Olsen parece achar que os marinheiros negros deveriam aceitar o inaceitável até que seus superiores brancos chegassem à conclusão de que estavam fazendo algo reprovável.

Estariam apanhando até hoje.

O almirante branco ainda acusa os insurgentes de reivindicar “vantagens corporativistas e ilegítimas”, citando aumento de salários, regime de trabalho menos exigente e exclusão de oficiais.

De vantagens corporativistas e ilegítimas, militares de alta patente como Olsen entendem. Basta olhar os salários e benefícios que recebem atualmente a cúpula das Forças Armadas e comparar com a remuneração dos civis ou mesmo de militares de baixa patente.

O almirante branco, nesse caso, utiliza com o Almirante Negro a tática vil da extrema direita contra os inimigos: acuse-os do que você faz.

Fonte: https://iclnoticias.com.br/o-almirante-branco-e-o-almirante-negro/

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