“Rastro de fraudes milionárias nas Forças Armadas: pensões militares do Exército Brasileiro e da Marinha do Brasil somam prejuízo de R$ 54 milhões, enquanto a FAB oculta informações!”

e1227 A criação do montepio pelo Decreto nº 695 em 28 de agosto de 1890 marcou o início da previdência militar no Brasil, garantindo sustento às famílias de militares falecidos. Com o passar do tempo, o sistema evoluiu para as pensões militares, que atualmente geram debate devido a fraudes e prejuízos estimados em R$ 54 milhões, segundo dados do Exército Brasileiro e da Marinha do Brasil. A Força Aérea Brasileira (FAB) não divulgou informações completas, dificultando a mensuração exata das perdas.

Atualmente, as pensões militares são destinadas a cônjuges e filhos menores ou incapazes, com opção para filhas solteiras mediante contribuição adicional. Reformas como a Medida Provisória nº 2.215/2000 alteraram as regras, mas fraudes no sistema de previdência militar persistem. O promotor militar Mário Porto enfatiza que as pensões militares não são um privilégio, já que os beneficiários contribuem para o sistema. Contudo, ele ressalta o desequilíbrio entre a base contributiva e os valores pagos, um fator que agrava os problemas de sustentabilidade e facilita irregularidades.

“Fraudes nas Forças Armadas: Casos emblemáticos, prejuízos milionários e desafios na prevenção”

Fraudes comuns no sistema de previdência militar incluem saques após o falecimento do beneficiário, falsificação de documentos e simulação de união estável. Entre 2019 e 2024, o Exército Brasileiro cancelou 65 pensões militares por irregularidades, com prejuízos de R$ 21,4 milhões. A Marinha do Brasil identificou fraudes que somam R$ 27,4 milhões desde 2014. O Tribunal de Contas da União (TCU) cancelou 448 pensões militares por diversas irregularidades no mesmo período, destacando a amplitude dos problemas.

Casos emblemáticos no sistema de previdência militar incluem o uso de “sósias” para prova de vida e uniões simuladas. Em 1995, uma mulher utilizou outra pessoa para se passar por sua mãe falecida, mantendo a fraude por 17 anos e causando prejuízo de R$ 230 mil. Em outro caso, uma “nora” casou-se com o sogro idoso para fraudar a Força Aérea Brasileira (FAB), recebendo indevidamente mais de R$ 360 mil. Esses exemplos ilustram a criatividade dos fraudadores e a fragilidade nos controles.

O promotor Mário Porto sugere melhorias no sistema de previdência militar, como a integração de dados com cartórios para notificação rápida de óbitos. Apesar dos esforços de controle, as fraudes no âmbito das pensões militares continuam a desafiar a administração pública. Embora os valores totais desviados sejam elevados, o percentual em relação ao universo de beneficiários é baixo, reforçando a necessidade de mecanismos de prevenção mais eficazes e integrados nas Forças Armadas: Exército Brasileiro, Marinha do Brasil e Força Aérea Brasileira (FAB).

PM atropela homem com viatura e foge sem prestar socorro em SP; vítima fratura perna

e12161 Uma câmera de segurança registrou o momento em que o homem atravessava a rua Eugênio Rossi e foi atingido pela viatura da Polícia Militar.

A policial não parou para socorrer a vítima e fugiu do local. O homem permaneceu sentando no asfalto. Segundo a Prefeitura de Sorocaba, uma equipe do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) esteve no endereço e socorreu o ferido até o Conjunto Hospitalar de Sorocaba. Ele teve uma fratura na perna.

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública disse que a conduta dos policiais não condiz com os protocolos, princípios e valores da Polícia Militar do Estado de São Paulo. "Os agentes envolvidos na ação já foram identificados e a PM responsável pela condução da viatura afastada das atividades operacionais."

Ainda conforme a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), um Inquérito Policial Militar foi instaurado para apurar todas as circunstâncias dos fatos.

O ouvidor da polícia, Claudio Aparecido da Silva, o Claudinho, classificou o atropelamento e a fuga do local como um absurdo e chamou a motorista de irresponsável. "Pela velocidade em que a viatura se deslocava, o risco de vida da vítima era iminente, a viatura deveria parar e solicitar socorro para vítima imediatamente, o que não houve", declarou.

Ele afirmou que a Ouvidoria abriu procedimento e vai acompanhar as apurações até seu desfecho final. "Nossa expectativa é de uma apuração rigorosa e consequente punição exemplar."

O caso é mais um de violência policial registrado por câmeras de segurança nas últimas semanas. Antes, um estudante medicina foi morto com um tiro disparado por um PM dentro de um hotel na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo. Na mesma região da cidade, um homem foi morto com 11 tiros pelas costas dados por um PM de folga ao furtar produtos de limpeza de um mercado. Imagens gravadas por uma testemunha mostraram um PM jogando um homem em um córrego na capital.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/12/pm-atropela-homem-com-viatura-e-foge-sem-prestar-socorro-em-sp-vitima-fratura-perna.shtml

'Baculejo', algemas, grandes operações: entenda o que pode mudar na regulação de abordagens policiais

e1209 O texto foi elaborado ao longo dos últimos meses dentro de um Grupo de Trabalho coordenado pela Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), com participação de representantes das secretarias de Segurança Pública e comandantes das polícias.

O Estúdio i desta sexta-feira (6) mostrou como podem ficar alguns pontos na nova diretriz (veja no vídeo acima).

Um deles diz respeito aos 'baculejos' ou 'enquadros', que são as ações de abordagem de pessoas nas ruas:

  • Como é hoje: não há diretrizes na portaria de 2010.
  • Como pode ficar: o policial deve informar a pessoa sobre as razões para revista e direitos; limitar ao mínimo o escalonamento da força (só usar armamento se a pessoa resistir ao estiver armada); registrar a identidade da pessoa, razão para busca e nível da força empregada.

Outro ponto é relacionado às grandes operações policiais, que acontecem, por exemplo, nas favelas do Rio de Janeiro:

  • Como é hoje: não há diretrizes na portaria de 2010.
  • Como pode ficar: órgãos de segurança pública deverão planejar estrategicamente as operações; utilizar equipamentos de gravação audiovisual sempre que possível; documentar e justificar as ações e decisões tomadas durante as operações.

Uma terceira norma destacada no texto trata das algemas: elas só devem ser utilizadas em casos de resistência durante a abordagem.

Também existe a intenção de criar um comitê de monitoramento nos casos de mortes causadas por policiais e mortes de policiais em confrontos com bandidos.

Fonte: https://g1.globo.com/globonews/estudio-i/noticia/2024/12/06/entenda-o-que-pode-mudar-na-regulacao-de-abordagens-policiais.ghtml

Quem é o integrante da PGR chamado de “FDP” pelo delator Mauro Cid

e1202 Ao relatar o conteúdo da sua delação premiada a aliados, o tenente-coronel Mauro Cid chamou o subprocurador-geral da República Carlos Frederico de “FDP” [filho da puta]. A fala consta no material apreendido pela Polícia Federal na mesa de um assessor do secretário nacional de Relações Institucionais do PL, o general Braga Netto. A suspeita da PF é que o ex-ajudante de ordens da presidência no governo Bolsonaro tenha avisado aos colegas sobre as perguntas feitas pela autoridades, dando pistas sobre possíveis alvos da investigação acerca da suposta tentativa de golpe.

O documento apresenta perguntas e respostas feitas a Mauro Cid sobre o conteúdo da sua delação. O interlocutor do militar aparenta preocupação sobre a suposta participação das Forças Especiais do Exército em manifestações. Ele cita os dias 12/12 de 2022, quando radicais vandalizaram Brasília contra a diplomação de Lula, e 8/1 de 2023, quando manifestantes atacaram as sedes dos Três Poderes. Cid afirma que a atuação dos chamados “kids pretos” está em outra investigação, comandada justamente por Carlos Frederico.

Questionado pelo interlocutor desconhecido sobre a “narrativa” de que as Forças Especiais teriam liderado os movimentos de 12 de dezembro e 8 de janeiro, Mauro Cid explicou: “Está em outra investigação com o subprocurador do MPF (Dr. Carlos Frederico – um FDP).”

O autor do documento também perguntou a Cid sobre o teor das reuniões e o que havia sido delatado. Ele respondeu: “Nada… Eu não entrava nas reuniões. Só colocava o pessoal para dentro.” Quando questionado sobre a chamada “minuta do 142” e se existia um documento físico, ele afirmou: “Eles sabem de coisas que não estavam em lugar nenhum (e-mail, celular, etc).”

Carlos Frederico foi coordenador do Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos da Procuradoria-Geral da República. Por isso, se tornou alvo dos bolsonaristas. Ele deixou o posto em dezembro do ano passado, após apresentar diversas denúncias contra pessoas supostamente envolvidas nos atos de 8 de Janeiro. Agora, é cotado para uma vaga no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Ele é formado em direito pela Universidade Federal do Amazonas (1986) e fez aperfeiçoamento na Escola Superior da Magistratura do Amazonas (1987). O subprocurador também tem especialização em Direito Público pelo Centro Universitário de Brasília (2013), instituição pela qual se tornou mestre em 2016.

Além da atuação dos “kids pretos”, o interlocutor de Mauro Cid questionou sobre o que os investigadores sabem sobre a minuta do golpe e sobre o ex-assessor internacional de Jair Bolsonaro, Filipe Martins. A “minuta do 142” faz referência ao decreto que seria utilizado parta dar sustentação jurídica ao suposto golpe de estado.

Filipe Martins está entre os 37 indiciados pela Polícia Federal na última quinta-feira (21/11). Ele ficou seis meses preso preventivamente, entre 8/2 e 9/8 deste ano. Sua prisão ocorreu no âmbito da operação Tempus Veritatis, uma das primeiras deflagradas pela PF contra o alto escalão do governo Bolsonaro sobre a suposta tentativa de golpe. Ele é apontado como autor intelectual da minuta.

Cid fala em ressentimento com senador

Ao fazer considerações finais sobre a sua delação premiada, Mauro Cid descreveu: “Ressentimento com a parte política da direita: Rogério Marinho”. De acordo com interlocutores, a ala militar radical do bolsonarismo se decepcionou com o ex-ministro do Desenvolvimento Regional, porque o parlamentar foi contra iniciativas que levassem a uma ruptura democrática.

O parlamentar, segundo fontes do PL, tentou convencer o entorno do então presidente a “virar a página e ter paciência” para que Bolsonaro voltasse ao poder em 2026 pela via eleitoral. Na ocasião, Marinho argumentou que o ex-presidente tinha o “apoio de 50% da população” e que o PT “não saberia governar”, abrindo amplo espaço para o retorno da direita ao Planalto.

Fonte: https://www.metropoles.com/colunas/paulo-cappelli/quem-e-o-integrante-da-pgr-chamado-de-fdp-pelo-delator-mauro-cid

Policial federal preso na Operação Contragolpe repassou informações sobre segurança de Lula, diz PF

e Para os investigadores, as informações fornecidas poderiam de alguma forma subsidiar eventuais ações do grupo preso nesta terça-feira (19) contra a vida do petista, caso Bolsonaro assinasse um decreto com o objetivo de deflagar um golpe de Estado.

Wladimir Soares foi um dos presos nesta terça. A GloboNews apurou que ele atuou na segurança de um hotel em Brasília em que Lula realizava reuniões políticas no período da transição governamental, nos meses de novembro e dezembro de 2022.

O policial foi afastado dessa função após ser flagrado no acampamento golpista montado em frente ao QG do Exército em Brasília.

Segundo a PF, esse repasse de informações sobre a segurança de Lula é um dos elementos que indicam a adesão de Wladimir Soares ao suposto plano golpista.

"O investigado [o agente da PF Wladimir Soares] aproveitando-se das atribuições inerentes o seu cargo no período entre a diplomação e posse do governo eleito, repassou informações relacionadas a estrutura de segurança do presidente Lula para pessoas próximas ao então presidente Jair Bolsonaro aderindo de forma direta ao intento golpista", diz o relatório da PF.

Segundo os investigadores, o grupo formado pelo policial federal e quatro militares do Exército teria discutido um plano, chamado "Punhal Verde e Amarelo", com o objetivo de assassinar Lula.

Entre as formas de cometer o crime, foram levantadas as hipóteses de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico.

Além da execução do petista, segundo a Polícia Federal, o grupo também teria debatido o sequestro ou a execução do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e a "neutralização" do vice-presidente Geraldo Alckmin.

Operação Contragolpe

O que são os 'kids pretos'?

O ministro Alexandre de Moraes autorizou nesta terça-feira uma operação para prender o policial federal Wladimir Soares e quatro militares do Exército, suspeitos de planejar um golpe de Estado, com a execução de autoridades.

  • general de brigada Mario Fernandes (na reserva)
  • tenente-coronel Helio Ferreira Lima
  • major Rodrigo Bezerra Azevedo
  • major Rafael Martins de Oliveira

Os militares fizeram curso de Forças Especiais do Exército, uma ala de elite da corporação, e eram chamados de "kids pretos".

Kids pretos presos pela PF: Rafael Martins de Oliveira, Hélio Ferreira Lima, Rodrigo Bezerra de Azevedo e Mario Fernandes — Foto: Arquivo pessoal e Eduardo Menezes/SG/PR

Na decisão que autorizou a operação, Moraes aponta indícios de "gravíssimos crimes" e "extrema periculosidade" dos militares e do policial federal presos por suposto plano golpista.

O magistrado também menciona, no documento, técnicas militares e terroristas e suspeitas de uso de aparato público-militar no planejamento por parte dos suspeitos.

"Os elementos comprovam a existência de gravíssimos crimes e indícios suficientes da autoria, além de demonstrarem a extrema periculosidade dos agentes, integrantes de uma organização criminosa, com objetivo de executar atos de violência, com monitoramento de alvos e planejamento de sequestro e, possivelmente, homicídios [de Lula, Alckmin e do próprio Moraes", afirma a decisão.

Em relação ao uso de aparato público-militar no suposto plano golpista, o ministro diz que possivelmente um veículo oficial do Batalhão de Ações de Comandos foi utilizado nos fatos investigados.

Em outro trecho do despacho, o magistrado afirma haver indícios de que os alvos discutiram o uso de técnicas militares e terroristas para concretizar o plano golpista.

"Os investigados contribuíram para o planejamento de um Golpe de Estado, cuja consumação presumia a detenção ilegal e possível execução de [Moraes], com uso de técnicas militares e terroristas, além de possível assassinato dos candidatos eleitos nas Eleições de 2022, Lula e Alckmin, e, eventualmente, as prisões de pessoas que pudessem oferecer qualquer resistência institucional à empreitada golpista", diz o documento.

Grupo monitorou autoridades, diz PF

PF prende grupo suspeito de planejar golpe de Estado

monitoramento de autoridades teve início após uma reunião na casa do ex-ministro da Defesa Walter Souza Braga Netto, que foi candidato a vice de Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas eleições do ano passado.

"As atividades anteriores ao evento do dia 15 de dezembro de 2022 indicam que esse monitoramento teve início, temporalmente, logo após a reunião realizada na residência de Walter Braga Netto, no dia 12 de novembro de 2022", diz a PF no documento.

A PF diz que, entre as ideias cogitadas pelo grupo, estava a de envenenar o ministro Alexandre de Moraes.

"Foram consideradas diversas condições de execução do ministro Alexandre de Moraes, inclusive com o uso de artefato explosivo e por envenenamento em evento oficial público. Há uma citação aos riscos da ação, dizendo que os danos colaterais seriam muito altos, que a chance de ‘captura’ seria alta e que a chance de baixa (termo relacionado a morte no contexto militar) seria alto", afirma trecho.

Para os investigadores, os envolvidos admitiam inclusive a possibilidade de eles morrerem no andamento da suposta operação golpista.

"Ou seja, claramente para os investigados a morte não só do ministro, mas também de toda a equipe de segurança e até mesmo dos militares envolvidos na ação era admissível para cumprimento da missão de 'neutralizar' o denominado 'centro de gravidade', que seria um fator de obstáculo à consumação do golpe de Estado", prossegue a PF em trecho citado por Moraes.

O grupo cogitou também "neutralizar" (assassinar) Lula e Geraldo Alckmin, então presidente e vice-presidente eleitos. Mais uma vez a hipótese de envenenamento foi levantada, segundo as investigações.

Ministro Alexandre de Moraes se manifestou sobre o ataque ao STF — Foto: Reprodução/TV Globo

"Para execução do presidente Lula, o documento descreve, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico", descreve a PF.

Ainda de acordo com os investigadores, para que a tentativa de golpe tivesse êxito, os suspeitos tratavam da necessidade de também assassinar o vice-presidente Geraldo Alckmin, que assumiria a Presidência da República em caso de morte de Lula.

"Já o codinome Joca, por sua vez, é uma referência ao citado vice-presidente Geraldo Alckmin. [...] Como, além do presidente, a chapa vencedora é composta, obviamente, pelo vice-presidente, é somente na hipótese de eliminação de Geraldo Alckmin que a chapa vencedora estaria extinta".

Segundo a PF, a organização era dividida em cinco núcleos:

  • ataques virtuais a opositores;
  • ataques às instituições (STF, Tribunal Superior Eleitoral), ao sistema eletrônico de votação e à higidez do processo eleitoral;
  • tentativa de Golpe de Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • ataques às vacinas contra a Covid-19 e às medidas sanitárias na pandemia; e
  • uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens, o qual se subdivide em: a) uso de suprimentos de fundos (cartões corporativos) para pagamento de despesas pessoais; b) e inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde para falsificação de cartões de vacina; c) desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras ao ex-presidente Jair Bolsonaro ou agentes públicos a seu serviço, e posterior ocultação com o fim de enriquecimento ilícito”.

Fonte: https://g1.globo.com/politica/noticia/2024/11/19/policial-federal-preso-na-operacao-contragolpe-repassou-informacoes-sobre-seguranca-de-lula-diz-pf.ghtml

Holocausto brasileiro: retrato de horrores de um hospício vira série de TV

e O bombeiro João Bosco Siqueira, de 55 anos, cresceu acreditando que tinha sido abandonado ainda bebê. Só descobriu a verdade em 2011, quando os colegas de corporação localizaram sua mãe. Órfã desde criança, Geralda tinha 15 anos ao dar à luz no Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais. Era empregada doméstica desde os 11 de um advogado de Virginópolis, a 270 quilômetros de Belo Horizonte.

“Foi mandada para o Colônia, grávida de três meses, pelo patrão que a estuprou”, relata a jornalista Daniela Arbex. As mulheres que engravidavam lá não podiam criar seus filhos. As crianças eram entregues para adoção ou, no caso do filho de Geralda, despachadas para orfanatos. Geralda e João Bosco só se reencontraram 40 anos depois.

Essa é uma das muitas histórias contadas por Daniela em Holocausto Brasileiro (Intrínseca), livro-reportagem que denuncia a morte de 60 mil internos e o sofrimento dos sobreviventes daquele que foi o maior hospício do Brasil. Publicada em 2013, a obra vendeu mais de 300 mil exemplares, foi premiada com um Jabuti (o mais importante prêmio literário do país), virou documentário da HBO e ganhou adaptação para a TV com a série Colônia, da Globoplay.

Em 2022, o livro chega às telas do cinema. “Toda e qualquer família tem ou conhece alguém com algum transtorno de saúde mental. Isso torna a temática do livro universal”, acredita a autora. Muito antes do lançamento de Holocausto Brasileiro, o livro Nos Porões da Loucura (1982), do jornalista Hiram Firmino, e o documentário Em Nome da Razão (1979), do cineasta Helvécio Ratton, já haviam denunciado os horrores do Hospital Colônia.

As barbaridades começam pelos critérios de quem deveria ser internado ali. Afinal, qual era o diagnóstico de dona Geralda e por que ela foi parar numa instituição psiquiátrica? “Cerca de 70% dos internos não tinham diagnóstico de doença mental”, conta André Ristum, diretor e roteirista de Colônia. Eram, em sua maioria, alcoólatras, prostitutas, homossexuais, epiléticos, sifilíticos… Ou, simplesmente, mães solteiras.

É o caso de Elisa, a protagonista da série. Filha de fazendeiros, a personagem vivida por Fernanda Marques é internada no hospício pelos pais só porque engravidou do namorado. “É uma história repleta de injustiça e desumanidade”, diz o cineasta, que convidou os psiquiatras Eliezio Aguiar e Fernando Torrecillas para ajudar na construção dos roteiros e na preparação do elenco. “As histórias que mais me chocaram foram as de jovens grávidas e de seus filhos indesejados que foram mandados para lá por serem um problema para a sociedade da época”.

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+ LEIA TAMBÉM: Esquizofrenia: estigma também precisa de tratamento

Antes do início das gravações, Ristum visitou o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena e ficou surpreso ao descobrir que, ainda hoje, residem ali pacientes do antigo Hospital Colônia. “Eles tiveram suas vidas roubadas e não puderam ser reintegrados à sociedade. Ou por não saberem de onde tinham vindo ou por não conseguirem se readaptar a uma vida fora dali”, lamenta o diretor.

Com a aprovação da lei de atenção ao portador de transtorno mental no Brasil, em 2001, um novo modelo de assistência foi adotado no país. Os pacientes com diagnóstico psiquiátrico passaram a receber tratamento humanizado em residências terapêuticas. Exibida pelo Canal Brasil e disponível no Globoplay, Colônia fez tanto sucesso que Ristum já desenvolve uma segunda temporada para a TV e finaliza um longa para o cinema a partir dos dez episódios da primeira temporada.

A cena da chegada de Elisa ao Colônia, transportada no vagão de um trem de carga, impactou a psiquiatra Ana Paula Guljor. “Considerada louca pela sociedade, a personagem se senta para conversar com o médico, mas ele não ouve absolutamente nada do que ela diz. Sua palavra não é ouvida porque não tem importância. O que importa ali é o estigma de incapacidade ou de periculosidade que lhe impuseram”, afirma a vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental, que conheceu Daniela no Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps) da Fiocruz.

O “hospício de Barbacena”, a propósito, é citado pelo escritor mineiro Guimarães Rosa (1908-1967) no conto Sorôco, Sua Mãe, Sua Filha, do livro Primeiras Estórias (1962).

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A jornalista Daniela Arbex, autora de
A jornalista Daniela Arbex, autora de “Holocausto Brasileiro” (Foto: Intrínseca/Divulgação)

“Estive hoje num campo de concentração nazista”

A ideia de escrever Holocausto Brasileiro, conta Daniela Arbex no posfácio do livro-reportagem, nasceu em 2009 quando ela viu, pela primeira vez, as fotografias tiradas em 1961 por Luiz Alfredo para a revista O Cruzeiro. Para fazer os registros, o fotógrafo passou seis horas no manicômio.

“Fiquei profundamente impactada”, confessa a jornalista. “Nunca tinha me deparado com nada parecido, a não ser as imagens dos judeus presos e assassinados na Alemanha Nazista”. O impacto foi tamanho que, em 2011, a então repórter do jornal Tribuna de Minas, em Juiz de Fora, resolveu buscar alguns dos possíveis sobreviventes. Queria contar para o maior número de pessoas o que se passou no Brasil entre 1903, data da fundação do Hospital Colônia de Barbacena, e 1980, quando a instituição começou a ser reformulada.

+ LEIA TAMBÉM: A evolução dos tratamentos psiquiátricos no Brasil

Comparar o Colônia a um campo de concentração, aliás, é um recurso recorrente. O primeiro a lançar mão dele foi o psiquiatra italiano Franco Basaglia (1924-1980), pioneiro da luta pelo fim dos manicômios. Em 1979, ele esteve no Brasil e visitou o Colônia. Não gostou nada do que viu. “Estive hoje num campo de concentração nazista”, declarou, numa coletiva de imprensa. “Em lugar nenhum do mundo, presenciei uma tragédia dessas”.

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Com as fotografias em mãos, Daniela partiu para Barbacena à procura de moradores que pudessem dar alguma pista sobre o paradeiro dos ex-internados. “Até começar a bater nas portas certas, fui a dezenas de endereços errados”, descreve a jornalista que, depois de dois anos de investigação, conseguiu localizar 160 remanescentes daquele período.

O primeiro foi José Machado, o Machadinho, “um homem negro e pobre acusado injustamente de colocar veneno na bebida de alguém”, descreve a jornalista. Por essa razão, passou mais de 50 anos esquecido naquele lugar. Ao chegar em vagões superlotados, os internos tinham suas roupas arrancadas e a cabeça raspada. Alguns ganhavam apelidos. Outros, nem isso.

Em suas idas e vindas a Barbacena, Daniela fez descobertas estarrecedoras: os internos comiam ratos, bebiam água de esgoto e dormiam sobre capim. “Não havia leito disponível para todo mundo”, explica Ana Paula. Só na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, havia 2,8 mil leitos para 4,9 mil pacientes, segundo o livro Psiquiatria Social: Problemas Brasileiros de Saúde Mental (Atheneu), do psiquiatra Luís da Rocha Cerqueira (1911-1984).

Nas noites frias, os internos se amontoavam uns sobre os outros para se manter aquecidos. Os que ficavam por debaixo da pilha de corpos nus costumavam morrer sufocados. Vítimas de maus-tratos, pelo menos 60 mil pessoas morreram no Hospital Colônia de Barbacena. Ou, em alguns casos, foram mortos.

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“Os pacientes do Colônia morriam de frio, de fome, de doença. Morriam também de choque”, escreveu a jornalista e escritora Eliane Brum, em Os Loucos Somos Nós, o prefácio do livro de Daniela. “Em alguns dias, os eletrochoques eram tantos e tão fortes, que a sobrecarga derrubava a rede do município.”

Seus cadáveres, então, eram vendidos para faculdades de medicina. Foram 1 853 corpos, descritos como “peças” nos prontuários da instituição e comercializados entre 1969 e 1980. O restante era enterrado em valas comuns no cemitério, hoje desativado, anexo ao manicômio. “Infelizmente, o Hospital Colônia não era exceção. Era regra”, afirma Ana Paula. “A política pública vigente na época era voltada exclusivamente para a internação hospitalar”, prossegue a médica.

História inacabada

Com a publicação do livro, Daniela passou a receber um sem-número de e-mails. Muitos deles eram de profissionais da área, como psicólogos e psiquiatras, elogiando sua iniciativa. Diziam que, após terem lido o livro, se tornaram profissionais ainda melhores. Não bastasse, a obra ainda inspirou dezenas de dissertações, teses e artigos de graduação, mestrado e doutorado. “Acredito que ele trouxe fôlego novo à luta antimanicomial no Brasil”, avalia a jornalista.

Outras tantas mensagens eram de pessoas que, ao folhear as páginas de Holocausto Brasileiro, reconheceram parentes naquele inferno. Caso do aposentado José Carlos Almeida, que identificou a própria mãe, Leonor Correia de Almeida, em uma foto do livro. “Ele não para de chorar”, contou o filho, o funcionário público André Almeida, o remetente do e-mail. Mais doloroso do que encontrar o nome da mãe em um livro de registro de julho de 1956 foi descobrir que quem autorizou sua internação foi o próprio marido, o pai de José Carlos.

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A cena, de cortar o coração, está no documentário da HBO. “O aposentado chorou feito a criança que nunca pôde ser. Sua infância havia sido roubada pelo pai e pelo Colônia. Toda a equipe no set chorou junto”, conta Daniela.

Fonte: https://saude.abril.com.br/coluna/saude-e-pop/holocausto-brasileiro-retrato-de-horrores-de-um-hospicio-vira-serie-de-tv/

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