Delegado do AM, policiais e vereadora são presos pela PF por sequestro e tortura de homem em Roraima

oc0526 Prisões ocorreram na manhã desta quinta-feira (22) no Amazonas e em Roraima. Batizada de Operação Jeremias 22:17, a ação também cumpriu outros mandados de prisão temporária e de busca e apreensão na Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Alvos da PF (da esquerda para a direita, no sentido horário): delegado Adriano Félix, vereadora Adriana, o empresário Lidivan Reis, agente Álvaro Tibúrcio, agente Edmilton Freire, PM Jan Elber, e o empresário Matheus Possebon — Foto: A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (22) o delegado da Polícia Civil do Amazonas Adriano Félix Claudino da Silva, a vereadora Adriana Souza dos Santos, e outro três policiais por envolvimento no sequestro e tortura de um homem em Roraima. A ideia deles, segundo a PF, era roubar uma carga de cassiterita extraída ilegalmente da Terra Indígena Yanomami.

(CORREÇÃO: o g1 errou ao informar que o empresário Matheus Possebon havia sido preso na operação. Na verdade, ele não foi localizado e permanece foragido. A informação foi corrigida às 10h03 de sexta-feira, 23).

A lista completa de presos inclui:

  • Adriano Félix Claudino da Silva - delegado da Polícia Civil no Amazonas;
  • Álvaro Tibúrcio Steinheuser - policial civil no Amazonas;
  • Edmilton Freire dos Santos - policial civil no Amazonas;
  • Lidivan Santos dos Reis - empresário do ramo de venda de carro e investigado por tráfico de drogas em outra ação;
  • Jan Elber Dantas Ferreira - policial militar em Roraima;
  • Adriana Souza dos Santos - vereadora no município de Caracaraí, no interior de Roraima, e escrivã da Polícia Civil de Roraima.

O empresário do ramo artístico musical, Matheus Possebon, também é investigado e teve mandado de prisão temporária expedido pela Justiça, mas não foi preso e está foragido. Ele já foi preso pela PF na operação Disco de Ouro, que também teve como alvo o cantor Alexandre Pires, por ligação com o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.

g1 tenta localizar a defesa de todos os investigados.

As investigações apontam que os envolvidos formaram um grupo criminoso para escoltar cargas de minérios extraídos ilegalmente da Terra Indígena Yanomami, prestar serviços de segurança de forma clandestina e apurar a ocorrência de roubos de cargas de forma paralela à atuação estatal.

O sequestro aconteceu no município de Caracaraí, em fevereiro de 2023. À época, a Polícia Militar informou que a vítima estava trabalhando quando foi algemada, ameaçada e agredida com tapas e choques elétricos (entenda mais abaixo).

Batizada de Operação Jeremias 22:17, a ação da PF desta quinta cumpre sete mandados de prisão temporária e 13 de busca e apreensão em Roraima, Amazonas, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul. Eles foram determinados após investigações com participação direta da Promotoria de Justiça de Caracaraí.

De acordo com a PF, na busca de um suposto roubo de cassiterita, os policiais do Amazonas sequestraram e torturam o homem para que ele indicasse o destino da carga. As investigações apontam a participação de policiais de Roraima em apoio aos do Amazonas.

Sequestro e tortura

Os crimes aconteceram no dia 8 de fevereiro de 2023 na vicinal 3, em Caracaraí, localizado ao Sul de Roraima. A vítima sofreu lesões nos pulsos e marcas de tapas no peitoral. Além disso, ele sofreu choques na região do tórax.

À Polícia Militar, o pai da vítima relatou que estava trabalhando em um terreno com o filho quando um carro parou no local e três homens desceram do veículo. Segundo o relato, os homens se identificaram como policiais civis e um deles perguntou a localização da vicinal 4, onde estaria ocorrendo uma briga. Por conta disso, em uma motocicleta, a vítima os acompanhou até o local.

No entanto, quando chegou ao local indicado, o homem foi algemado e ameaçado com tapas e choques elétricos. Além disso, os suspeitos afirmaram que incendiariam a motocicleta dele caso não colaborasse.

Com a vítima, eles seguiram até o município de Iracema e posteriormente seguiram para Mucajaí. Dentro do carro, a vítima foi pressionada a cerca de alguma informação sobre um caminhão graneleiro que, segundo os suspeitos, foi furtado e transportava cassiterita, um metal usado para produzir ligas.

Durante o interrogatório, outros três homens chegaram ao local e informaram que pertenciam ao Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Na ocasião, eles pegaram o celular da vítima para averiguar se ele estava envolvido no caso ou se tinha informações sobre o paradeiro de um outro homem.

Ao fim da ação, eles liberaram a vítima e, inclusive, lhe deram R$ 60 para que ele pegasse um ônibus rodoviário e retornasse para Caracaraí. Os dois policiais do Amazonas foram presos à época, após serem denunciados.

Fonte: https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2025/05/22/delegado-do-am-policiais-e-vereadora-sao-presos-pela-pf-por-sequestro-e-tortura-de-homem-em-roraima.ghtml

Ex-policial do BOPE é preso por treinar traficantes da segunda maior facção do país, no RJ

oc04101 Um ex-policial militar do BOPE, o Batalhão de Operações Especiais do Rio De Janeiro, foi preso nesta semana durante uma ação contra o tráfico de drogas. Ronny Pessanha de Oliveira, conhecido como “Caveira”, é acusado de usar sua experiência como policial de elite para treinar integrantes da segunda maior facção criminosa do país. Ele ensinava desde o manuseio de armas até táticas de guerrilha, de forma a garantir que os criminosos soubessem como enfrentar os rivais e as forças de segurança. Ronny foi detido na comunidade da Muzema, zona oeste do Rio, durante operação integrada das polícias Civil e Militar contra a dominação da região.

Psicólogo que torturou e matou ao menos 16 gatos é preso no DF

oc0331 Indiciado por maus-tratos e pela morte de pelo menos 16 gatos, o psicólogo Pablo Stuart Fernandes Carvalho foi preso preventivamente na noite desta terça-feira (25/3). O caso revelado pelo Metrópoles mostrou que o homem adotava gatos tigrados para fazer rituais macabros com os felinos.

Pablo Stuart estava na casa da mãe, que abriu os portões no momento da chegada dos policiais da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra os Animais (DRCA/PCDF). O suspeito não reagiu à prisão.

O inquérito policial que denuncia Pablo por tortura aos felinos foi enviado ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) na sexta-feira (21/3). O órgão formalizou a denúncia e encaminhou ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal. A corte aceitou e expediu o mandado de prisão contra o psicólogo.

O indivíduo está na carceragem do Departamento de Polícia Especializada (DPE), onde deve passar por audiência de custódia nesta quarta-feira

O que aconteceu

  • A Delegacia de Repressão aos Crimes Contra os Animais instaurou, em 13 de março, inquérito policial contra Pablo Stuart Fernandes Carvalho.
  • A DRCA havia apurado que, desde o ano passado, o psicólogo procurava protetores de animais pedindo para adotar gatos de pelagem cinza e rajada. Um mês após uma adoção, ele inventava histórias para as doadoras afirmando que os bichos haviam sumido e pedia outro animal.
  • Ele começou a adotar em setembro de 2024. De lá para cá, foram diversos gatos adotados, todos da mesma pelagem.
  • Pablo usava discurso emotivo para continuar adotando os bichinhos sem que as cuidadoras desconfiassem.
  • Após a divulgação inicial do caso, a maior dúvida era o que havia acontecido com os gatos. Agora, com áudios e depoimentos de testemunhas, a principal suspeita é que Pablo tenha matado ao menos 15 felinos.
  • Ainda não se sabe se o rapaz de 30 anos atuava com alguém ou sozinho. Também não é possível afirmar por que Pablo preferia gatos cinzas e rajados.
  • A defesa de Pablo nega todas as acusações.

Mais de 20 gatos

Protetoras que doaram gatos ao suspeito contaram que, após o Metrópoles revelar o caso, pelo menos outras cinco cuidadoras surgiram para relatar que também entregaram bichinhos para o autor. É possível que o número de gatos adotados, maltratados e mortos por Pablo passe de 20.

“Ao menos cinco protetoras nos procuraram nos últimos dias para contar a mesma história de que ele adotou gatos tigrados e cinza”, conta uma doadora, que solicita condição de anonimato.

As cuidadoras eram enganadas pela lábia de Pablo, que cumpria todos os requisitos para a adoção de cada gato. Em todos os casos, ele tinha de responder a um questionário de 16 perguntas informando dados pessoais e profissionais e dizendo os motivos para querer adotar os felinos.

“Além disso, pedimos vídeos e fotos da residência e fazemos acompanhamento pós-adoção. Ele era muito convincente em todas as questões”, explica a protetora.

Veja imagens de alguns dos gatos adotados por ele:

16 indiciamentos

O titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra os Animais (DRCA), Jônatas Silva, indiciou Pablo pela morte de 16 gatos. Agora, ele deve responder pelo crime de maus-tratos contra cada felino individualmente. O delegado também já pediu a prisão preventiva do suspeito.

CRP cancelado desde 2023

Psicólogo desde 2017, Pablo Stuart cancelou o próprio registro profissional no Conselho Regional de Psicologia do DF (CRP-DF), em 2023. O órgão reiterou que apura providências cabíveis para “reforçar a provocação às autoridades competentes” e demonstra solidariedade com aqueles que ficaram profundamente consternados com a situação narrada pelas reportagens.

“Este Conselho repudia qualquer ato de violência e crueldade e coloca-se à disposição para colaborar com as investigações”, frisa o CRP-DF.

Defesa

A defesa de Pablo Stuart foi contatada para falar sobre as novas denúncias. O advogado Carlos Silva negou veementemente todas as acusações e reiterou a versão de que os gatos fugiram no mês passado, em um momento de surto do rapaz.

Ele ainda destacou que o cliente encontra-se abalado e colhe prejuízos emocionais e financeiros com as denúncias. De acordo com Carlos Silva, o próprio síndico do condomínio em que Pablo mora poderia confirmar que os gatos nunca sofreram qualquer tipo de violência.

“Infelizmente, pessoas estão se aproveitando do episódio para lançar acusações absolutamente falsas e infundadas sobre um fato que nunca ocorreu. Além disso, de acordo com os depoimentos, é rigorosamente falsa a afirmação que ‘cadáveres de gatos’ teriam sido encontrados, próximo do residencial. Inclusive, a defesa pede que a PCDF examine todos os materiais coletados para comprovar que Pablo não tem relação com nenhuma atitude de maus-tratos. A defesa informa, ainda, que o cancelamento de registro de psicólogo de Pablo se deu de forma voluntária, pois, à época, atuava como consultor de RH em uma empresa e não tinha necessidade de realizar atendimentos clínicos e profissionais.“

Fonte: https://www.metropoles.com/distrito-federal/na-mira/psicologo-que-torturou-e-matou-ao-menos-16-gatos-e-preso-no-df

Policial federal é preso suspeito de facilitar embarque de drogas no Aeroporto de Manaus

 

Operação cumpre 175 mandados no RS, SC e PR contra esquema chefiado de dentro de presídio que movimentou R$ 32 milhões, diz MP

oc0322 Operação cumpre 175 mandados no RS, SC e PR contra esquema chefiado de dentro de presídio que movimentou R$ 32 milhões, diz MP

Cerca de 700 agentes foram mobilizados para cumprir as ordens judiciais. No estado, são 152 mandados de busca e 18 prisões. Organização criminosa contaria, inclusive, com a participação de um policial penal do presídio de Pelotas.

O Ministério Público (MPRS) realizou, nesta sexta-feira (22), uma operação em 13 cidades nos três estados do Sul do Brasil. A ofensiva mirou o esquema comandado por uma organização criminosa, a partir do interior do Presídio Regional de Pelotas, que viabilizava venda de drogas, ingresso com celulares no interior da cadeia, oferecimento de empréstimos a juros abusivos e lavagem de dinheiro.

Conforme o MP, o grupo teria movimentado mais de R$ 32 milhões com o esquema. Cerca de 700 agentes e um helicóptero foram mobilizados no cumprimento de mais de 170 ordens judiciais.

No estado, foram 152 mandados de busca e 18 prisões. Em Santa Catarina, foram dois mandados de busca, e no Paraná, dois mandados de busca e uma prisão – a do homem apontado como chefe do grupo criminoso.

Os crimes investigados são os de organização criminosa, lavagem de capitais, tráfico de drogas, corrupção ativa e passiva.

"O lucro obtido com o tráfico era usado para capitalizar a agiotagem e também para lavagem de capitais, assim como o dinheiro da lavagem e da agiotagem era utilizado para fomentar a venda de drogas. Tudo era retroalimentado pela organização criminosa", explica o promotor de Justiça Rogério Meirelles Caldas, que coordena as investigações.

O cumprimento das ordens judiciais nesta sexta está relacionado às operações Caixa Forte II e El Patron. Uma apura a venda de drogas e ingresso de materiais ilícitos para o interior do presídio de Pelotas – inclusive a com a participação de um policial penal. A outra investiga um "esquema de microcrédito" com juros de até 280%. (Saiba mais abaixo)

 

Operação Caixa Forte II

Na primeira etapa da Caixa Forte, foram apreendidos celulares, drogas, dinheiro e documentos. A partir da análise do material apreendido foi possível identificar a estrutura hierárquica do grupo, com núcleos que vão da gerência às finanças, envolvendo vários "laranjas".

Segundo a apuração, em 10 meses do ano passado, a organização criminosa movimentou R$ 2,6 milhões, somente com o tráfico e ingresso de celulares no presídio. Um policial penal colaborava com o grupo. Ele é um dos presos nesta sexta-feira.

Após revista no Presídio Regional de Pelotas, oito presos apontado como chefes do esquema foram removidos. Também houve revistas, devido à participação de outros detentos, na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) e Presídio Regional de Bagé.

Operação El Patron

O MP explica que, devido à grande movimentação financeira, foi necessário criar uma segunda operação para apurar a agiotagem e a lavagem de dinheiro. A organização criminosa também se envolvia com jogos de azar e rifas.

De acordo com o promotor de Justiça Rogério Caldas, o grupo utiliza um aplicativo para realizar "operações de microcrédito". Por meio de "laranjas", eles realizavam empréstimos com anúncios nas redes sociais e agiam como se utilizassem empresas especializadas regulares.

A apuração comprovou que os juros sobre os valores eram de 50%, 60%, 80%,100%. Em alguns casos chegava a 280%. Os devedores eram ameaçados e sofriam outros tipos de sanções por parte dos integrantes da organização, explica Caldas.

Do total de R$ 32 milhões movimentados, a maior parte era oriunda de empréstimos, jogos de azar, rifas e lavagem de capitais. A Justiça autorizou a busca e apreensão de 28 veículos e de quatro imóveis em Pelotas.

Outra forma de lavagem de capitais era por meio da aquisição ou investimento em empresas. O MP mapeou 10 estabelecimentos: açougues, frigorífico, uma imobiliária no RS e mais duas imobiliárias em SC. A prática também foi identificada por meio de depósitos em 1,3 mil contas bancárias em nome de "laranjas".

Fonte: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2024/11/22/operacao-cumpre-175-mandados-no-rs-sc-e-pr-contra-esquema-chefiado-de-dentro-de-presidio-que-movimentou-r-32-milhoes-diz-mp.ghtml

Servidores federais estão em banco de procurados pela Justiça e não são presos

oc03171 O g1 identificou nove servidores federais entre 149 mil procurados pela Justiça com mandados de prisão em aberto, segundo banco de dados oficial. Quatro respondem por crimes de estupro de vulnerável, ameaça e embriaguez ao volante, outros quatro por dever pensão alimentícia. Um servidor foi preso após reportagem questionar a polícia.

Pelo menos oito servidores públicos federais são procurados pela Justiça há meses, mas não são presos. É o que mostra um levantamento exclusivo feito pelo g1, a partir de informações de 149 mil mandados de prisão. Para especialistas, ter procurados no serviço público mostra que o Brasil enfrenta falhas na gestão de informações.

(ATUALIZAÇÃO: todas as polícias dos estados envolvidos foram procuradas pelo g1 antes da publicação da reportagem. Após matéria ir ao ar a Polícia Civil de Mato Grosso informou que prendeu um dos oito procurados. O vigilante da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Carlos José de Figueiredo, de 64 anos, foi preso na quinta-feira (13), em Cuiabá. Ele foi condenado por estupro de vulnerável a 12 anos de prisão.)

O levantamento considerou quase a metade dos 326 mil mandados de prisão existentes no país. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que tem os dados de todos os mandados, informou que não poderia fornecer detalhes dos 180 mil mandados que faltavam (clique aqui e veja como a apuração foi feita).

Os dados mostram que são procurados:

  • Um vigilante da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), condenado por estupro de vulnerável. Ele é procurado desde novembro para cumprir a pena de 12 anos de prisão.
  • Um assistente de administração do Instituto Federal de Rondônia (IFRO), procurado desde novembro para cumprir sete meses de prisão em regime semiaberto por embriaguez ao volante.
  • Um agente ambiental do Parque Nacional do Cabo Orange, no Amapá, que é procurado desde maio para cumprir um mês de prisão em semiaberto por ameaçar a ex-companheira.
  • Um auxiliar operacional que atua na Secretaria de Gestão Estratégica do Governo de Roraima, alvo desde setembro de um mandado de prisão preventiva numa investigação sobre estupro de vulnerável. Ele ainda não foi julgado. (leia mais aqui)
  • Outros quatro servidores— um professor substituto, um médico, um agente especial e um analista — são alvo de mandados de prisão pelo não pagamento de pensão alimentícia, uma prisão civil (não criminal) que é revogada assim que a pessoa paga a dívida.

Além deles, o g1 encontrou um agente de portaria de uma escola do Amapá que, desde 2019, era procurado em uma investigação sobre furto qualificado. Na quarta-feira (12), após a reportagem entrar em contato com a Polícia Civil do estado, o servidor foi preso. Ele também ainda não foi julgado.

Francineive Caldas da Silva, servidor procurado desde 2019 por furto qualificado, é preso após g1 questionar a Polícia Civil do estado — Foto: Reprodução/Polícia Civil do Amapá

Veja o vídeo:

Servidor federal procurado há cinco anos pela Justiça é preso no Amapá

Mesmo com mandados de prisão em aberto, a investigação ou condenação por um crime, não resulta automaticamente na perda do cargo público (saiba mais abaixo).

Para especialistas, há 'amadorismo' e 'falta de integração' na gestão pública

Para Rafael Alcadipani, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a dificuldade em cumprir mandados de prisão contra servidores evidencia falhas na gestão de informações pelo Poder Público brasileiro.

"Isso é uma amostra da dificuldade, do amadorismo com que a gente lida [com casos de pessoas procuradas pela Justiça]. Estamos na era digital, falando de inteligência artificial, enquanto o Estado brasileiro ainda é analógico na sua gestão de informações", afirma. Existe um descompasso gritante entre o que se tem de tecnologia e de possibilidade de gestão de dados hoje, e aquilo que a gente entrega para o cidadão. Não é razoável você supor que uma pessoa que está sendo procurada pela Justiça está trabalhando em uma repartição pública."

O presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol), Rodolfo Laterza, diz que "causa absoluta perplexidade que essas pessoas sigam trabalhando, já que possuem endereço fixo e poderiam ser capturadas, com o cumprimento da ordem judicial".

Segundo Laterza, a falha decorre de problemas na comunicação entre os órgãos.

"A integração das plataformas de bancos de dados entre o Poder Executivo [responsável pelas polícias] e o Judiciário [pelos mandados de prisão] enfrenta sérios problemas de execução. Para ter uma ideia, intimações policiais frequentemente chegam com atraso porque passam por vários setores antes de chegarem ao destinatário correto. Em alguns casos, o Judiciário até envia para o órgão errado."

Ao g1, o CNJ, responsável pela administração do Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP), afirmou que mantém um acordo que permite o acesso integral dos mandados com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).

O BNMP é um portal que reúne ordens de prisão do país e é acessível a qualquer cidadão. Cabe aos tribunais a alimentação dos dados, incluindo ou excluindo os mandados quando estes são revogados ou cumpridos.

Segundo o CNJ, cabe ao Ministério da Justiça repassar os dados do BNMP para todos os órgãos de segurança pública do país.

Procurado, inicialmente afirmou que não iria se manifestar. Após a publicação, o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que repassa as informações do banco aos órgãos de segurança pública, através da ferramenta Sinesp Infoseg, mas que "não possui competência para fiscalizar ou interferir na execução dessas ações".

Saiba quem são os servidores procurados e os crimes:

Vigilante de universidade de Mato Grosso foi condenado por estupro de vulnerável

Vigilante da Secretaria de Infraestrutura do Campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) desde 2005, Carlos Jose de Figueiredo foi condenado por abusar de duas vítimas em várias ocasiões.

Desde novembro de 2024 ele é procurado para cumprir uma pena de 12 anos de prisão em regime fechado.

O g1 esteve na universidade onde Figueiredo trabalha. O responsável pelo setor confirmou que ele trabalha na unidade, mas que não estava presente no momento. A reportagem tentou contato com o servidor por ligações e mensagens na quarta-feira (12), mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

A UFMT informou que repudia atos de violência e que "condutas de seus servidores fora das funções institucionais não podem ser alvo de processos administrativos, nos termos da legislação, cabendo à Justiça realizar os procedimentos legais". O Tribunal de Justiça do Mato Grosso e a vara responsável pelo caso afirmaram que o processo está sob sigilo.

Carlos Figueiredo, servidor na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) alvo de mandado de prisão — Foto: Reprodução/redes sociais

  

Auxiliar no governo de Roraima é investigado por estupro de vulnerável

Ivanildo Costa de Souza é funcionário federal desde 1984, e atua desde 1991 como auxiliar operacional de serviços diversos na Secretaria de Gestão Estratégica e Administração do Estado de Roraima, em Boa Vista.

Em setembro de 2024, o Tribunal de Justiça de Roraima expediu um mandado de prisão preventiva contra Souza, num inquérito em que ele é suspeito de estupro de vulnerável. Segundo o mandado, o objetivo é "evitar que novos crimes sejam praticados".

Ivanildo Costa de Souza, funcionário federal de Roraima, procurado por estupro — Foto: Reprodução/Redes sociais

Desde então, ele não aparece mais no local de trabalho, segundo colegas e o próprio órgão. Um processo administrativo disciplinar foi instaurado para avaliar o caso. O g1 procurou a defesa do servidor que disse que, devido ao sigilo do processo, não vai se manifestar.

O Tribunal de Justiça de Roraima e a vara criminal afirmaram que o mandado segue vigente.

Funcionário em escola do Amapá é preso após g1 questionar a polícia

Francineive Caldas da Silva é funcionário federal, e atua desde dezembro de 2023 como agente de portaria em uma escola municipal de Calçoene (AP). Desde 2019, ele é alvo de um mandado de prisão preventiva por supostamente ter se envolvido em um furto qualificado.

Segundo o processo, Silva e outros três homens teriam levado oito animais de grande porte de uma fazenda em Cutias (AP), a 354 km de Calçoene. O caso ainda não julgado, portanto, ele não foi condenado ou absolvido.

Na quarta-feira (12), após o g1 procurar a Polícia Civil do Amapá para questionar sobre o mandado, Silva foi preso.

O g1 não conseguiu contato com a defesa do agente de portaria. A Prefeitura de Calçoene informou que não tinha conhecimento da condenação. O Ministério da Gestão e Inovação, que é o atual responsável pelo contrato do servidor, ressaltou que as certidões criminais de Silva estão sem nenhum registro de crimes, e que iria buscar detalhes sobre o processo que resultou na prisão.

A certidão negativa de antecedentes criminais, em regra, considera apenas condenações definitivas, não levando em conta investigações em andamento, o que não se aplica a Silva neste processo.

Agente do ICMBio no Amapá foi condenado por ameaça

Agente temporário do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) no Parque Nacional do Cabo Orange (AP) desde setembro de 2023, Orleans Silva Morais foi condenado a um mês de prisão em regime semiaberto pelo crime de ameaça por ter ameaçado cortar a ex-companheira em 2019.

No regime semiaberto, o preso dorme na prisão, mas pode sair de dia para trabalhar ou estudar.

O mandado foi expedido em maio de 2024 e, segundo a Vara de Execução Penal de Macapá, segue em vigor.

O advogado de Morais, José Reinaldo Soares, afirma desconhecer o mandado de prisão.

Assistente de instituto federal de Rondônia foi condenado por dirigir bêbado

Assistente de administração no Instituto Federal de Rondônia (IFRO) desde 2011, Alecsandro de Goes Guedes foi condenado, em novembro de 2024, a sete meses e 25 dias de prisão em regime semiaberto por dirigir embriagado.

O g1 esteve no IFRO na quarta-feira (12) quando a chefia do setor em que Guedes trabalha informou que ele participaria de um evento. O servidor, entretanto, não apareceu. O g1 tentou contato com ele por telefone, mas as ligações não foram atendidas.

A Vara de Execuções Penais de Porto Velho disse que o mandado contra Guedes segue ativo. O Tribunal de Justiça de Rondônia não comentou sobre o caso.

O que acontece quando um servidor público é alvo de um mandado de prisão?

O g1 conversou com especialistas em direito administrativo para esclarecer quais são as consequências para servidores públicos que se tornam alvos de um mandado de prisão. Veja abaixo:

A perda do cargo é automática?

Não necessariamente. A investigação ou condenação por um crime não implica automaticamente na perda do cargo público.

Para que isso ocorra, é necessário um julgamento no qual o juiz declare expressamente essa decisão, levando em consideração a natureza do crime e sua relação com as funções exercidas pelo servidor, explica Cristina Braga, advogada especialista em servidores públicos e Mestre em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Em casos de crimes como tortura ou violência contra a mulher por razões de gênero, a legislação prevê a perda do cargo de forma automática, segundo Braga.

O Código Penal também prevê a perda de cargo caso o servidor seja condenado a pena superior a um ano por crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a administração pública; ou superior a quatro anos nos demais casos.

Além da expulsão do serviço público, outras punições que os servidores podem sofrer incluem advertência, suspensão de até 90 dias, e cassação da aposentadoria.

O que o órgão público pode fazer?

O órgão público pode abrir uma investigação administrativa independentemente do andamento do processo criminal.

Mesmo no caso de devedores de pensão alimentícia, se a inadimplência comprometer a moralidade administrativa ou afetar a imagem do serviço público, um processo disciplinar pode ser instaurado. Vale lembrar que a legislação permite o desconto da pensão diretamente na folha de pagamento do servidor.

Como o g1 descobriu servidores entre os procurados pela Justiça

Para identificar os servidores procurados pela Justiça, o g1 cruzou duas bases de dados: o Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP), mantido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e alimentado pelos tribunais, e a base dos servidores públicos federais, gerida pelo governo federal.

Os mandados de prisão podem ser consultados por qualquer pessoa no portal do BNMP de duas formas: individualmente, por meio de uma pesquisa pelo nome do procurado (ou outros dados pessoais, como CPF) ou pelo número do processo; ou por meio de uma API (sigla em inglês para Application Programming Interface - Interface de Programação de Aplicações), um sistema que permite baixar os dados de vários mandados, sem a necessidade de buscas individuais (o BNMP tem mais de 300 mil mandados de prisão.

Ao longo de quase cinco meses, a equipe do g1 utilizou a API, por meio de linguagem de programação, para baixar os dados do mandados. No entanto, o CNJ impõe restrições à extração de grandes volumes de informações. Por esse motivo, foram obtidos os dados de 149.341 mandados, dos 326.345 existentes à época em que o levantamento começou.

 

Depois, o g1 cruzou os dados desses 149 mil mandados de prisão com a lista de servidores federais da ativa do país que, quando foi baixada, tinha 762.657 nomes, comparando os CPFs que apareciam nas duas bases (na dos servidores, apenas parte do CPF é exibido).

Desse cruzamento, resultaram 13 casos em que, aparentemente, a mesma pessoa estavam nas duas bases. O g1, então, buscou informações sobre elas e sobre os mandados de prisão em outras fontes de dados, inclusive presencialmente, para confirmar as identidades e que esses mandados ainda estavam valendo.

Ao final, resultaram os oito casos citados nessa reportagem.

* Colaboraram nesta reportagem: Arilson Freires (g1 Amapá), Rafael Aleixo (g1 Amapá), Afonso Ferreira (g1 DF), Marco Antonio Martins (g1 Rio de Janeiro), Pollyana Araújo (g1 Mato Grosso), Stephane Gomes (g1 Mato Grosso), Victória Oliveira (g1 Mato Grosso), Mateus Santos (g1 Rondônia), Caíque Rodrigues (g1 Roraima), Sidney Silva (RN).

Fonte: https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/03/14/exclusivo-servidores-federais-procurados-pela-justica.ghtml?_gl=1*uto5xe*_ga*YW1wLWlEd3pEbFVmMHdZcWRRLU9naFhkV1NrM1BwVHJTYnFRbFVEei1ZbWwzSlRKMlVtWWpDVlJFOG1EVlNPNEVDNVI

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