Dois detentos do Instituto Penal Plácido Sá Carvalho, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, foram flagrados, na última segunda-feira, na área externa da unidade no momento em que lançavam drogas sobre o muro. De acordo com a Secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap), a equipe da Coordenação de Correição de Gericinó já monitorava a situação, realizou a abordagem e apreendeu 2,2 quilos de entorpecentes.
Os presos foram encaminhados para a 34ª DP (Bangu), onde foi feita a prisão em flagrante de ambos. A Seap informou que a Corregedoria da pasta instaurou uma sindicância para apurar as responsabilidades no caso.
Presos são flagrados jogando drogas por cima de muro de presídio no Complexo de Gericinó
Na terça-feira, uma nova ação foi realizada no Plácido Sá Carvalho. Durante uma revista, foram encontrados 37 celulares, 19 chips telefônicos, 1.200 papelotes de erva seca picada, 14 tabletes de erva seca, 5 pacotes com pó branco, 1.159 papelotes de pó branco e uma ampola de anabolizante. Parte do material estava enterrada na parte externa da unidade prisional e outra se encontrava no banheiro de uma área comum dos internos, não sendo possível identificar os responsáveis.
Todo o material foi encaminhado para a 34ª DP. A Corregedoria instaurou uma nova sindicância para investigar os responsáveis pelas irregularidades.
A Seap informou que já investigava denúncias relacionadas à entrada de materiais ilícitos no instituto penal e isso foi o que motivou a realização dessas duas ações.
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB) entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal que questiona trechos do pacote “anticrime” sobre o monitoramento das conversas entre presos e advogados no parlatório (local de encontro entre a pessoa presa e o visitante) das penitenciárias de segurança máxima.
A ação direta de inconstitucionalidade foi distribuída ao ministro Alexandre de Moraes, que, em razão da relevância da matéria, decidiu levar o caso diretamente ao Plenário, sem exame prévio do pedido de liminar, e pediu informações às autoridades envolvidas.
Sancionado em 2019, o pacote “anticrime” (Lei 13.964) trouxe diversas alterações no âmbito penal. As atualizações incluem mudanças na Lei de Execução Penal, de 1984, bem como nas regras sobre transferência, inclusão e monitoramento dos presos, com novos mecanismos de fortalecimento do combate ao crime organizado.
Monitoramento
Um dos trechos da lei que a OAB põe em xeque estabelece que, no regime disciplinar diferenciado, os detentos deverão ter todas as atividades monitoradas por áudio e vídeo, exceto nas celas ou durante as entrevistas de seus advogados.
Na ação, a OAB pede que o STF reconheça a inconstitucionalidade da parte da norma que afasta a prerrogativa do sigilo entre advogado e cliente. O órgão defende que as comunicações entre eles só sejam monitoradas quando houver indícios de que o advogado esteja envolvido em atividades criminosas. E também pede que as autorizações judiciais para quebra da confidencialidade sejam limitadas e individualizadas.
Segundo a entidade, o exercício da advocacia depende da preservação do sigilo profissional. “Isso é o mesmo que colocar a advocacia no banco dos réus e anular o direito de defesa inerente a todos os cidadãos processados e submetidos a penas restritivas”, diz a OAB.
A ação diz que as autorizações previstas na redação atual da lei se chocam com o direito ao silêncio dos detentos e com os princípios constitucionais da razoabilidade, da proporcionalidade e da ampla defesa. Com informações da assessoria de imprensa do STF.
Após ser flagrada com um celular em sua cela, a ex-deputada federal Flordelis dos Santos, de 63 anos, ela foi levada para atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Complexo penitenciário de Bangu, alegando tontura, dor de cabeça e pressão alta. A cantora gospel e pastora se encontrava em isolamento, após o aparelho ser encontrado em seus aposentos na noite de quarta-feira, 4.
Flordelis foi medicada e passou a noite na UPA, pois havia um exame Ecodoppler, que consiste em um ultrassom com imagens coloridas que mostram o fluxo sanguíneo no corpo, agendado pelo seu médico para sexta-feira, 6. Após a realização do exame, a ex-deputada retornou ao seu recinto sem apresentar os sintomas anteriores.
Além de Flordelis, outras três detentas ocupam a mesma cela, Alessandra Belmonte Sá; Fernanda Silva de Almeida, também conhecida como "Fernanda Bumbum"; e Ana Carolina Fonseca Tavares da Silva. A última alegou ser a dona do aparelho telefônico, por mais que o celular estivesse na cama de Alessandra. Um procedimento investigatório foi instaurado pela Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) visando determinar de quem de fato seria o telefone e como ele passou para dentro da prisão. Os benefícios das quatro presas foram suspensos.
Com um nível extremo de vigilância e controle, essas prisões costumam ter medidas rigorosas para evitar fugas e controlar o comportamento dos detentos.
Conheça alguns exemplos de prisões de segurança máxima nos EUA e presos famosos que estiveram — ou ainda estão — por lá!
ADX Florence (Florence, Colorado): Conhecida como 'Alcatraz das Montanhas Rochosas', essa penitenciária é considerada a prisão federal de segurança máxima mais segura dos Estados Unidos. Foi inaugurada em 1994.
Os detentos da ADX Florence vivem em isolamento quase total, com pouquíssimo contato humano. Suas celas são projetadas para minimizar qualquer possibilidade de fuga e são monitoradas 24 horas por dia.
Abriga criminosos famosos, como o traficante mexicano 'El Chapo' Guzmán, o terrorista americano Theodore Kaczynski ('Unabomber' - foto) e o terrorista paquistanês Ramzi Yousef.
USP Marion (Marion, Illinois): Originalmente uma prisão comum, a USP Marion foi transformada em uma prisão de segurança máxima após incidentes violentos na década de 1980.
É conhecida por ter introduzido o conceito de “Supermax” nos EUA, com regime de confinamento prolongado e isolamento rigoroso.
USP Leavenworth (Leavenworth, Kansas): É uma das prisões federais mais conhecidas e antigas dos Estados Unidos, operando desde 1903.
Embora ela já tenha sido considerada a maior prisão de segurança máxima do país, atualmente opera como uma instituição de segurança média.
Entre os notáveis presos que passaram por Leavenworth estão 'Machine Gun' Kelly (famoso gângster da era da Grande Depressão) e Carl Panzram (assassino em série confesso, conhecido por ter matado dezenas de pessoas - foto).
USP Atlanta (Atlanta, Geórgia): Fundada em 1902, essa penitenciária se destacou tanto por seu tamanho quanto por sua arquitetura imponente e foi planejada para abrigar um grande número de detentos com um nível de segurança elevado.
Ao longo de sua história, a USP Atlanta já abrigou criminosos de renome, incluindo mafiosos, traficantes de drogas e até prisioneiros de guerra durante a Segunda Guerra Mundial.
Entre seus presos mais notórios, destaca-se o famoso gângster Al Capone, que ficou brevemente em Atlanta antes de ser transferido para Alcatraz.
San Quentin State Prison (San Quentin, Califórnia): Fundada em 1852, é a penitenciária estadual mais antiga da Califórnia, conhecida principalmente por seu corredor da morte — a prática foi suspensa em 2006.
Na foto, um exemplar de como era a câmara de gás utilizada na prisão para executar presos.
Tem uma capacidade oficial para cerca de 3.000 detentos e abrange diferentes níveis de segurança, embora seja mais conhecida como uma prisão de segurança máxima para criminosos violentos.
Alguns dos criminosos mais famosos que passaram por lá são: Charles Manson (morreu em 2017 - foto), líder de um culto responsável por uma série de assassinatos brutais nos anos 1960, e Sirhan Sirhan, assassino do senador Robert F. Kennedy.
USP Florence High (Florence, Colorado): Faz parte do complexo penitenciário conhecido como Florence Federal Correctional Complex (FCC Florence), que inclui também a famosa ADX Florence.
Embora tenha um nível ligeiramente menor de segurança do que a ADX Florence, a USP Florence High é igualmente rígida, projetada para abrigar prisioneiros de alta periculosidade.
Tyler Rutherford Unsplash
O terrorista Sayfullo Saipov, condenado a mais de 10 prisões perpétuas por dirigir uma picape que matou oito pessoas em 31/10/17, em Nova York, é um dos criminosos mais célebres que estiveram na USP Florence High.
Na manhã desta sexta-feira, 22 de novembro, um homem de 35 anos, acusado de sequestro e homicídio em Paranaguá, foi encontrado morto dentro da Penitenciária de Piraquara. O detento, identificado como Anderson Luiz Marcondes Junior, de 35 anos, conhecido como “Tonhão”, estava preso por envolvimento no sequestro e morte de Rodrigo Cesar de Oliveira Soares, de 43 anos, ocorrido em 13 de agosto deste ano.
A Polícia Civil capturou Anderson em 1º de novembro de 2023, em uma casa na Rua dos Flamingos, no bairro Jardim Esperança, em Paranaguá. Ele foi preso assim que saiu da residência para receber um produto solicitado pela internet. A operação, coordenada pelo delegado Ivan da Silva, contou com o apoio da Força Nacional de Segurança. Antes de Anderson, outros três envolvidos no assassinato já haviam sido presos.
O delegado Ivan da Silva destacou a importância do trabalho da equipe de policiais civis de Paranaguá, que monitorou o local onde Anderson estava escondido. “Nossa equipe descobriu onde ele estava escondido e ficou monitorando o local”, afirmou o delegado. Ainda há um quinto suspeito foragido, com quatro mandados de prisão em aberto por crimes violentos na região sul.
A Polícia Civil descobriu que o homicídio de Rodrigo Cesar de Oliveira Soares, que havia recém saído da cadeia, foi motivado por uma guerra entre facções ligadas ao tráfico de drogas na cidade e a disputa por pontos de venda.
Não se sabe ao certo o motivo da morte de Anderson. Familiares souberam da morte e entraram em desespero na manhã desta sexta-feira na Ilha dos Valadares. Algumas pessoas relataram ter visto uma pessoa caída no chão e outras pessoas próximas chorando. Uma equipe da ROMU foi até o local, mas os familiares disseram que estava tudo bem.
As autoridades estão investigando as circunstâncias da morte, a Polícia Civil continua a investigar o caso e pede que qualquer informação relevante seja comunicada às autoridades.
No coração de Minas Gerais, a cidade de Barbacena guarda em sua memória um capítulo sombrio da história brasileira: o Hospital Colônia, uma instituição que funcionou entre 1903 e 1980 e se tornou um símbolo de horror e desumanização.
Dentre a situação precária até a exploração dos internos, o local virou cenário de um dos episódios mais obscuros da história do país.
Definido por muitos como um “depósito” de desajeitados, o hospital abrigou desde pacientes com quadros psiquiátricos até crianças com alguma deficiência motora.
No local, também havia aqueles que não tinham nenhum problema de saúde, mas que, graças a um acontecimento da vida, acabaram internados.
Um exemplo disso eram as mulheres que engravidavam antes do casamento. Por não seguirem as normas sociais, por que não mandá-las para o Colônia?
Um dos pátios do Hospital Colônia - Luiz Alfredo
As atrocidades cometidas inspiraram o ilustre livro "Holocausto Brasileiro", da jornalista Daniela Arbex, um relato contundente das condições precárias, da violência e da negligência que marcaram a vida de inúmeros pacientes.
No último dia 25, foi lançado no streaming da Netflix o documentário de mesmo nome do livro, que explora detalhes do que realmente aconteceu no Hospital Colônia, reunindo antigos funcionários, jornalistas, fotógrafos, e, claro, ex-internos. No documentário, alguns dos ex-internos desabafaram sobre o que viveram.
Meninos de Oliveira
No começo da década de 1970, dezenas de menores de idade foram transferidos do Hospital de Neuropsiquiatria Infantil de Oliveira para o Hospital Colônia. Conhecidos como os meninos e meninas de Oliveira, essas crianças sofreram tudo aquilo que os outros internos viveram: o abandono e maus-tratos.
Antônio da Silva, um ex-menino de Oliveira - Divulgação / Netflix
No documentário, alguns deles foram entrevistados, revelando ao público as 'motivações' das internações, que evidenciam o abandono dos pais ao terem filhos com problemas psicológicos.
Antônio da Silva, um ex-menino de Oliveira, contou que chegou ao local aos 12 anos. Filho de pai adotivo, ele foi enviado para o primeiro hospital por ele, já que a mãe morreu durante o parto.
A gente tomava injeção de impregnar, o corpo da gente ficava torto. A gente fazia força para descer o braço, assim, não conseguia, doía muito. Dava choque lá. A gente ficava no pátio, ficava pelado. Ficava na cela pelado também. Jogavam água na cela, eu ficava dentro d’água na cela. Ficava apanhando lá”.
Já Geraldo Antônioda Silva revela que chegou ao Colônia enviado por sua madrinha, que alegava que ele era muito travesso — além disso, tem uma deficiência no braço direito.
Geraldo ajudou os responsáveis pelo choque ao segurar os internos. “Às vezes, o choque passava pra gente, sabe? [...] Conforme a intensidade do choque, passava pra gente”.
Um dos casos mais comovente do documentário é o de Manuel Nascimento, que afirma ter tomado “injeção de entortar” e que quase “beirou” a morte. Ele conta que apanhou muito no Colônia, tudo isso à toa.
Fazia faxina e alega não ter sido um menino de muita bagunça, mas, ainda assim, apanhava. O pai de Manuel que o enviou para o Colônia e hoje, ainda internado em uma instituição psiquiátrica, ele desabafa:
Ninguém veio me visitar, nem aqui, nem lá. Ninguém. Eu tô com saudade do meu pai até hoje”.
Manuel Nascimento, outro ex-menino de Oliveira - Divulgação / Netflix
Eliza Campos Silva, uma ex-menina de Oliveira, relatou ter sido internada e disse ter passado fome. Assim como outras crianças, ela também foi internada pelos pais.
O reencontro
Além do caso das crianças de Oliveira, o documentário exibe uma história tocante e emocionante — mas, com certeza, triste. João Bosco e a mãe foram separados graças a uma irmã da igreja católica.
Geralda Siqueira foi uma ex-interna que viveu no Colônia sem apresentar nenhum tipo de problema psiquiátrico ou físico. Quando muito jovem, ela foi abusada sexualmente pelo patrão, um advogado que a contratou para ser empregada doméstica.
João Bosco e a mãe, Geralda - Divulgação / Netflix
Para se livrar de Geralda, o patrão a enviou para o Colônia. No local, ela teve o filho, João Bosco. A mulher trabalhava no berçário, até que, um dia, a freira responsável pela área enviou João e outras crianças para o Pinheiro Grosso, um abrigo, a FEBEM. Após questionar o envio do filho, a irmã a mandou para levar choque.
Me arrastaram para a sala de choque. Ela me deu um choque. A irmã Tereza. Aí, ela virou e falou comigo assim: ‘Aqui, você não volta mais, não, porque se você voltar aqui outra vez, vou te por no pátio’. Aí nunca mais tive contato com ele [João Bosco]”.
Mãe e filho ficaram separados por mais de 40 anos, no entanto, o corpo de bombeiros de Minas Gerais localizou Geralda em 2011 e promoveu o reencontro entre mãe e filho.
‘Holocausto Brasileiro’
O documentário disponível na Netflix é produzido por Alessandro e Daniela Arbex,Roberto Rios e Maria Angela de Jesus. Focando em contar detalhes do horror que matou mais de 60 mil pessoas ao longo de diversas décadas, a produção reúne um grande grupo de especialistas e pessoas que viveram no Colônia para relatarem aquilo que viram durante o século 20 em Barbacena.
O documentário se encerra com a seguinte dedicatória:
“Este filme é dedicado a todas as vítimas do Colônia e aos sobreviventes dessa tragédia por sua coragem de romper o silêncio”.